capítulo 12

642 62 20
                                    

— POV: Cristal

Nós não demoramos para chegar nos arredores da garagem, o lugar cercado de carros rosa. Selena falou no radinho que o carro continuava parado no portão e que não dava para ver dentro dele por conta dos vidros escuros.

Todas estão de colete e com as armas em mãos, preparadas para atacar, quando escuto um barulho de carro. De carros, no plural. Começamos a tomar tiros de todas as direções, pelo menos três carros pretos circundando a área.

Maju consegue atirar em dois pneus de um dos carros e, quando ele para, três Hells vão para cima. Deixo Renata e Selena no comando e levo Maju comigo até o carro principal. Já deveriam ter saído de dentro dele nessa altura, mas ele continua imóvel.

Por via das dúvidas, quebro o vidro enquanto Maju aponta uma AK para onde deveria estar o motorista. Onde deveria estar, mas não tem. Como eu imaginei, o carro está vazio.

O problema é que Nalla disse que viu o carro chegar. Ele estava do outro lado da rua e depois veio para cá. Em algum momento, alguém estava dirigindo esse carro. E essa pessoa está em algum lugar.

Peço que mais uma veterana e uma recruta venham até nós e, depois que Diana e Kali chegam, seguimos para dentro da garagem.

Kali olha o andar de cima, garantindo que não tem ninguém atrás do bar. Diana e Maju fazem a vistoria nas áreas comuns de dentro e fora e eu sigo para o lugar onde ficava o antigo baú e o meu escritório.

Chego atrás das portas e embaixo da minha mesa, mas não acho nada. Ou melhor, não acho ninguém, mas acho algo. Tem cristais na frente do meu computador. Muito criativo.

Pego um deles na mão. Não parece ter nada demais, apenas pedras. Reconheço algumas: ágatas de cores diversas, várias ametistas e um único cristal esbranquiçado que não sei o nome. Talvez seja o próprio simples cristal. Isso não me traz nenhuma pista, tirando que os envolvidos sabem o meu nome, o que já era esperado.

Saio do escritório e apresso as meninas, preocupada com os tiros que ainda estão soando do lado de fora.

- Renata? Selena? Como tá a situação? — Pergunto no rádio enquanto Maju e Diana correm até mim.

- Quebramos dois carros, patroa. O primeiro só tinha um cara que tá desmaiado e o outro tinha dois, um provavelmente morreu e o outro não tá cooperando. Não sei onde tá o terceiro carro, Renata foi atrás dele com a Mabel, a Cecília e a Nalla — Selena fala.

- Reconhece o cara? — Eu pergunto ao cruzar o portão.

- Não — Selena pausa — Renata? Algum sinal do carro?

Sem resposta.

- Renata? — Eu chamo.

Sem resposta. Merda.

Volto para o meu carro e pergunto para Selena a direção que eles foram. Acelero logo que ela fala, sem deixar que ela entre no carro. A sorte é que eu eu melhorei tudo que podia semana passada, estou com um dos carros mais rápidos dessa cidade

Encontro o carro da Renata não muito distante da garagem, mas completamente destruído. Para começar, ele está de cabeça para baixo, vidros quebrados, um pneu a menos e lotado de marcas de bala. Me aproximo e vejo que Mabel e Nalla ainda estão no carro. Mabel está inconsciente e Nalla está tentando se soltar.

- Nalla? Tudo bem? Cadê a Cecília e a Renata? — Eu pergunto, ajudando a puxar ela para fora.

Nalla geme de dor e cai no chão, apertando uma costela provavelmente quebrada.

- Não sei — Ela murmura, tentando se levantar.

- Fica aí — Eu falo e observo ao redor, procurando sinais de vida.

Tem marcas de sangue mais para a frente na calçada, na entrada de um beco. Mando a localização no grupo da gangue para que alguém ajude as meninas e sigo os rastros vermelhos.

Ando pelo beco sujo até sair do outro lado, onde o emerus preto, tão quebrado quando o carro da Renata. Duas pessoas mascaradas, possivelmente um cara e uma mulher estão na frente do veículo, empurrando Cecília contra o capô.

