Capítulo 3

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Audrey acordou mais cedo do que o normal, queria estar no hospital antes de Nate para que ele não pudesse pegar seus atendimentos. Era o dia do seu primeiro plantão como residente, tudo poderia acontecer e isso não a assustava nem um pouco.

Com um sorriso apoiou-se na bancada enquanto olhava para Odette que tomava sua xícara de café.

- Bom dia doutora Robinson. - Sorriu entregando a pasta de atendimentos para ela.

- Bom dia Odette, querida. - Agradeceu enquanto pegava os papéis - Como está hoje?

- Indo né doutora, mas Deus está no controle. - Deu um gole em seu café - Animada para o primeiro plantão?

- Muito, o hospital parece tão calmo. - Disse folheando os papéis - Gosto da correria do pronto socorro mas a calmaria que o George Washington tem é uma delícia.

- Senhorita não contaria com a calmaria, geralmente no período da noite nosso trabalho é redobrado. - Riu vendo-a olha-la por cima da pasta - Olhe quem está ali, bom dia doutor Parker.

- Bom dia Odette. - Ele sorriu pegando a pasta.

Audrey olhou para o homem parado ao seu lado, tinha feito a barba e cortado o cabelo, estava mais bonito o que parecia ser impossível. Seu sorriso para Odette a fez piscar devagar, o que aquele homem estava fazendo com ela?

- Bom dia doutora Robinson, está muito bonita hoje. - Sorriu voltando seu olhar para os papéis.

- Bom dia doutor Parker. - Arrumou sua franja colocando a pasta fechada debaixo do braço - Muito obrigada por reparar, o senhor também está muito... muito bonito hoje.

Odette olhava para os dois enquanto tomava seu café, ela sentia a tensão entre eles mesmo que ambos não soubessem o que realmente sentiam.

- Com licença, bom trabalho Odette.

Audrey deu sua batidinha de sempre no balcão avisando que estava saindo, mas ao invés de caminhar sozinha como sempre fazia sentiu alguém atrás dela e sabia exatamente quem era.

- Pronta para o plantão de hoje doutora Robinson? - Perguntou colocando o estetoscópio ao redor do pescoço.

- Mais do que pronta, não deve ser tão difícil quanto o pronto socorro que trabalhei no internato.

Diferente do que era costume, o Hospital Infanto-juvenil George Washington recebeu um caso gravíssimo de um acidente de carro envolvendo quatro adolescentes, dois morreram entre as ferragens, um estava estável e o outro necessitava de uma cirurgia urgente para estancar o sangramento interno.

- Doutora Robinson, venha comigo. - Nate pediu enquanto caminhava a sala de cirurgia.

- Mas Doutor Parker...

- Audrey, você vem comigo. - Interrompeu-a vendo-a assentir com a cabeça.

Nate sabia o que estava fazendo, Audrey não parecia daquelas que adorava fazer cirurgia mas ele confiava nela e tê-la ao lado o ajudaria a tomar as decisões certas.

Foram dez horas intensas, toda vez que conseguiam controlar o sangramento ele começava de novo como se todo o esforço que estavam fazendo não significasse de nada.

- Robinson, a sutura é contigo. - Largou o equipamento.

- Onde vai? - Olhou-o por cima da máscara.

- A lugar algum. - Ele sorria por trás da máscara cirúrgica mas se alguém o perguntasse negaria até a morte.

Seus olhares se cruzaram, o coração de Audrey acelerou, não deveria ter acelerado mas ela não o controlava. Apenas engoliu seco nervosa enquanto assentia com a cabeça.

Nate olhava fixamente para o rosto da colega enquanto ela suturava o abdômen do rapaz, sorria vendo sua precisão e como ficava linda fazendo aquilo. Sentiu raiva de si mesmo por estar querendo-a muito.

***

Audrey estava sentada na cafeteria vazia, era seis da tarde e grande parte das enfermeiras e funcionários já estavam indo para casa. Ela passou as mãos no rosto tentando comer alguma coisa, mas estava cansada demais. Ainda pensava sobre como o olhar de Nate perfurou seu peito e atingiu seu coração como uma flecha certeira.

- Cansada? - O médico perguntou sentando-se ao lado dela.

- Um pouquinho. - Riu soltando seu cabelo - Ainda preciso ir conferir como o garoto está.

- Já fiz isso para você. - Olhou-a - Ele está muito bem, reagindo perfeitamente aos medicamentos.

- Que bom! - Sentiu-se reconfortada por aquela notícia - Agora temos que conferir a Patricia, a outra menina que sofreu o acidente.

- Vamos fazer isso em breve, agora tente comer alguma coisa. - Mordeu a maçã que segurava - Ainda temos quatorze horas de plantão.

Sorriu ao escuta-la rindo, ficava se questionando o porque gostava tanto do som de sua voz e principalmente de sua risada.
Nós sabemos que o encanto é de família, todas as irmãs da família Young receberam esse dom herdado da mãe que quando sorria recebia o mundo.

- O doutor não tem outros residentes para tomar conta? - Perguntou enquanto o olhava.

- Nós fizemos um trato, o hospital não é grande então temos poucos médicos. Cada especialidade tem dois residentes, então eu escolhi um e nossa colega doutora Lopez escolheu outra.

- Então você me escolheu?

- Escolhi, a semanas atrás quando sua residência foi aprovada. