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San fechou o registro no chuveiro após o milésimo grito de Dona Maria mandando ele desligar o registro antes que acabasse com a água do mundo, sendo que, ele como um bom estudante de Engenharia, sabia muito bem que o que consumia mais água ao ponto de torná-la escassa não era pessoas como ele.

Empurrou a porta sanfona vestindo uma bermuda e uma única toalha pendurada no ombro que utilizava para secar os seus cabelos molhados. Estava grato porque era sábado e, além de folga no supermercado onde trabalhava, não tinha que pegar três baldeações e um ônibus para ir pra UFSP.

Nos finais de semana que não estava no trabalho, ele tinha alguns compromissos fixos como: acompanhar Mingi na busca de uma roda de pagode, chamar Mingi para almoçar e depois subir morro pra empinar pipa e dar reló ou ajudar a sua avó com o restaurante caso o movimento estivesse bombando.

Mas, por alguma razão, Mingi decidiu que ele não queria sair do apartamento naquele dia de sol. Ele informou por mensagem que estava ocupado terminando um trabalho que era para segunda, embora tenha tido mais de três semanas as quais ele decidiu procrastinar ao invés de focar em suas obrigações universitárias.

Conhecidos na rodinha como "As Patricinhas de Beverly Hills", Seonghwa e Yeosang nunca iriam até a Brasil sem ter um pretexto suficientemente válido. Eles sempre reclamavam da distância, mas a verdade era que aquele não era o mundo deles. Estavam acostumados com cidades planas e apartamento com ar-condicionado; San não tinha ideia de como era amigo de pessoas tão diferentes dele, porém, de algum modo, acreditava que se combinavam.

Os dois possivelmente iriam estudar em alguma cafeteria no centro de São Paulo. Ambos possuíam sorte de ter um ao outro, pois se complementam em costumes e em hábitos, eram mentalmente semelhantes e alérgicos ao calor paulista na mesma proporção.

— Samuel! — sua avó gritou da cozinha, que não era muito longe do corredor onde ficava o banheiro e dois quartos pequenos. — Tem um moleque te chamando no portão! Você é surdo, menino?

Dona Maria era doce tanto quanto era ríspida e impaciente. San achava engraçado o seu jeito arisco e gostava que, quando ia abraçá-la depois de pedir a benção, ela dava risada e uns tapas ao mesmo tempo para que ele parasse de grude.

— Tô descendo! — avisou e pendurou a toalha do Verdão nas costas do sofá que era forrado por uma capa artesanal feita pelas mãos talentosas de sua avó.

Sua casa — ou barraco de telha, como chamava — era composto por poucos metros quadrados, ficava em cima do pequeno restaurante de sua avó e as paredes recém ganharam tinta e reboco. Eram três cômodos; a sala e a cozinha constituíam-se em um único espaço jeitoso com praticamente todos os móveis usando "roupinhas" de crochê e decorados com panos de prato pintados e bordados à mão. O seu quarto ficava depois do curto corredor onde se localizava o banheiro com porta de sanfona e, por fim, o espaço de sua avó composto por uma TV de tubo sob uma estante que ficava no espaço do armário que estava com a perna frouxa e inclinava para os lados, uma cama de casal e retalhos para novos trabalhos de costura.

Samuel correu pelas escadas que terminavam no portão de grade azul, amarelo e verde, ainda decorado por causa da Copa do Mundo. Suas expectativas eram encontrar: 1) o homem que "media a água", o da SABESP; 2) uma amiga secular de sua avó; 3) Miguel que, supostamente desistiu de terminar o seu trabalho para ir procurar roda de samba.

Para sua total indignação e insatisfação, não era nenhuma das opções e sim William Wooyoung Jung cheio de marra mostrando que não iria meter o pé dali até que fosse recebido pela pessoa que supostamente ele foi visitar.

Bem, há uma semana não falavam um com o outro. Após o episódio embaraçoso no ônibus lotado, Samuel fugia de William como o Diabo foge da Cruz. Foi assim por todos aqueles dias, e seria até a tão esperada final do Brasileirão.

REVOADA | WOOSAN 💯🇧🇷Onde histórias criam vida. Descubra agora