Dez: Never Saw You Coming

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Terçou e isso significa capítulo grandão para vocês como brinde de final de semana! Espero que estejam gostando. Meu twitter é @kylocunt e eu tô quase sempre por lá! Saibam que graças a esse pico de criatividade, a revisão de Wildest Dreams vai demorar mais um pouquinho, hehe. Aliás, se eu escrevesse um spin-off vocês leriam?


De volta a sua rotina exaustiva enquanto esperava pela cirurgia da filha, Will Graham já se sentia novamente dependente de analgésicos como um viciado. Não era novidade seus abusos, mas a dor de cabeça constante parecia um ciclo vicioso e trazia um gosto amargo ao céu de sua boca. Era quase impossível não sorver de dois ou três comprimidos de uma única vez com sua costumeira garrafa de água descartável que apenas se tornava útil em tais horas. Por ele, tomaria seus remédios com o mais forte uísque da Virgínia. A relação com Hannibal lhe parecia muito menos ofensiva agora que desvendava vagarosamente a faceta do médico. Will sabia definitivamente como ser cínico e guardava mais do que imaginava observar. Os trejeitos absolutamente calculados de Hannibal não passaram despercebidos. Mas ele o entendia como uma criança tentando se encaixar através da gentileza. 

Ele ainda repassava o momento do supermercado na cabeça, viu Hannibal se sentir extremamente hostil e invadido com base em seu desconforto evidente. Will imaginava se todos os pacientes de Lecter o viam da mesma forma, como uma figura fraternal em uma necessidade exagerada de comunicação física. Mesmo que não sentisse o desejo de tocá-lo, de estar por perto, talvez até mesmo por auto preservação, o agente do FBI entendia o magnetismo exacerbado. Não deveria se ofender com as posses de Hannibal ou sequer sentir estar sendo vítima de caridade. As coisas eram o que eram e ele não hesitaria em salvar a vida de sua Abigail. Era até mesmo mais leve dividir todo o fardo de sustentar uma responsabilidade emocional gigantesca com alguém além de Beverly, que já tinha muito com o que se preocupar. 

Hannibal parecia se importar não somente com Abigail, mas com o bem estar geral daquele núcleo familiar e ele se questionava se tudo aquilo não viria com um preço, mas era inegável que desabafar com o médico tinha tornado tudo real. Seus pesadelos, seus medos, o fato de estar evidentemente enlouquecendo de uma maneira gradativa com tanta pressão. Jack  Crawford, após alguns dias de folga, requisitou sua presença e mesmo não tendo impondo de maneira afirmativa, ele sabia que teria de retornar. 

E assim, Will o fez.

Estavam no Museu de História Natural local, onde o crime mórbido havia acontecido. Sem notícias do Estripador e completamente certos de que aquele não era um de seus modelos, rapidamente Will descobriu o motivo e o próprio criminoso, mas tudo parecia tão bem estruturado, a maneira como soava falso após passar tantas horas identificando as obras macabras do assassino que agora perseguia seus piores pesadelos em busca de se alojar dentro de sua mente sorrateiramente. 

Parecia falso. Moldado. 

E mesmo após entregar os resultados a Jack, ele decidiu voltar na cena do crime. Sentia que estava deixando algo passar, que não era justo e não parecia sólido um jovem com absolutamente todos os anos de vida, um futuro brilhante pela frente, cometer algo tão absurdo como aquilo. Empalhar pessoas de maneira tão cruel. Contudo, sua ideia saiu completamente fora de controle quando acordou horas mais tarde na porta de Hannibal Lecter. Ele sentia ter apagado completamente, inapto e inconsciente de sua mente, ainda continha a mesma sensação de insuficiência naquele maldito caso. Talvez fosse muito para processar no momento, mas era aterrorizante o fato de que a pessoa a qual de alguma maneira seu cérebro procurou, foi o médico. Will estava com frio, seus dentes colidiam e ainda usava as mesmas vestes inapropriadas para o horário. Estava sob muito estresse, era complicado processar cada uma daquelas emoções.

Mesmo ponderando não entrar, ele precisava conversar com alguém devidamente são. Abigail estava em casa, segura, ela não se preocupava com os horários excepcionais do pai dado seu trabalho consideravelmente peculiar e isso era definitivamente um peso a menos. Ainda assim, o dever e a obrigação eram fios que perduravam do mais íntimo corredor da mente de Will. Havia todos os motivos pelos quais ele poderia desejar simplesmente dar as costas, mas não se recordava onde estava seu carro, não se recordava de absolutamente nada senão o momento em que havia pisado no museu ainda coberto pela fita amarela. 

State of Grace | HannigramOnde histórias criam vida. Descubra agora