Capítulo 27 - Sentença

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Constantine conseguiu convencer o cavalariço e um empregado a carregarem um baú pesado até a carroça de feno que ia para a cidade. Os dois homens não fizeram perguntas. O cocheiro havia recebido ordens para levar o baú até a igreja, por duas moedas de prata ele não questionou e sequer podia olhar o conteúdo dentro dele.
A carroça balançava de um lado para o outro, o baú sacolejava, dentro dele, a menina em silêncio se segurava. Ela estava deitada de barriga para cima, as pernas encolhidas, seus joelhos quase chegavam a bater na tampa do baú. Ela respirava com um pouco de dificuldade, talvez por causa da adrenalina que tomava conta de todo o seu corpo e de sua mente. Ela estava a caminho da liberdade, embora isso a assustasse. Imaginava o que diria a seu pai. Como o explicaria o motivo de ter ido para casa escondida em um baú? O que diria quando eles perguntassem o porquê de não querer casar-se com Oliver? Mostrar seu rosto e seu braço machucados seria suficiente? Tantas perguntas e tantas situações passavam por sua cabeça.
A carroça parou abruptamente, os cavalos relincharam com violência e a voz do cocheiro pareceu inquieta.
-O que está acontecendo? - Perguntou ele.
Silêncio. Lucy ouviu passos pesados rondando a carroça. Ela fechou os olhos e prendeu a respiração. Não podiam vê-lá, não podiam pegá-la. Não tinham como saber. Ela sentiu um arranco súbito. O baú estava sendo carregado. Se segurou enquanto rezava, implorava a Deus que não a encontrassem. Foi quando ela sentiu um calor subir por baixo. Estava esquentando, esquentando cada vez mais. Queimava e machucava. Ela começou a se debater. Implorava por socorro. Batia na bandeira dura e escura do baú. A fumaça começou a subir debaixo de seus pés, estava sufocando. Era o fim. O baú foi aberto e Lucy foi arremessada para fora dele com força. Seu corpo rolou pelo chão. Ela tossia freneticamente. Do chão, enquanto tentava recuperar o fôlego, ela olhou para cima e viu o monstro de seus pesadelos. Oliver estava de pé, com os braços cruzados na altura do peito e os olhos impetuosos. O ar ainda faltava em seus pulmões, quando ele agachou a sua frente. Seu semblante estava sombrio, estava com raiva, muita raiva.
-Você não vai fugir de mim, querida. - Sua voz rouca declarou. - Não importa o quanto tente. Não vai escapar de mim. Nunca.

Os soldados carregaram Lucy, a suspendendo pelos braços. Como se ela fosse uma fugitiva recém capturada, eles a levaram até seus aposentos e a jogaram na cama. Lucy levantou-se correndo, enquanto eles fechavam e trancavam a porta.
-Abram a porta. - Ela pedia, batendo na porta. - Por favor, abram a porta.
Nenhum som veio do outro lado. Lucy continuava a bater com cada vez mais força na porta, enquanto gritava e implorava para que abrissem.
-Por favor... - Ela deixou seu corpo deslizar até o chão. - Me deixem ir...
Lucy sentiu um desespero crescente invadir o seu peito. Não havia escapatória para ela. Não havia salvação. Estava presa a Oliver pelo tempo que ele quisesse que ela estivesse.
Ela ainda estava sentada com as costas encostadas na porta, quando Oliver abriu a porta abruptamente. Diferente do que Lucy imaginava, ele parecia calmo.
Ela levantou e se afastou dele. Os olhos marejados deixavam algumas lágrimas escorrerem por seu rosto levemente avermelhado.
-Acho que temos um problema. - Disse sério, andando como um predador. - Você não parece disposta a me perdoar por aquele pequeno incidente. Prefere fugir ao invés de tentar deixar esse problema para trás.
- Eu... - Ela respirou fundo, tentando buscar coragem dentro de si. - Eu não sou capaz de perdoá-lo.
- E porque não? Acaso não me desculpei o suficiente? Não demonstrei arrependimento?
- Não sinto que seja verdadeiro.
- O coelho resolveu confrontar sua raposa. - Ele sorriu sarcasticamente. - Isso me faz questionar onde estava escondendo esse lado afrontoso.
- Só me deixe ir para casa. - Ela pediu. - Por favor.
- Não. - Sua voz se excedeu. - Eu a escolhi e você será a minha esposa, quer queira ou não.
- Porque? Eu não sou ninguém, como o senhor mesmo disse.
- Você é linda. - Ele se aproximou dela e tocou seu rosto com delicadeza. - Sua beleza é única. Nossos filhos serão belíssimos. Dignos da família Dauphin.
- Como pode achar que eu lhe darei filhos? - Ela esbravejou com uma coragem que nem mesmo ela sabia de onde vinha. - Eu não terei seus filhos. Não trarei a este mundo o sangue do seu sangue. Eu prefiro morrer.
Lucy apenas sentiu uma dor em seu rosto e uma vaga perda de equilíbrio que a fez cair de joelhos no chão. Oliver havia lhe dado um tapa no rosto. Ela colocou a mão sobre a bochecha que estava machucada e olhou incrédula para ele. Oliver permanecia imóvel, sem demonstrar qualquer arrependimento.
-Você não vai morrer. Eu não a amo e não me importo se você não me ama. Mas você casará comigo e me dará um herdeiro. Depois você pode morrer ou se matar, o que acontecer primeiro. Mas você não vai parar de respirar antes de me dar um herdeiro. - Ele apertou a face dela com seus dedos. Seus olhos brilhavam de pura amargura e seu rosto não lembrava o de um cavalheiro. - Eu fui claro? Até lá, ponha-se em seu lugar e terá uma vida minimamente decente.
- E qual é o meu lugar? - ela esbravejou. - Sozinha? Trancada nesse aposento? Andando por essa casa sem rumo?
- Não me questione. O seu lugar é onde eu disser que é.
Oliver levantou-se e sequer ajudou Lucy. Olhou para ela como se a jovem não passasse de um ser medíocre aos seus pés.
- Se fosse obediente eu não teria que fazer isso. - Ele andou em direção a porta. - Tudo o que você tem que fazer é me obedecer.
- Sendo assim, - ela levantou-se do chão. - Serei desobediente sempre, pois sou incapaz de sentir qualquer outra coisa por ti, além de desprezo.
- Então viverá aqui, miseravelmente e trancada aqui.
Ele saiu e trancou a porta. Lucy ainda estava atônita, incrédula com sua própria situação. Casar com Oliver era assinar a sua sentença de morte. Uma morte lenta, miserável e solitária.

Sangue Profano (Em Andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora