Capítulo 25 - Meu Pecado

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Seu braço esquerdo havia passado a noite toda latejando. Lucy estava imóvel, havia permanecido na mesma posição até o clarão do sol transpassar as cortinas da janela. Pela manhã, foi possível se ter completa noção do que Oliver havia causado em seu braço. Onde os dedos dele haviam pressionado, eram como mãos de um animal sobre a pele pálida. Estava uma mistura de roxo com vermelho, havia sangue coagulado onde as unhas foram cravadas. Ela não pôde deixar de chorar mais uma vez. Nunca, em seus piores pesadelos, imaginou passar por aquilo, sentir aquele sentimento tão forte e agonizante.
Se alguém dissesse que estaria passando por aquilo há uma semana, ela não acreditaria. Quem era Oliver Dauphin? Um mentiroso, alguém que não era capaz de controlar a própria raiva, um farsante, um homem violento. Porque ele havia se mostrado um homem gentil e terno, quando na verdade era completamente diferente? Um ser desprezível movido pelo desejo animalesco de machucar e humilhar sua presa indefesa. Não importava. Nada mais importava. Ela estava perdida, havia caído na teia de aranha e estava envolvida até o pescoço. Seu destino estava selado e não podia ser pior.
Lucy se assustou ao ouvir batidas ansiosas na porta. Permitiu a entrada, pois imaginava que era Constantine, mas para seu desespero, foi Oliver quem apareceu na porta entreaberta.
- Posso mesmo entrar? - A voz suave parecia o de um garoto arrependido.
Ela não respondeu. Estava apavorada. Correr e pular pela janela parecia uma boa opção naquele momento, mas suas pernas não se mexiam. Olhando para os lençóis com uma feição assustada, ela assentiu levemente.
- Querida, - Ele começou. - Se é que ainda posso chamá-la assim. Eu lamento profundamente o que aconteceu ontem à noite. Lamento com todo o meu coração. Não sei o que aconteceu comigo, eu estava cego. Fui um canalha, um tolo.
Ele se aproximou da cama com passos sutis, fazendo a moça recuar. Ela sentia medo, muito medo da aproximação dele.
- Eu posso? - Ele olhou para o braço dela, esticando as mãos para tocar com delicadeza. - Deixe-me ver, por favor.
Ela esticou o braço que tremia como se estivesse completamente exposto no frio. Oliver levantou delicadamente a manga da camisola da algodão que Lucy usava. Seus olhos se arregalaram e sua cabeça se retraiu como um momento de vergonha.
- Deus... - Ele amassou os lábios. - Como pude? Está doendo?
Ela balançou a cabeça positivamente.
- É claro que está. Que pergunta tola a minha.
Oliver soltou o braço da moça e se afastou da cama. Com uma mão na cabeça e outra em sua cintura, ele começou a andar pelo quarto. O cenho franzido como se estivesse pensando e analisando toda aquela situação.
- O que posso fazer para me retratar? Para ter o seu perdão?
Lucy se encolheu como um bicho acuado, com os olhos assustados e inquietos.
-Por favor, diga alguma coisa. Qualquer coisa.
Ela ainda lembrava dos momentos em que Oliver gritou, ordenando que ela se calasse. Lucy não se atrevia a abrir a boca e emitir qualquer som.
-Eu entendo. Ainda está assustada. - A voz dele era pesarosa. - Eu vou deixá-la e, quando sentir-se melhor, venha me procurar. Estarei aguardando ansiosamente.
Ele andou em direção a porta, os olhos fixos no chão como os de um cão arrependido.
-Chamarei Constantine. Pedirei que ela traga água quente e ervas para o seu braço. - Ele abriu a porta e, antes de fechar, olhou para Lucy ainda encolhida no canto da cama. - Poderia ser discreta quanto ao que aconteceu?
Sem olhar para ele, ela balançou a cabeça levemente, concordando com que ele havia dito. Oliver assentiu e saiu do quarto em silêncio fechando a porta suavemente.
O Lorde andou calmamente pelo corredor, desceu as escadas e foi para a sala de caça. A lareira estava acesa, Lady Dauphin olhava fixamente para as chamas trepidas que pareciam dançar à sua frente.
-Como ela está? - Ela perguntou ao ouvir Oliver abrir a porta.
- Com medo. - Ele respondeu andando até sua cadeira de couro e sentando-se nela. - Esta igual a um coelho sendo caçado por cães selvagens.
- Então está como sempre esteve. - Disse com desdém.
- Mamãe. - Respondeu em um tom de repreensão. Acho que me excedi. Fui muito descuidado. Talvez ela não queira mais casar-se comigo.
- Ora, meu filho. Agora está falando como um tolo. - Lady Dauphin levantou-se elegantemente de sua cadeira e andou até perto da lareira, colocando as mãos na cintura. - Ela pode não passar de um coelho assustado, mas não é tola. Um nobre de seu nível social nunca irá querer casar-se com ela. Ainda não entendo o que o levou a escolhê-la entre tantas moças promissoras.
- A senhora realmente achou que eu iria procurar uma noiva de família nobre para me casar? Uma mulher mimada e cheia de caprichos, sempre querendo opinar e ter sua vontade prevalecida? Não, mãe. Lucy é a mulher perfeita. Ela é linda, terei uma esposa que enche os olhos, mas que não abre a boca para nada. Sendo de origem inferior, ela nunca terá voz suficiente. Ela saberá onde é o seu lugar, será submissa a mim e é isso o que quero. Uma mulher submissa e que me veja como seu senhor.
- Mas uma órfã criada por padres? - Ela o olhou com dúvidas.
- Quanto maior a inferioridade maior será a submissão. Ouça com atenção, uma garota como ela não tem recursos. Quando casar comigo, ela estará sob meu controle, sempre escondida atrás de minha sombra.
- Bem... Devo presumir que sabe o que está fazendo. Você me lembra tanto o seu pai, querido. Sempre sabendo o que quer e como conseguir.
- Sabe que me lisonjeia sempre que me compara a ele. - Oliver levantou-se de sua cadeira e caminhou até estar ao lado de sua mãe, tocando suavemente em seu ombro. - Eu não desceria o nível de nossa família por nada. Acredite em mim, mamãe.

Sangue Profano (Em Andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora