Nove: Fade in Time

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https://open.spotify.com/playlist/1BbUwXg84QBvOsJ6pBeV5t?si=XYXaI-LORAuqxk7oQ_-AOA&pi=u-G-84BBrgSI2T
Fiz uma playlist bem divônica para a fanfic, aliás, estou toda felizinha de ter voltado a escrever. Amo o crescimento orgânico que temos.



Will não conseguia colocar em palavras seu tormento, a forma como imediatamente se arrependeu de ter soltado de forma espontânea sobre o simples fato de que todos os seus pesadelos pareciam vivos e prestes a o engolir. Outrora, as mãos tremendo como se este fosse um grande alcóolico, Hannibal Lecter engolia sua satisfação através de uma expressão compassiva, observando como lentamente todas as muralhas do agente do FBI eram postas a jogo, derrubadas. Ele sabia que aqueles medos, pesadelos e todo o resto eram reflexos da encefalite que Will teve anos atrás, sabia que se estimulasse o suficiente, ele poderia fazê-la retornar e mesmo que isso fosse de seu interesse comum, não conseguia imaginar um outro transtorno quando Abigail estava ocupando muito do tempo de ambos.

— Você já frequentou a terapia, Will? — Ele questionou de modo suave, não revelando nada senão um tom de voz pacífico e tranquilo. Não queria o assustar ou parecer solicito demais. Precisava ter cuidado com Will.

— Terapia não funciona comigo, Doutor. Não me apetece a ideia de sentar na frente de um desconhecido e revelar tanto sobre mim sem saber nada sobre a pessoa. — Era compreensível até certo ponto a maneira como ele não gostava de se expor. Mesmo precisando de uma avaliação mais profunda, Hannibal compreendia que se passasse verdadeiramente por alguns profissionais, Will receberia um diagnóstico de TEA.

— Acredito que sempre exista um tipo de profissional o qual você se identifique melhor, Will. Embora, eu saiba que os que o FBI fornecem, não sejam dos melhores. — Não era do feitio de Hannibal criticar tão abertamente colegas, mas conseguia entender que terapia cognitiva comportamental não faria nada senão trazer tremenda agonia para todas as almas perturbadas e quebradas que Jack Crawford tentava sem sucesso remendar após já ter feito o grande estrago.

Havia acontecido o mesmo com Miriam Lass, que antecedeu Will Graham. Após ter chego perto demais de quem realmente era o famoso Estripador de Chesapeake, o psiquiatra teve de dar um jeito nela. A manteve viva por algum tempo, brincou de gato e rato com Jack Crawford, até verdadeiramente se cansar e oferecer um banquete para seus convidados de mais alta estima. Tinha sido um bom jogo, mas mostrava os padrões do diretor do FBI. Quando as coisas se tornaram graves demais, uma equipe especial precisou entrar no caso, e para se preservar, Hannibal deixou seus porcos de lado.

Suas vítimas.

Mas esse era Jack, Miriam tinha algo especial na mesma proporção de Will. E ele usou cada espaço de sua mente, preenchendo com coisas mórbidas, a fazendo ter aversão à normalidade, sobretudo, a paz de espírito e mente. Enquanto presa com Hannibal, o psiquiatra avaliou seu estado, se era possível a moldar através de fototerapia e após algumas sessões sem progresso, ela se tornou seu troféu vivo. De alguma maneira, conseguia entender o porque de Crawford prezar tanto pela vida dela, em contrapartida, a mulher não passava de uma criança inexperiente apesar de seu infindável talento em rastrear um serial killer. Alguns anos após, ele soube que tinham um novo membro, mas nada parecia tão interessante na época senão sua paz de espírito em permanecer fora de foco do FBI.

— Conversei algumas vezes com Alana Bloom e... É estranho. — A resistência dele tinha motivos então, e por mais que tivesse feito parte da vida profissional da Doutora Bloom, ele compreendia exatamente os motivos de Will. Bloom era adepta de uma terapia excessivamente positiva e pelo que sabia, sem muitos detalhes, tinha sido responsável pela terapia de Abigail alguns anos antes.

— Como eu disse, alguns métodos de terapia se mostram ineficazes para determinadas individualidades e isso é normal. Eu, por exemplo, não me identifico com métodos excessivamente positivos, gosto de compreender a raiz do problema, sejam meus ou de meus pacientes. — E era verdade. Seus métodos não convencionais traziam o diferencial de sua terapia, Hannibal sabia que o valor de sua hora não resumia a consulta em apenas uma receita de remédios, mesmo que suas sessões com Bedelia, sua terapeuta, fossem mais como uma conversa informal regada a qualquer vinho caro que lhes estivesse a disposição.

State of Grace | HannigramOnde histórias criam vida. Descubra agora