꧁Sete꧂

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Antes de nos afastarmos, sussurrei para Belfegor: "Antes de partirmos, vou mostrar ao rei Dalibor o que significa ser insana de verdade." O ódio em minha voz não podia ser contido, mesmo sabendo dos riscos. "Tenho plena consciência de que, ao fazer isso, posso ser deserdada ou enfrentar consequências ainda mais graves."

Com um último olhar para o castelo, mudei levemente a direção de Belfegor, apontando-o para o reino de Roman. O vento frio da alvorada batia em meu rosto, e a respiração pesada do dragão era o único som que acompanhava o nosso voo. Fechei os olhos, deixando as lembranças me inundarem: o assédio repugnante de Roman, o momento em que arranquei sua língua, os rumores maliciosos, que se espalhavam como fogo, os cochichos atrás das minhas costas, e as palavras duras da minha mãe.

Cada lembrança alimentava a raiva que crescia dentro de mim, queimando como um incêndio incontrolável. Sentia o corpo de Belfegor se agitar sob mim, refletindo minha fúria crescente. Minha respiração se acelerava junto com a dele, e a intensidade de nossos sentimentos parecia fundir-se em um único ser.

Eu podia quase ouvir os sussurros dos cortesões, ver os olhares de julgamento e desprezo. Cada detalhe reforçava meu ódio. Belfegor, sentindo minha turbulência interna, solta um rugido baixo e contínuo, como se partilhasse da minha raiva.

Com o coração pesado e a mente fervilhando, sabia que estava prestes a cometer um ato que poderia mudar tudo para sempre

Em eventos, reuniões e ocasiões onde os reinos se uniam, sempre sentia os olhares das outras princesas e conselheiros cravados em mim. Seus olhares eram de julgamento, murmurando que, pelo o meu comportamento, eu acabaria igual ao meu pai quando mais velha. As outras princesas, foçadas em seus próprios mundos de perfeição e sonhos, mal queriam ter contato comigo. Minhas amizades eram escassas, limitadas aos filhos dos soldados e dos servos do próprio castelo.

Minha personalidade sempre foi uma questão de debate e crítica entre as cortes. Lembro-me vividamente de um evento, uma grande reunião das cortes, onde a tensão era sentida no ar. Uma das meninas, filha de um nobre influente, decidiu testar minha paciência. Ela me ofendeu na frente de todos, suas palavras afiadas como lâminas. Antes que ela pudesse falar mais, agi por instinto. Peguei uma das taças grossas da mesa e, com um movimento rápido, quebrei-a na cabeça da menina. O salão entrou em um silêncio sepulcral, os olhos arregalados e bocas abertas em choque.

A cena passou diante dos meus olhos em câmera lenta: o som do vidro quebrando, o grito de surpresa e da dor da menina, o sangue escorrendo pelos seus cabelos dourados. Não havia como desfazer o que havia feito. As reações foram imediatas - murmúrios, suspiros e olhares ainda mais severos. Sabia, naquele momento, que tinha cruzado uma linha invisível.

Esse acontecimento apenas reforçou a imagem que as cortes tinham de mim, uma princesa violenta, incontrolável, destinada a seguir os passos do pai. Para as outras princesas, eu era alguém a ser evitada, um exemplo de do que não deveriam ser. Meus laços de amizade se restringiram ainda mais aos poucos que não me viam como uma ameaça, aqueles que não tinham medo de se associar com a "princesa problema" ou "princesa violenta"

Eu tinha apenas 13 anos quando isso aconteceu.

O outro incidente aconteceu em um campo de treinamento amistoso, onde jovens de várias cortes treinavam juntos com a intenção de criar laços para o futuro. Esse evento acontecia todo verão, uma tradição antiga que todos aguardavam ansiosamente. Era um ambiente onde, na maior parte do tempo, reinava a brincadeira e a competição saudável.

No entanto, apenas os meninos tinham coragem de lutar amistosamente comigo. Muitos deles viam isso como algo interessante, uma chance de provar a si mesmos. Foi nessas batalhas que fiz alguns amigos, aqueles que respeitavam minhas habilidades e me aceitavam como eu era.

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