Foi uma histeria incessante que deu início a toda confusão. Não existia espaço para bom senso naquele momento, como se toda sanidade tivesse sido drenada daquela situação.
Lady Dauphin estava histérica, ela olhava para o corpo sem vida de Oliver, cujo sangue ainda respingava de sua garganta, com tamanha tristeza e desespero. Os olhos arregalados com completo espanto e horror. As mãos frenéticas e trêmulas, como quem sente uma descarga elétrica por todo o corpo.
- Meu filho! - Ela gritava. Agarrando o corpo de Oliver gelado e roxo, sem um único resquício de vida.
Não havia quem conseguisse consolá-la. Seu herdeiro e seu legado seria alimento para os vermes logo mais. Não havia mais o que fazer, sua pele pálida levemente roxa, o corpo rígido e olhos cerrados eram os sinais do fim.
Lucy entrou na igreja, acompanhada de dois guardas. Ao vê- la, Lady Dauphin não se conteve e num piscar de olhos, desferiu-lhe um tapa que ecoou por todo o espaço.
- Maldita - ela disse em fúria. - Mil vezes maldita. Veja o que você fez! Víbora.
Lucy não fitou Lady Dauphin, olhou sorrateiramente para o cadáver de Oliver que repousava sobre o altar. Por um segundo ela se sentiu aliviada por não vê-lo se mexer ou respirar.
- Meu filho está morto por sua causa - Lady Dauphin pegou os cabelos da menina e tentou arrastá-la até o altar.
- Basta! - ordenou padre Frederic. - Lady Dauphin, controle-se. Solte a menina.
A Lady obedeceu, mas o fez de má vontade.
- Não devemos apontar dedos sem antes entender o que aconteceu - Disse ele serenamente. - Lucy, qual dos vampiros matou Oliver?
Lucy baixou o olhar, sua boca estava seca e suas mãos tremiam. Ela falou, mas sua boca não emitiu nenhum som.
- Diga. - Insistiu Harmon. - Fale, minha filha.
- Fui eu... - Disse em tom baixo.
- Fale mais alto. - Ordenou Frederic.
- Fui eu quem o matou! - Ela disse sem gaguejar.
O semblante de surpresa abateu a feição de todos.
- Lucy... - Harmon estava incrédulo.
- Eu o matei e não me arrependo. Ele não era um monstro.
- Como ousa? - Disse Lady Dauphin.
Nesse momento a porta se abriu de forma bruta, Anthony entrou com os pés e mãos acorrentados, acompanhado de quatro cavaleiros fortemente armados e com armaduras.
- Anthony - Lucy gritou.
Harmon mostrou-se ainda mais surpreso.
- Deixem- no ir. Ele não fez nada de errado - ela suplicou.
- Você o conhece? - Perguntou Frederic.
Ela assentiu.
- Tragam-no até aqui - Ordenou Frederic.
Anthony foi puxado pelas correntes, ele andava com dificuldade, como se seu corpo inteiro pesasse toneladas. Lady Dauphin, os padres e frades olhavam para ele com desprezo, quase um nojo misturado com ódio e raiva. Lucy conteve o choro o máximo que pôde, mas seu coração estava despedaçado, ver o homem a quem ela amava, amarrado e com o pior dos semblantes. Ela quis gritar, ela quis chorar, mas nada adiantaria naquela situação.
Anthony foi colocado de joelhos diante de Frederic e os outros membros da igreja.
- Quando vocês, cães infernais, se darão por satisfeitos? - Indagou Frederic com ódio em sua voz.
Anthony ergueu o olhar, fitando aqueles que o condenavam. Os membros da igreja não mostravam pena, mas também ficaram um tanto intimidados com o olhar de Anthony, pois até então, nenhum dos vampiros que haviam capturado mostraram tamanha coragem em olhar nos olhos deles.
- Você matou pela última vez. - Frederic declarou. - O sangue que você derramou, será pago com o seu próprio sangue.
- Não! - O grito de Lucy ecoou pela igreja. Era agonizante e desesperado. - Já disse que quem matou Oliver fui eu, ele é inocente.
- O que está dizendo, menina? - Harmon exigiu uma explicação. Porque Lucy estava agindo daquele modo? Protegendo o inimigo. - Como pode dizer que esta criatura é inocente?
- Porque ele é - A voz de Lucy era forte. - Me escutem, por favor. Anthony não fez nada. Oliver nos atacou e Anthony apenas me defendeu, mas em um determinado momento, Oliver começou a me estrangular e eu o matei para que ele não me matasse.
- Mentira! - Esbravejou Lady Dauphin.
- Então, como explicam essas marcas em meu pescoço?
Lucy mostrou a vermelhidão misturada com a tonalidade roxa que predominava em seu pescoço.
- Oliver tentou me matar. Oliver não era um bom homem, era mal e perverso. Ameaçou a minha vida muitas vezes, me machucou de todas as formas que posso contar... Mas Anthony, ele nunca me machucaria ou a qualquer outra pessoa. Ele não é o mal aqui. Os vampiros nunca foram o mal.
- Danação! - Esbravejou Frederic. - Levem ele daqui.
Anthony foi puxado com violência pela igreja, mas estranhamente ele não parecia resistir. Os olhos do vampiro encontraram os de Lucy e ela viu que não havia medo neles. Ela lembrou do que ele havia lhe dito antes do pesadelo acontecer.
- Por favor, eu imploro...
- Chega! - Gritou Harmon. - Diga-me o porquê de estar defendendo este demônio. Diga-me porquê fala tamanhas atrocidades.
- Meu pai... - Ela soluçou, mas procurou manter-se forte. - Eu o amo. Eu amo aquele que todos vocês condenam.
- Como pôde? - O frade estava perplexo.
- Eu tentei afastar esse sentimento de meu coração, mas a verdade é que jamais conheci alguém tão puro e tão bom. Ele não é um demônio e está muito longe de ser. É a ele a quem meu coração pertence e mesmo que os homens e até Deus me condene por isso, não me arrependo de meu sentimento...
Lucy ficou incrédula ao sentir a dor repentina em seu rosto. Harmon estava parado, sua respiração acelerada indicava seu nervosismo e sua reação as palavras de Lucy foi imediata.
- Tal como Eva, enganada pela serpente. - Ele disse em fúria. - Criei uma serpente mentirosa e ardilosa dentro de minha casa todo esse tempo.
- Pai... - Lucy o olhou com desespero.
- Eu não sou o seu pai. - Disse friamente, convicto de suas palavras. - Você é a minha filha. Sequer a reconheço agora. Serpente.
Lucy ficou parada, absorvendo tudo o que estava sendo dito. Todas as palavras de Harmon atravessaram seu coração e feriram sua alma. Ela olhou em volta e só via e sentia um ódio crescente. Uma sensação sufocante a invadiu e ela mal conseguia respirar.
- A morte do Lorde Dauphin será averiguada. - Anunciou Frederic. - E enquanto isso, você ficará presa em uma das celas.
Lucy foi levada por dois guardas. Harmon não a olhou, sequer falou algo para interceder por ela.
- Ela tem que morrer! - Declarou Lady Dauphin. - Ela não pode escapar impune do que fez com meu filho. Eu quero justiça pelo meu filho!
- Será resolvido, minha senhora. - Frederic disse com serenidade. - Tudo será resolvido.
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Sangue Profano (Em Andamento)
Romance*Plágio é CRIME previsto no artigo 184 do Código Penal 3 que possui punição que vai desde o pagamento de multa até a reclusão de quatro anos, dependendo da extensão e da forma como o direito do autor foi violado.* Capa por @xxxpersephone ♡ Sinopse:...