Sangue Profano (Em Andamento)

Capítulo 12 - Mal Pressentimento

Anthony estava sentado em completo silêncio no túnel habitual. O barulho da água gotejando lentamente na poça que se formava no chão era o único som que invadia os seus ouvidos. Ele esperava impaciente por Sthephan. Quando o sol se escondeu e deu vez à lua, ele saiu furtivamente em busca de diversão. Sua fama pelas catacumbas o precedia, o único que saia de lá para beber sangue humano. A maioria não tinha coragem de sair e alguns já eram adeptos a beber sangue de ratos e morcegos. Anthony era um dos que já havia se acostumado com o sangue de ratos e morcegos, mas às vezes ele acompanhava Sthephan, apenas para lhe fazer companhia.
O tempo foi passando e nenhum sinal de Sthephan voltar para a segurança das catacumbas.
- Diabos! - esbravejou Anthony.
Convencido de que seu amigo não voltaria sozinho, Anthony resolveu ir até o lugar onde ele tinha certeza de que Sthephan estava. A casa do prazer ficava quase fora da cidade, embora fosse arriscado, era um pouco mais seguro do que a maioria imaginava. A maior parte dos clientes eram viajantes, então não tinha o risco de alguém suspeitar de Sthephan. As mulheres de lá eram boas. Sthephan era um cliente muito assíduo e muito bem recebido. Era gentil com as mulheres da casa e pagava o que era cobrado. Para que ninguém visse a mordida de suas presas, Sthephan sempre levava consigo uma pequena adaga, quando as moças já estavam muito bêbadas, ele as cortava e deixava que o sangue escorresse em sua boca e parava antes que elas desmaiassem. Embora alguns o chamassem de tolo, Sthephan sabia o que estava fazendo.
Ao chegar na casa do prazer "Madame Lydia", Anthony perguntou a uma das moças onde estava seu amigo. Ela o levou até um aposento particular, mas não entrou. Anthony entrou e viu ao menos quatro mulheres deitadas em assentos estofados e no tapete de veludo vermelho. Haviam garrafas de vinhos sobre a mesas e taças nas mãos de todas e, bem no canto quase desacordado, estava Sthephan.
- Ora, - disse Anthony puxando Sthephan pelo braço. - Está bêbado.
Sthephan gemeu e custou a levantar do sofá em que estava. Anthony passou os braços pela cintura de seu amigo e praticamente o carregou para fora do estabelecimento.
- Isso por acaso são horas para se estar nesse estado? - Anthony parecia irritado.
- Ora, quem é você para me dar sermão? - Sthephan falava de forma embolada, igual a um bêbado. - Você não é mais divertido, não que fosse, mas está pior...
- Do que está falando?
- De você e daquela mulher...
- Pare, não sabe do que está falando - Anthony segurou Sthephan firme. - Está muito bêbado.
- Posso estar bêbado - ele soluçou. - Mas sei do que estou falando. Você me deixou depois que conheceu ela e anda cheio de segredinhos.
- Cale-se. Não me faça derrubá-lo no chão.
- Então jogue-me. Sabe que estou falando a verdade. Éramos amigos próximos e agora você só fica sentado pensando nela ou sabe-se lá o que mais...
- Eu vou relevar tudo o que está dizendo. Você nunca se apaixonou por ninguém e não sabe o que diz.
- Quem não sabe o que diz é você - Sthephan deu uma breve pausa. - Eu tenho o amor dentro de mim, meu caro. Ah... Ela é linda tanto quanto a lua no céu...
- Começou a delirar?
- Maldito...
Sthephan tropeçou em uma pequena pedra e cambaleou até ir de cara no chão. Anthony se esforçou ao máximo para não rir, colocando a mão sobre sua boca e rindo baixinho com aquela cena hilária. Sthephan parecia um peixe fora d'água, se debatendo tentando levantar do chão, mas sem sucesso.
- Ajude-me - ele quase implorou.
- Fique calmo. Venha. - Anthony o ajudou a se levantar enquanto ainda ria baixinho.
- Se continuar rindo, vou lhe socar a cara.
- Primeiro você precisaria aprender a dar um bom soco. - uma voz ecoou atrás deles.
Benjamin vinha se aproximando deles com um semblante divertido.
- Você viu? - perguntou Anthony.
- É claro - ele riu. - Parecia uma criança aprendendo a andar e tropeçando nos próprios pés.
Benjamin e Anthony gargalharam enquanto Sthephan ainda estava tentando levantar e manter-se firme sobre seus pés.
- Vocês dois... vocês não são amigos...
Sthephan lançou um olhar de raiva para os dois que tentavam o manter de pé. Anthony e Benjamin pareciam estar se divertindo com toda aquela situação.
- Não nos culpe por isso - Anthony ainda ria. - Foi você quem caiu de tão bêbado que está. Nós apenas rimos, porque foi realmente engraçado.
- Amigos de verdade não riem dos amigos bêbados - disse Sthephan ainda embolado nas palavras.
- Não, eles fazem pior. - Anthony continuou rindo. - Desmaiam de bêbados em um bordel para que os outros se arrisquem e o carreguem até em casa.
- Eu vou bater em você! - Esbravejou Sthephan.
- Vocês dois, vamos embora logo, - Benjamin segurou Sthephan pelo lado direito. - Não vamos querer atrair atenção desnecessária.
Anthony assentiu.
- Além do mais, podemos nos divertir muito mais contando essa situação para Violet.
Benjamin e Anthony continuaram rindo enquanto Sthephan apenas resmungava.

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