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San gostava de empinar pipa sempre que aparecia a oportunidade.

Ele recebeu folga no mercadinho onde era repositor e o restaurante de sua avó iria estar fechado em virtude do feriado. Mesmo assim ele acordou cedo — na verdade seria mentira dizer que ele pregou os olhos.

Não gostava de reconhecer, mas seus pensamentos invasivos estavam morando dentro do Corsa vermelho do comparsa que morava três ruas abaixo na quebrada. O beijo e os toques despudorados de Wooyoung, seu olhar felino e predatório e os gemidos melódicos que deixavam San entorpecido. Por causa dessa memória mais do que palpável, San acordou com o seu brinquedo mais duro que o normal marcando a bermuda na manhã seguinte.

Os moleques estavam "hospedados" em sua casa. Haviam colchões reserva para aquele tipo de ocasião porque desde que San era criança, ele sempre teve muitos amigos. Se não era a "torcida organizada do palmeiras" que a Dona Maria tanto reprovada, a molecada do bairro, eram os meninos da UFSP que não sabiam sequer pegar um ônibus, um de cada canto do país e repleto de traços regionais marcantes como se fosse estereótipos ambulantes.

Deixou Yeosang e Seonghwa dormirem em sua cama que era confortável, tinha molas e não dava dor nas costas, comprou em uma Black Friday com a ajuda de seus pais. Mingi ficou em um colchão no chão e San, do lado dele em outro.

Acordou primeiro que todos e observou Seonghwa abraçado em Yeosang como se ele fosse um ursinho de pelúcia. Apesar de estar aninhado ao gaúcho naquela hora, o curitibano o chutou quase a noite inteira antes de aceitar a sua sina de servir de travesseiro humano para o seu amigo meloso. Os quatro discutiram na noite passada e Seonghwa brigou com todo mundo por aquela posição.

San cogitou que devia ser confortável dormir agarrado com alguém. Ele namorou uma ou três pessoas na vida, mas teve rolo com um monte e nunca de fato soube o que era se envolver com amor. Quando percebia, era só paixão momentânea ou tesão porque era difícil segurar o pau dentro das calças. Com a idade que ele tinha, isso era naturalmente normal.

Seonghwa estava quentinho, ele e Yeosang dividiam um edredom da Dona Maria sem disputar por ele. Quando San dormia com Mingi, era uma luta de pés e por espaço e no final, Mingi acordava encolhido em um canto da parede porque não sabia se impor nem mesmo quando estava dormindo. Tudo estava "baum" para ele.

— Vamo, cuzão, bora tira um relo — San balançou o ombro de Mingi no colchão ao seu lado, que dormia feito uma pedra. — Gabrielzinho marcou churras com os moleques e se nois não comparece, já sabe, né? O resumo é morte.

Em protesto, Miguel gemeu e puxou seu cobertor a fim de se proteger de San que queria tirá-lo do mundo dos sonhos.

— O "gurizada", bora levantar que o dia é longo, certo? Vamo descer na padaria pra pega o pão antes que feche. 'Cês tão achando que vão ficar na moleza?

Seonghwa sacudiu a cabeça e abraçou mais Yeosang como se ele fosse um filhote pequeno e indefeso.

— Manda esse projeto de cria calar a boca, tchê. Sete da manhã, as galinhas nem cantou — ele reclamou com a voz rouca e sonolenta.

— Nois vai empina pipa, vou ensinar tu e os moleque. Filipinho tava doido pra aprender, louco — San fundamenta seu argumento, levantando e abrindo o guarda-roupa a procura de seu uniforme do dia: a camisa do Verdão.

— Só mais cinco minutos... — Yeosang choramingou, sentindo o afago que Seonghwa realizava em seus cabelos por reflexo. — Não quero levanta agora, o sonho ficou bom...

— Tu tá sonhando com o que, Filipe? — Seonghwa perguntou curioso, abriu os olhos.

— Virei pró Poppy no LOL.

REVOADA | WOOSAN 💯🇧🇷Onde histórias criam vida. Descubra agora