Capítulo 5

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IX

Os olhos âmbar dão humanos.

O pai de Vernon.

Busca levantar-se em meio a comoção, se desequilibra e procura onde se apoiar, não pode ver, mas os olhos brilhantes de Vernon lhe dizem onde está. E quando está quase chegando, algo o golpeia com força. Não era humano.

Pesado, duro, como uma pedra, assim o sentiu em suas costas ao cair no chão, e descobriu que este era mais suave que aquele que o golpeou. Fica desse jeito, ainda assim pode ver quando outro golpe se faz presente o lançando longe. Tosse, o sabor metálico do sangue se faz presente e procura a porta, mas acredita estar fechada porque nenhuma luz passa por ela. O segura pelo pescoço com força impedindo-o de respirar, é levantado sem delicadeza alguma e pode sentir a respiração quente golpear seu corpo, talvez se fosse mais baixo estaria mais longe do solo. Tenta gritar mas sua voz não sai.

—Papai!— A voz do pequeno desesperado —Papai! Minha perna!

O deixa cair no chão e sente o forte golpe sobre seus joelhos, lhe dói o corpo, e treme, não pode ver e por isso confia em seus outros sentidos. Escuta passos pesados se afastando, acho que até Vernon. Como ainda tem a lanterna, a examina com as mãos tentando encontrar uma forma de acendê-la, e quando a luz azul aparece pode ver um pouco melhor. Se levanta como pode disposto a correr, a lanterna treme em suas mãos e por pouco não a deixa cair, mas segura com ambas.

É quando pode ver uma pessoa. Não tão alto nem, tão forte como imaginou, um garoto similar a Minghao, mas não atreveu-se a se mover. O escuro levanta Vernon com facilidade, como se fosse um bebê. Suas pernas tremiam tanto que mover-se seria uma missão impossível, isso ou vai ter que ralar para chegar a saída. Seu coração palpita com tanta força que parece— e sente— que sairá de seu peito em algum momento, que cairá no solo e não vai poder pegá-lo, sente o sangue correr de seus lábios e o sabor metálico não deixa de inundá-lo, é o momento de correr, de se afastar, mas suas pernas ainda se negam e fazer qualquer movimento.

Tudo se torna nebuloso, como em um sonho, tudo se move quase em câmera lenta e se recria imagem atrás de imagem como uma câmera fotográfica, pisca com dificuldade buscando estabilidade em qualquer parte de seu corpo, e finalmente, cai.

—Ele me ajudou, cuida de mim— A suave voz de Vernon se escuta como um eco rebatendo-se entre a escuridão de suas pálpebras, sua mente não pode captar nada mais que não seja sua voz.

Deve tentar levantar-se. Consegue mover a mão direita e tocar o solo, reza para que o que sente entre seus dedos não seja sangue, mas é um líquido, espesso. Faz um esforço para tirar seu braço que estava emprensado por baixo de seu corpo, consegue e se apoia sobre o chão, convencendo-se de que é um bom momento para tomar impulso. Respira fundo, porque vai doer. E conta.

Um, respira.

Dois, expira.

Três...

Levanta. Cai no segundo seguinte incapaz de sustentar-se, seus músculos encontram-se muito feridos e doloridos, solta um gemido respirando de forma descompassada. Vai voltar a tentar. Tudo segue dando voltas, não sabe onde está a lanterna porque sua vista não consegue vê-la, talvez se apagou ou quebrou, não sabe.

Escuta risadas se aproximando, como hienas, ou pior. Escuros.

—Me dê uma boa razão para não te matar.— Escuta as palavras, com uma voz tão profunda que gela o sangue. Se treme todo e o busca inutilmente com o olhar.

Uma boa razão para não matá-lo, o pedido seria mais fácil, se Mingyu soubesse com o que estava conversando, mas não sabe, assim nenhuma resposta chega a sua mente e sua boca somente abre com lentidão por toda a dor em seus lábios . Tosse, sente o calor do escuro, tão malditamente intenso que alivia o frio insuportável da escuridão, é assim como eles a suportam, os escuros foram feitos para viver nessas condições. Respira com dificuldade.

Oscuro - [SEVENTEEN] |TRADUÇÃO PT-BR|Onde histórias criam vida. Descubra agora