XXVII
O hospital central da cidade mantinha as luzes acesas mesmo com o sol ainda alto, talvez fosse a paranoia do momento, o terror de que escurecesse novamente sem aviso algum. Mas ninguém reclamou disso, nem os médicos nem os pacientes que tentavam sobreviver.
O tumulto era insuportável, várias enfermeiras desmaiando de exaustão por trabalharem sem parar, com tantas pessoas feridas que não havia quartos suficientes para todos. Duas ou três pessoas estavam amontoadas em um pequeno quarto com apenas uma enfermeira responsável, sem médico à vista, pois estes estavam cuidando dos pacientes mais graves.
No décimo andar, em um pequeno quarto que ainda não havia sido lotado, havia uma criança respirando com dificuldade, se mexendo de um lado para o outro na cama. Com os olhos inchados, coberto por vendas e cabos.
— Ei, acordou? — perguntou uma voz carinhosa, acariciando o pouco cabelo da criança. — Quer que eu chame uma enfermeira? Está com sede?
— Não — respondeu o pequeno com dificuldade. — Meu braço dói muito.
— Eu sei, querido.
— O Seungkwan também está aqui?
— Ele... está cuidando de outra pessoa por enquanto, mas estará aqui mais tarde.
O menino apenas assentiu, cansado, voltando a fechar os olhos. Uma criança tão indefesa e machucada partiria o coração de qualquer um, no entanto, nenhum coração partido se comparava ao destroçado e queimado de Lee Chan, que tinha que ver seu irmãozinho sofrer por horas, sabendo que sua mãe não voltaria mais.
Os Escuros não mereciam piedade, entretanto havia algo lá em cima, algo quase divino, que lhes dava uma vantagem esmagadora, um ser talvez maligno que justificava a desgraça que havia caído sobre eles em apenas dois dias.
Por que a escuridão chegou mais cedo? Sem aviso, burlando os alarmes e causando um caos que acabou com um quarto da cidade, deixando lugares destruídos e pessoas feridas, mortas ou desaparecidas. Tudo em favor dos "escuros". E ele não pôde fazer nada.
Se ao menos tivesse tido o prazer de queimar uma dessas bestas, não se sentiria tão culpado, não estaria tão derrotado e furioso. Ele mostraria a Seungkwan que lutar contra eles era possível, ensinaria que podia protegê-lo dos "escuros" e daria algum conforto a seu irmão mais novo e a seu pai.
Então ele se lembrou dos olhos cor-de-rosa brilhando bem em frente de Seungkwan, perto o suficiente para dar um único passo e capturá-lo. Vernon, o garoto que encontraram naquele dia, desapareceu com o escuro, e isso só significava que não haveria mais nada dele no mundo. A culpa o invadiu imediatamente por estar agradecido de que não fosse Seungkwan em seu lugar.
Como ele enfrentaria aqueles olhos cor-de-rosa novamente? Ele queria estar diante deles e fazer com que desaparecessem, que se apagassem nas chamas de uma vez por todas, proteger seu irmãozinho e seu melhor amigo dessas bestas ou, pelo menos, se vingar. Será que aquelas coisas sofriam pela morte de seus companheiros? Talvez não, Chan não tinha como saber.
— Chan — a voz de Seungkwan o tirou de seus pensamentos, fazendo-o reagir imediatamente e se virar para a porta. — Ele ainda está dormindo?
— Sim... — murmurou. — Ele ainda está muito cansado...
Seungkwan entrou sem hesitar, caminhando com cuidado para não acordar o menino e sentando-se na cama ao lado de Chan, que encarava a janela. O sol seguía brilhando forte do lado de fora, como se nada tivesse acontecido
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Oscuro - [SEVENTEEN] |TRADUÇÃO PT-BR|
FanfictionOs escuros são, como chama Mingyu, vampiros que não bebem sangue, mas sim comem carne humana, com unhas e dentes que rasgam a pele e olhos que brilham na escuridão, as vezes verdes, azuis, brancos ou vermelhos dependendo do escuro em questão. Não sã...