19. Uma vida pequena

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Jina

A grama verde cheirava a hortelã, era tão macia, tão confortável, poderia dormir horas que não sentiria falta dos colchões e menos ainda do caos que é a cidade. Acordar e poder sentir o frescor do ar, a mansidão do vento batendo no meu rosto é uma definição de vida.

Uma vida tranquila.

Meus olhos se adaptaram com muita facilidade à claridade, aos poucos uma paisagem maravilhosa se revelava para mim, e definitivamente eu poderia viver aqui para sempre. Fiquei em pé e o sorriso nos meus lábios só crescia à medida que meu corpo tomava consciência daquele espaço, era aconchegante, reconfortante e tinha cheiro de hortelã.

O melhor cheiro.

Corri por todo aquele espaço e sempre que me cansava, me animava novamente, mas onde eu estava afinal? Como poderia um lugar tão maravilhoso assim existir e eu nunca o ter visitado?

Onde eu estava?

Foi então que uma vertigem me atingiu, a tontura forte e um gosto amargo me atingiram à boca, lapsos de uma memória que eu gostaria de reprimir me atingiram, meu corpo inteiro sentiu dor.

Meu pai, minha mãe, Namjoon...

Onde eu estava?

O cheiro de hortelã agora estava enjoativo e, de repente, a grama confortável incomodava os meus pés e eu tentei correr para ter uma resposta, mas não obtive, quanto tempo eu estava ali?

Gritar não era o suficiente, ninguém me ouviria, eu estava morta?

— Você não conseguirá assim, precisa se acalmar.

A voz ecoou no horizonte inteiro, nunca acreditei em Deus, mas seria ele agora?

Olhei ao redor e bem longe no monte, alguém acenava, e se morta eu já estava, não custava mais do que a vida eu ir lá, vai que eu encontrava Deus. Foi difícil perceber que, tentando andar rápido, mais longe ficava, e se eu andasse devagar, a estrada ficava desconfortável. Precisei respirar fundo várias vezes para conseguir alcançar o topo do monte em uma velocidade plausível para o meu corpo.

Era um homem, tinha certeza disso e o homem olhava o horizonte, tinha os cabelos grisalhos e parecia apreciar muito a vista.

— Oi!? – falei bem devagar, na tentativa de me anunciar sem atrapalhar, sem desviar os olhos, vi seus ombros subirem e descerem, como se estivesse meditando. — Será que eu consigo falar?

Pensei alto.

— Sim, você consegue falar e ser ouvida.

Quando ele me respondeu, mas eu reconhecia aquela voz, não era possível, como seria? Eu estava alucinando? Eu estava morta? Tinha quase dez anos desde que ouvi aquela voz pela última vez em uma ligação e não era humanamente possível, por isso já deduzi, com as minhas lágrimas, que eu estava morta.

— Pai? – a minha voz falha cortou o vento e então ele se virou, com aquele sorriso que sempre me recebia todos os dias, que me alegrava e aquecia o coração, ele abriu os braços e corri até ele, a sua risada atingiu os meus ouvidos e ele me apertou em seu abraço forte, do mesmo jeito que fazia antes.

— Ah Jina, quanta saudade!

Meus soluços ecoavam na minha cabeça e todo o espaço ventava com o som, um vento forte como se entendessem a minha dor naquele momento, Deus, como senti falta dele.

— Como? – Perguntei sem saber por onde. — Quando?

— Não sei, acho que você me chamou. – Ele respondeu secando as lágrimas em meus olhos.

Heartbeat | Kim NamjoonOnde histórias criam vida. Descubra agora