꧁Dois꧂

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Minha mãe olhou para mim com um sorriso afetuoso e disse: "Sua Alteza, o rei nos convidou para um jantar especial amanhã a noite. Ele faz questão de nossa presença."

Enquanto mastigava um pedaço de maçã, vi minha mãe se levantar e ajeitar seu vestido elegantemente. Ela acrescentou: "Preciso resolver alguns assuntos urgentes agora."

Antes de sair da sala, ela me lançou um olhar significativo e disse: "E você, vá tomar um banho imediatamente, pois está cheirando a javali."

Parando de mastigar a maçã por um momento, cheirei meu próprio braço para verificar o odor e, concordando com a cabeça, reconheci que ela estava certa.

Eu me levantei rapidamente, o tecido pesado da minha capa arrastando suavemente pelo chão enquanto eu me apressava pelo grande corredor do castelo. As paredes de pedra do corredor eram iluminadas por tochas, lançando sombras dançantes ao meu redor. Finalmente, cheguei à imponente porta de madeira maciça que levava ao pátio externo. Ao abri-la, uma brisa gelada e úmida envolveu meu rosto, o céu nublado tingindo o ambiente com tons de cinza. Os guardas, perfilados ao longo das muralhas, ergueram as lanças em saudação quando me viram. Um dos soldados avançou, a preocupação marcada em seu rosto enrugado pela experiência, e perguntou: "Princesa, aonde está indo? Já está anoitecendo."

"Capitão Lov, preciso ver Belfegor urgentemente", declarei com firmeza, meu tom de voz sério enquanto eu continuava a andar sem pausa. O soldado imediatamente começou a seguir ao meu lado, mantendo-se ao meu ritmo enquanto nos dirigíamos para o fosso dos dragões.

Seus passos ressoando no chão de pedra enquanto nos dirigíamos para fora dos limites do castelo. Descemos por um caminho sinuoso, serpenteando por entre as fundações maciças da fortaleza, até chegarmos a uma entrada escondida sob uma saliência rochosa. Este caminho, conhecido apenas por alguns, levava ao fosso dos dragões, um lugar escuro e quente onde Belfegor fazia seu repouso. O ar ao redor ficava cada vez mais denso e carregado de calor à medida que nos aproximávamos do covil do dragão, e o eco distante do fogo rugia nas profundezas da terra, anunciando nossa chegada ao domínio de Belfegor.

Belfegor estava adormecido quando chegamos ao seu covil, seu corpo imenso se movendo suavemente com a respiração profunda e ritmada. Assim que entrei, o aroma distinto da minha presença pareceu despertá-lo abruptamente. Seus olhos se abriram rapidamente, revelando as profundezas de sua íris dourada, e ele soltou vários grunhidos ao me reconhecer. Sem se levantar completamente, o dragão esticou o pescoço em minha direção, buscando o cheiro familiar que o havia despertado. Eu me aproximei mais, sentindo o calor irradiante de seu corpo gigantesco, e estendi a mão para tocar suavemente o focinho escamoso de Belfegor, sua respiração quente envolvendo minha pele em uma carícia calorosa.

"Princesa, por favor, tenha cuidado", insistiu o Capitão Lov, sua voz carregada de preocupação enquanto ele mantinha uma postura mais próxima da entrada do covil do dragão. Seus olhos observavam com cautela o ambiente ao redor, revelando uma desconfiança palpável em relação à presença de Belfegor. "Eu nunca confiei totalmente nesse dragão. Fique atenta."

"Capitão Lov, às vezes é mais seguro confiar em um dragão do que em um homem", disse, deixando escapar um sorriso divertido e irônico. A ironia permeava minhas palavras enquanto eu encarava o soldado.

O Capitão Lov permanecia em silêncio, seu olhar fixo no dragão, enquanto Belfegor mantinha seus olhos focados em mim, como se me avaliasse. Então, um leve suspiro escapou das narinas do dragão, e instantaneamente senti uma onda de calor intenso envolver minha mão, emanando do seu hálito quente. Era um aviso tangível de que, mesmo em seu estado mais tranquilo, a proximidade com Belfegor poderia resultar em consequências não desejáveis - até mesmo uma simples respiração podia causar danos.

Olhei nos olhos dourados de Belfegor e senti como se estivéssemos nos comunicando em um nível mais profundo, além das palavras. Era quase como se ele entendesse meus sentimentos e palavras, e pude perceber um brilho de admiração em seu olhar imponente. Em seus olhos, quase podia discernir emoções humanas, ou talvez emoções tão fortes e sinceras quanto.

Eu olhei para cada parte do corpo de Belfegor, admirando suas escamas vermelhas brilhantes à luz das tochas. Cada escama parecia reluzir com um calor intenso e bonito. Sua cauda longa e forte se movia lentamente, e suas garras afiadas pareciam prontas para qualquer desafio. Suas asas, dobradas ao lado do corpo, tinham uma imponência que mostrava sua capacidade de voar alto. Era uma visão impressionante e poderosa, mostrando a beleza e a força do dragão.

"Agradeço, Belfegor", disse com gratidão, enquanto olhava nos olhos dourados do dragão. "Se não fosse por você, os portões nunca teriam caído tão rapidamente." Um sorriso escapou dos meus lábios enquanto eu relembrava o momento, e não pude conter o riso diante da lembrança do estrondo estrondoso que ecoou pelo ambiente quando Belfegor matou os portões do castelo de Roman.

Agradeci, mas logo comecei a gargalhar. "Belfegor, você não deveria fazer isso na frente de tanta gente!", disse entre risos, tentando controlar minha hilaridade diante da lembrança.

O dragão parecia estar satisfeito ao me ver rindo. Quando minha mão acariciou seu focinho, ele soltou um alto grunhido gentil, demonstrando seu contentamento. "Belfegor, amanhã de manhã, voaremos juntos", prometi com um sorriso.

Com um último olhar para Belfegor, dei boa noite ao dragão e saí do seu covil. Sentindo o ar ficar gelado novamente, deixei para trás o calor reconfortante do ambiente e retornei ao mundo exterior. Ao sair, o soldado se aproximou e perguntou: "Princesa, foi você quem pediu o ataque nos portões do castelo do rei?" Suas palavras carregavam uma mistura de curiosidade e preocupação, enquanto eu ponderava sobre como responder.

"Não, não fui eu", respondi com calma, sacudindo a cabeça. "Belfegor agiu por conta própria." Minha voz saiu despreocupada e calma.

Caminhamos lado a lado até o castelo novamente, eu e o soldado, nossos passos ecoando no silêncio da noite gelada. À medida que avançávamos, o chão começava a ficar mais branco pela neve recém-caída, criando uma paisagem serena sob a luz prateada da lua. O ar cortante nos envolvia, mas eu sentia um calor interior, impulsionado pela interação com Belfegor.

 O ar cortante nos envolvia, mas eu sentia um calor interior, impulsionado pela interação com Belfegor

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