꧁Quatro꧂

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Relutante, me negava a participar do jantar que o rei, pai de Roman, exigira. Sabia que ouviria propostas e mais propostas, cada uma mais intrusiva que a anterior. Vesti meu belo vestido verde, que combinava perfeitamente com minha pele e meu cabelo escuro, mas nem a beleza da roupa conseguia apagar o desgosto da minha cara.

Algum tempo depois, minha mãe e eu já estávamos no reino aliado. A viagem foi rápida, mas carregada de desgosto. Passamos pelo portão, ou pelo que restava dele, já que Belfegor o havia derrubado. Ao ver a destruição, senti uma mistura de contentamento e diversão.

Minha mãe, ao meu lado, aparentava serenidade, mas eu sabia que ela compartilhava minhas inquietações. O peso das expectativas e das iminentes negociações caía sobre nós, uma sombra constante em cada passo que dávamos naquele reino abalado dito como aliado.

Fomos recebidas pelos soldados do rei com uma formalidade rígida, suas expressões sérias e disciplinadas. Atrás de nós, nossos próprios soldados se mantinham firmes, prontos para qualquer eventualidade. O contraste entre os dois grupos era evidente, mas havia um respeito mútuo em seus olhares.

Caminhamos pelo pátio devastado, os escombros do portão caído ainda visíveis ao nosso redor. O caminho até a entrada do salão principal do castelo era ladeado por tochas, suas chamas tremulando ao vento e formando sombras dançantes nas paredes de pedra. Cada passo ecoava, aumentando a sensação de solenidade e estresse.

Ao chegar ao salão, as portas enormes se abriram diante de nós, revelando o rei sentado em seu trono. Ele se levantou ao nos ver, uma expressão calorosa em seu rosto. Sua grande barba ruiva e seus cabelos, ameaçando a ficar brancos, contrastavam com seus trajes azuis elaborados. Ele fitava minha mãe com uma intensidade que não passava despercebida.

"Eleanor, estou muito feliz por sua presença aqui" disse ele, sua voz ressoando pelo salão. "É uma honra recebê-las em meu castelo."

"A honra é nossa, majestade" respondeu minha mãe, fazendo uma pequena reverência.

"Agradecemos pela calorosa recepção, majestade" acrescentei, também fazendo uma reverência.

O rei me fitou de cima a baixo, seu olhar penetrante avaliando cada detalhe. Sem muitos rodeios, ele disse: "Roman está ansioso pelo jantar."

Ao ouvir isso, um suspiro involuntário escapou de mim, uma mistura de frustração e resignação passando por meus olhos antes que eu pudesse controlá-los.

Enquanto o rei voltava sua atenção para a minha mãe, anunciando que o jantar já ia ser servido, uma onda de raiva percorria meu corpo. Com um gesto casual, ele nos convidou para seguir para a grande mesa de jantar em outro cômodo espaçoso. Meus passos ecoavam pelo corredor enquanto eu, quase furando o chão de tanta raiva, marchava logo atrás deles.

Observando a figura do rei à minha frente, sentia minha frustração aumentar. Eu fitava sua nuca com tanta intensidade que parecia que faíscas poderiam sair dos meus olhos de tanta raiva. Cada passo que dávamos só aumentava minha impaciência e irritação, enquanto eu lutava para conter a tempestade de emoções que fervilhava dentro de mim.

Enquanto nos dirigíamos à grande mesa de jantar, a rainha adiantou-se em desculpar-se pelos portões: "Sinto muito pelos portões, majestade. Foi um incidente lamentável."

O rei respondeu com uma calma superficial: "Não precisa se preocupar, rainha. Acidentes acontecem, afinal."

Enquanto as palavras deles ecoavam no corredor, um desconforto pisava em mim. Parecia que algo estava fora de lugar, uma sensação de algo não estava certo naquele momento e naquele lugar. No entanto, mantive minha compostura, mesmo que o ambiente parecesse tenso e deslocado.

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