Capítulo 8 / Presente

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      O salão da igreja estava cheio, uma aura de expectativa pairava. O pendrive que conectava as caixas de som foi desconectado, mergulhando o ambiente num silêncio inquietante. As primeiras notas ecoaram, os integrantes do grupo preparados. Vitória inaugurou com a canção favorita da aniversariante. Miguel e Larissa seguiram na segunda estrofe da música. Porém, quando os acordes ecoaram, um rapaz de capuz azul sombrio surgiu, capturando o olhar de Larissa. Uma expressão gélida no rosto dele fez um calafrio percorrer sua espinha. Ele avançou pelo público, em direção ao palco, indiferente à comemoração que o rodeava. Larissa desviou o olhar para a aniversariante, imersa na música. A canção terminou, outra começou na batida da bateria de Luís. Quando Larissa voltou a olhar na direção do homem encapuzado, ele não estava mais na plateia. Uma sensação de opressão cresceu, seu olhar vasculhou a multidão, mas ele permanecia esquivo. Contudo, num piscar de olhos, ele emergiu ao lado do palco, escondido do público, mas não de Larissa. Um sinal silencioso para Miguel falhou, então ela se dirigiu a Cristian, absorto na melodia da guitarra. Através de gestos frenéticos, tentou fazê-lo olhar para o homem. A atenção dele permaneceu fixa na música, como se em transe. Não era um músico naquele palco, mas um homem com sua sombria amante.

O homem de capuz azul desenhou um sorriso assombroso. Algo oculto brilhou em suas mãos, revelado apenas por um clarão fugaz após o refrão. Uma faca prateada, cabo negro, deslizava em suas mãos. Um terror gelado envolveu Larissa.

— Aquele homem está com uma faca. — a palavra escapou dela, em meio a um murmúrio trêmulo no ar pesado.

Mas o microfone respondeu com um estridente zumbido, capturando sons indistintos da música alta. Seu coração disparou, ela abandonou o microfone e afastou-se do palco, ansiando por refúgio. Nos recessos sombrios, ela observou o grupo prosseguir, inconsciente de sua ausência. E então, como um pesadelo que se solidifica, o homem de capuz azul estava à sua frente. Seu olhar penetrante prendeu-se às mãos de Larissa. Agora, medo e espanto permeavam seus olhos. Ele apontou para ela com mãos trêmulas e sobrancelhas erguidas. Larissa, seguindo seu olhar, viu suas mãos encharcadas com o líquido sinistro que corria por suas veias. O terror a envolveu, olhares acusadores e repulsivos a consumiram. Um coro de vaias cruéis ergueu-se, ecoando como um tormento. Mas antes que pudesse agir, policiais a algemaram, conduzindo-a à saída, enquanto a multidão observava seu declínio. Seus amigos no palco exibiam expressões de compaixão e tristeza, uma sinfonia melancólica sob as luzes. Colocada na viatura, a viagem sombria continuou até a delegacia. Ali, uma cela solitária a aguardava, suas paredes e teto forrados de estofado, um abraço sufocante. O horror absoluto surgiu quando a porta desapareceu, aprisionando-a num pesadelo interminável. Um grito desesperado rompeu o silêncio, resgatando-a de seu tormento.

— Lari se acalme, foi só um pesadelo. Você está segura. Eu estou aqui, se acalme.— disse Luís dando um abraço acolhedor em sua irmã.

— Parecia real, a gente estava tocando no aniversário da menina. Então uma homem de roupa azul começou a me seguir. Ele estava com uma faca. Porém vocês estavam concentrados na música e não me deram atenção. Eu desci do palco e ele continuou a me seguir, porém agora era ele quem estava com medo. Eu estava com as mãos cheias de sangue. Em seguida eu fui presa e me largaram em uma espécie de solitária porém sem portas. Foi tão horrível Luís, parecia muito real.

— Não foi a primeira vez que você tem esses pesadelos Lari.

— Tem alguma coisa que você quer me contar? Tem algo que está te aborrecendo ou te deixando aflita?

— Eu só tenho esses pesadelos estranhos quando eu fico muito ansiosa ou nervosa com alguma coisa. Deve ser a tensão da festa. — disse ela tomando um copo de água que estava ao lado da cabeceira de cama.

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