     Eles notam minha presença antes que eu possa atirar em suss cabeças, então o máximo que eu consigo fazer é atirar na perna da mulher e me esconder atrás de uma caçamba de lixo.

     Escuto uma voz, provavelmente a de Cecília, seguida por um som alto e um grito. Uso a caçamba de cover para tentar acerta-los com mais precisão, mas o homem está apontando para mim.

     Tentando outra alternativa, atiro no parachoque do carro, fazendo com que a mulher mascarada se assuste e solte Cecília, que cai no chão. O homem lança uma rajada de tiros e acerta meu braço. Não é nada que eu não possa lidar.

     Quando estou prestes a tentar atirar novamente, escuto um helicóptero. É provável que já estivesse pela área antes porque ele já está a poucos metros acima do carro preto. Eu devia estar concentrada demais nas pessoas e não escutei a hélice.

     A mulher pega Cecília novamente, encostando uma glock na sua têmpora. Sei o que ela quer dizer com isso. Se eu atirar no helicóptero, Cecília morre. Mantenho minha mira, mas não faço nada.

     A porta do heli se abre e uma corda grossa é liberada. O homem mascarado vai para lateral do carro, onde não tenho visão, e começa a fazer algo com a corda.

     Aproveito que ele está distraído para tentar libertar Cecília. Lanço um olhar que sei que ela entende. Cecília precisa fazer o que ela faz de melhor: falar pra caralho. Escuto-a falar sem parar, indo de choros para subornos para elogios para xingamentos. Em certo ponto, a mulher parece perder a paciência e grita com Cecília, abaixando levemente a arma. Tomo a deixa e atiro nela. Infelizmente, não consigo acertar a cabeça, mss vejo seu corpo ser lançado para trás e o ombro da camisa encharcar com sangue. Cecília puxa a arma da mulher e aponta para ela.

     Por ser uma recruta, pensei que ela iria correr, buscar apoio em mim, mas depois que o homem se afasta da lateral do carro e a corda começa a subir, entendo porque ela não saiu dali.

     Renata, sangrando em várias partes do corpo, está sendo erguida no ar, seu corpo amarrado pela corda.

     Começo a atirar no helicóptero, mas minhas balas acabam antes que eu possa danifica-lo o suficiente. Agora, uma escada é lançada para fora. O mascarado leva dois tiros de Cecília antes joga-la no chão, fazendo-a bater a cabeça e desmaiar. Ele ajuda a mulher a subir a escada, acompanhando em seguida. Nesse momento, já estou correndo até eles, sem me preocupar com os tiros que posso levar no processo.

     Não vejo mais Renata, ela está dentro do helicóptero. Pulo e agarro o tornozelo do homem. Ele faz um barulho irritado e consegue se mexer o suficiente para chutar a lateral do meu rosto. Caio no chão, a altura fazendo com que eu sinta uma dor intensa nas costas. Com a visão embaçada, vejo a porta do helicóptero se fechar ao mesmo tempo que vozes conhecidas se aproximam.

- Cristal? Cecília? — Uma das meninas grita.

- O que tá acontecendo? — Pergunta outra.

     Me viro de lado, me esforçando o máximo para não desmaiar. Ouço o helicóptero se distanciando. Ouço Renata indo embora.

- Renata — É tudo que consigo dizer. Sinto sangue escorrer no meu pescoço.

     Selena vem até mim, o rosto estampado de preocupação.

- Cristal? O que aconteceu? Cadê a Renata? — Selena pergunta.

     Não tenho forças para responder. Olho para cima, sentindo as lágrimas virem. Selena começa a chorar e gritar "não, não, não". Não preciso falar nada para que ela entenda o que acabou de acontecer.

     Observo as meninas, algumas ajudando as feridas e outras apenas confusas, apontando armas para o nada.

     Renata - minha namorada - foi sequestrada, muito provavelmente por minha causa. Eu não consegui proteger ela.

     Abraço Selena e choro junto com ela.

cristal escreveu algo - crisnataOnde histórias criam vida. Descubra agora