capítulo 7

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XII 

Por favor, crianças, sentem-se.— Falou o homem a seus dois filhos de apenas sete e cinco anos. As crianças caminharam até ele, sentando-se sobre a cama, e ficando atentos sob a seriedade do homem.— Tem uma coisa importante que sua mãe e eu devemos lhes dizer... 

—É algo que terão que passar algum dia...—Disse a mulher acariciando a bochecha da pequena menina, com tanto carinho que a fez sorrir.—Mingyu— Chamou o pequeno, com delicadeza, a mesma que usou para acariciar seu pômulo.— Vocês tem que... 

Mingyu acordou num pulo, sem sequer ter dormido, e foi porque a dor já estava fazendo-o delirar, seus músculos palpitavam uma e outra vez, sem descanso. Sacudiu a cabeça para livrá-la de qualquer pensamento ou lembrança, recordando que não é o melhor momento para fugir do mundo real. 

—Se continuar fazendo eu te carregar, vou te levar ao matadouro.—Ameaça a besta, muito próximo de seu ouvido, fazendo com que trema.—Estou considerando a possibilidade. 

Mingyu se afasta com rapidez, se sentindo um pouco intimidado, mas dessa vez fez como uma precaução, a besta já não lhe causa tanto medo, claro, há uns minutos atrás não estaria baixando a guarda por mais que alguns segundos, mas é algo que não pode consertar, um defeito do qual não pode se desfazer com facilidade, sua extrema confiança terminaria matando-o, ou fazendo que alguém o mate. 

—Existe um matadouro?—Pergunta a fim de aliviar um pouco o medo. O escuro apenas o olha e levanta uma de suas desenhadas sobrancelhas. —Pensei que vocês só os comiam... em qualquer lugar onde encontraram, como animais. 

—Somos animais.— Fala o escuro com irritação.—Vocês comem e desechan em qualquer lugar, as alcantarillas são horríveis por sua culpa, um lugar imundo e inabitável. 

—As alcantarillas não são para morar. 

—Qualquer lugar seria se não fosse por sua culpa.— O escuro se detém, dando meia volta (porque tinha se adiantado) para encarar Mingyu.— Geralmente não nos deixam falar com coisas iguais a vocês, o líder não acha correto que manchemos nosso pensamentos com suas palavras sujas, mas não vou resistir o desejo de deixar claro algumas coisas. 

O escuro se aproxima, com passos tranquilos, e o cérebro de Mingyu não pode tomar como uma ameaça, seu medo segue apagado depois de ter se adaptado ao silencioso ambiente subterrâneo. Quando a besta já se encontrava de pé frente a ele, foi quando reagiu, tratou de dar um passo para trás mas suas pernas decidiram não obedecer e preferiram ficar ali, aproveitando o calor que emanava do escuro, e somente por um segundo, sente a necessidade de abraçá-lo. 

Mingyu é mais alto que o escuro, mas de alguma forma o enxergava por baixo, talvez porque seus joelhos já cederam a qualquer sentimento que estivesse sentindo no momento. 

—Poderia me explicar porque comem pessoas.—Pergunta com uma voz melancólica e irritante.—Se somos tão asquerosos para vocês... 

—São as pragas mais destrutivas e abundantes. Necessitam de um controle... e odiamos matar por gosto.—Fala a besta, quase sussurrando pela proximidade.— Não como se fossemos cortar suas cabeças e guardá-las como uma troféu, ou usar seu corpo como decoração 

—Ah... 

—Não encontramos prazer em matar como muitos de vocês sentem. 

—Nós tampouco matamos por gosto. 

—Ah, não matam?—Mingyu nega duvidoso, perdendo credibilidade.—Sua pesca, sua caça, sua taxidermia... Nada disso estaria mal se ao menos vocês tivessem um pouco de respeito e cuidado, se ao menos não arruinassem tudo por uma simples diversão ou entretenimento, se vocês... 

—Se fossemos veganos?—Pergunta Mingyu, mais como uma piada do que sendo sério. O escuro suspira e se afasta. 

—Não. Não tem que ser vegano para deixar de ser desagradável. Só devem...por que tô conversando contigo? É inútil. 

Mingyu estava convencido disso, qualquer coisa que ele dissesse seria inútil, não é como se pudesse ir correndo ao governo e dizer-lhes o segredo para uma vida em paz. As coisas não eram assim tão fáceis. Sempre eram complicadas, mais complicadas do que ele poderia imaginar. 

Se surpreendeu com o quão fácil foi comunicar-se com o escuro, diferente do que pensou, os escuros poderiam ter facilmente uma conversa com um humano, dialogar, se entender, a única coisa que precisava era manter os dois lados vivos, e isso era bem difícil. 

O escuro se afasta rapidamente, dando meia volta e tomando caminho para longe de Mingyu, tão distante de qualquer pensamento do humano, tão distante de qualquer coisa que pudesse passar no mundo. 

—Me chamo Mingyu.—Fala para o escuro. 

O escuro o olha por cima do ombro. 

—Meu nome...—O escuro parece pensar, mas depois de um longo tempo toma uma decisão e volta a caminhar, sem dizer nada.—Não é necessário.—Mingyu abriu a boca para dizer algo, mas de seus lábios não chegou a sair nem um suspira quando o escuro virou abruptamente, o assustando. 

—Se chama Mingyu, você vai gostar!—A voz doce de Vernon se aproxima com entusiasmo, enquanto seus saltos eram ressoados pelo túnel. Mingyu sentiu uma sensação agridoce, onde a ternura e o medo apareceram nele feito uma enchurrada.—Papai já conheceu ele e... 

Está fudido, morto para caralho. 

XIV 

"Olha que lindo garoto nós temos aqui" 

"Cala boca, vai te escutar!" 

"Acha que vai acordar?Não quero escutá-lo gritar" 

"Se continuar falando tão alto ele vai" 

"Eu tô sussurrando" 

"Então para, agora te cala" 

"É você quem tá falando alto, sempre me repreende sendo que tu é pior..." 

"É que se te repreendo não levo a culpa" 

"Você é tão infantil! Sem chances, não acredito que você será o próximo líder" 

"Tu nem sequer é da geração principal, e claro, não é nem mesmo de uma de nossas gerações, adotado" 

"Isso foi cruel..." 

"Não é cruel, o líder te adora, por isso te elegeu como um possível..." 

Minghao acorda. 

"Oi, lindo" 

Dois pares de olhos brilhando na escuridão, ambos alaranjados.

Oscuro - [SEVENTEEN] |TRADUÇÃO PT-BR|Onde histórias criam vida. Descubra agora