17. para não dizer que não falei das flores

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Meus olhos são forçados a abrir com os raios de sol persistentes na janela. Assim que minha visão se familiariza ao local, percebo que estava deitada em uma cama de hospital, haviam flores na bancada ao meu lado, tulipas, minhas preferidas. Meu corpo estava conectado a um soro que pingava, incessantemente, o relógio redondo, apático, branco com números pretos marcavam 9:00.

Uma mulher entra no quarto, suas vestes denunciavam que se tratava de uma enfermeira e assim que percebe meus olhos abertos abre um largo sorriso.

–Que bom que acordou, menina, vou chamar um médico para avaliar, você.

A mulher saiu mas não tardou a voltar com um homem alto de olhos azuis e vestes brancas com um estetoscópio pendurado no pescoço.

–Zoe Smith.–Me assustei, não me encontrava mais em Moscou.–Não se assuste, querida, você está segura e ninguém irá te fazer mal algum. Zoe, você consegue me entender?

–S-s.–Nada

minha voz não saia, me desesperei, e esse desespero foi denunciado pelo monitor ao meu lado que media minha frequência cardíaca.

–Calma, filha, você perdeu muito sangue, passou 20 dias no hospital, em coma, é normal que esteja assim, mas iremos trabalhar para que logo mais você volte a falar.–O médico dá um sorriso tranquilizador.–Irei fazer uns exames e deixarei você para descansar um pouco.

Assim que o médico deixa o recinto, me encontro sozinha com meus pensamentos, que me atacam feito bolas de canhão. Harry Styles. Esse nome faz meu peito gritar o que minha boca não conseguia mais, o gosto amargo da traição, tristeza, tudo se misturavam em um só.

3 semanas depois

Faziam 3 semanas que eu estava me recuperando no hospital, minhas visitas foram suspensas pois não queriam que eu tivesse fortes emoções e retrocedesse no tratamento, mas finalmente estava tudo indo bem, já tinha feito amizade com a maioria das enfermeiras, as unicas informações que elas me passaram era de que  não nos encontrávamos mais em Moscou, e estávamos seguros em uma parte desconhecida de Londres e logo eu saberia de tudo.

-Animada para começar as visitas?- Mary a enfermeira que tinha se tornado uma bela amiga nos últimos dias fala com seu típico sorriso.

-Não sei quem me visitaria, todos que achei que eram meus amigos no final do dia me trairam.

-Não diga isso, menina, você é muito amada, olhe essas flores, elas não param de chegar.-Mary apontou para as tulipas que chegavam todos os dias nos horários de visitas, não tinha nenhum cartão de visita

Aquelas palavras doeram, eu sabia que era mentira, foram 3 semanas tentando selar as crises de ansiedade e os pesadelos com aquela noite do ateliê, ao lembrar das palavras de Simon, o olhar de Harry, o tiro, o sangue quente que escorria na minha blusa, tudo culminavam em uma gama de cenas
  O horário de visitas começaria aquele dia e o doutor me medicou alguns chás para que eu me acalmasse, eu não poderia sofrer de certas emoções, mas meu coração foi quase pela boca ao ver minha amiga parada na porta do meu quarto.

-Rosalinda? O que faz aqui? como sabe de tudo?

-Zoe, minha amiga!– A russa parte para um abraço caloroso.– que bom que você está bem,  sei que pairam muitas perguntas sem respostas na sua cabeça agora, mas tudo vai ser respondido.

–Vai ser respondido agora, como descobriu tudo e chegou até aqui?

–Zoe, os médicos pediram para que eu não abordasse esses assuntos com você agora.–Rosa lança um olhar preocupada para mim.–Mas você é minha amiga e merece a verdade.

Rosa me contou que foi ao ateliê naquela madrugada aos prantos, o pai havia descoberto seu antigo caso e queria garantir que a filha se cassasse para que os rumores não começassem. No entanto, o que ela viu aquela noite foi Harry e Zayn discutindo o que fariam e eu caída no chão, eles tentaram despista-la, mas ao perceber que ela não iria embora, deixaram ela ajudar.
   A russa contatou um médico confidente da família, um velho amigo e confidente, enquanto Harry garantia o meu transporte sigiloso para fora de Moscou o quanto antes.

–Você não ficou decepcionada quando descobriu a verdade?–Não tive coragem de olhar nos olhos da minha amiga.

–No momento sim, mas lembrei que era apenas uma guerra entre dois países e somos apenas peões em seus jogos de poderes, lembrei que você foi a única que me apoiou quando soube do meu segredo, fora que foi minha porta de saída de Moscou e agora finalmente estou livre.–Ela sorri enquanto segurava forte minhas mãos.

–Fico feliz com isso, eu não estaria viva se não fosse por você, Rosa.

–Harry e Zayn também a ajudaram, eles não saíram de perto de você no período que estava em coma, estavam muito preocupados com sua saúde, e se me permiti dizer, eu achava que se você batesse as botas Harry acharia um jeito de ir junto a ti.–Ela dá uma risada anasalada–No final das contas eu estava certa, hun?

–Você não poderia estar mais errada, Rosa.–Digo ríspida.– Harry foi o responsável pela morte do meu pai, descobri isso no dia que levei aquele tiro, Simon meu antigo chefe revelou.

–O quê?–Ela engasga com a fala.–Desculpa,Zoe, mas é difícil de acreditar que Harry faria algo para te prejudicar, vejo nos olhos dele, fora que você irá acreditar num homem que deu um tiro em você? Acho que Harry merece o benefício da duvida.

Não respondi, talvez Rosa estivesse certa, mas meu ego era maior para admitir isso, fora que eu deveria focar na minha recuperação e sentimentos como aqueles que Harry me trazia não iriam me ajudar nesse processo.

–Tenho que ir agora, mas prometo voltar amanhã.

–Obrigada Rosa. A propósito, obrigada pelas flores, tulipas são minhas preferidas.

–Desculpa Zoe, mas eu não mandei flores.–Ela ri.–Mas os chocolates foram meus sim.

Rosalinda sai me deixando mais uma vez com meu turbilhão de pensamentos em meio a duzentas tulipas no quarto.

My dark secret Onde histórias criam vida. Descubra agora