꧁Seis꧂

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Ao anoitecer, cheguei ao castelo, pousando no pátio coberto de neve. O frio era cortante, e a brancura do chão refletia a luz fraca das tochas. Os soldados me olharam com seriedade e familiaridade enquanto eu descia de Belfegor. Caminhei até a frente dele e fiz um carinho em seu focinho, sentindo a respiração quente dele contrastar com o ar gelado.

Entrei no salão principal e fui recebida pela minha mãe, que tinha uma expressão de alívio ao me ver. Ela não sabia para onde eu tinha ido, e minha ausência claramente a preocupou. Com um semblante pesado e indiferente, cumprimentei-a:

"Boa noite, minha rainha."

Ela retribuiu com um olhar de tristeza, compreendendo a frustração que eu sentia.

Andei diretamente para o meu quarto, sem olhar para trás, ouvi minha mãe suspirar profundamente e instruir uma das servas a preparar o meu banho. Subi as escadas de pedra, sentindo o frio delas através das solas das botas, e entrei em um dos corredores do castelo onde ficavam os quartos. As paredes de pedra absorviam o pouco calor que havia, e o silêncio do corredor contrastava com os ecos dos meus passos.

Entrei no quarto e fechei a porta atrás de mim, sentindo o peso do dia em meus ombros. Joguei-me na cama, exausta e cheia de pensamentos confusos. Ler as cartas antigas de meu pai despertou algo novo dentro de mim, um desejo profundo de explorar além do vale e conhecer mundos desconhecidos. No entanto, sabia que esse desejo era impossível de ser realizado. Com meu casamento arranjado e sendo a única herdeira do trono, não poderia passar longos períodos fora. Além disso, com minha sanidade sendo questionada, sair do reino seria uma ideia ainda mais arriscada.

Tendo minha sanidade questionada, minha sucessão ao trono também estaria em risco. Nem reis nem rainhas podem ser considerados insanos; qualquer dúvida sobre minha estabilidade mental poderia comprometer meu direito de governar.

Essa situação me fez lembrar de uma lenda absurda, sobre o último rei considerado insano que foi exilado. Ele foi acusado de dizimar sua própria família sem motivo algum. A parte mais perturbadora dessa lenda é que envolve Mor'du. Dizem que, quando esse rei foi exilado, ele pediu vingança aos deuses. Em resposta, os deuses o transformaram em um grande dragão negro. Com asas imponentes e um corpo colossal, ele pôde se vingar de todos aqueles que o acusaram. Essa é uma das poucas lendas que envolvem o nome de Mor'du.

Levanto-me da cama e pego minha bolsa do chão ao lado. Com cuidado, retiro um dos papéis de dentro da bolsa e volto a me acomodar na cama. Observo o mapa de Westeros, sentindo a textura áspera e frágil do papel sob meus dedos. Cada traço, cada marcação, parece um convite para explorar terras distantes e desconhecidas. Mergulho profundamente na análise do mapa, absorvendo cada detalhe com uma intensidade quase palpável.

Fecho os olhos e faço uma prece silenciosa aos deuses, pedindo discernimento e força para enfrentar os desafios que se apresentam. Ao abrir os olhos e examinar o mapa de Westeros, questiono-me sobre o tipo de pessoas que habitam essas terras desconhecidas. As palavras da minha mãe ecoam na minha mente, comparando-me a meu pai. Será que posso ser tão talentosa e maluca quanto ele?

Examinando cuidadosamente a carta, observo as épocas favoráveis para navegar pelos mares que nos levariam até Valiria: a primavera e o inverno. Apesar das ondas possivelmente mais altas, esses períodos são marcados por menos tempestades, o que torna a viagem mais segura.

Não que eu estivesse considerando.

Após revisitar as cartas repetidamente, finalmente adormeço com elas ao meu lado, uma companhia estranha e reconfortante ao mesmo tempo.

A luz fraca do sol gradualmente invade meu quarto, chamando-me à consciência. O frio cortante me faz tremer, e a necessidade de vestir roupas mais quentes é imediata. Levanto-me com relutância e dirijo-me ao banheiro para um banho reconfortante. Opto por um vestido roxo escuro, adornado com uma capa pesada e um capuz para proteger minha cabeça do frio. Meus pés são envolvidos por sapatos confortáveis. Mesmo com minhas tarefas diárias, minha mente permanece obcecada pelo mapa que estudei ontem. Parece que não consigo escapar dele, como se estivesse martelando incessantemente em minha mente.

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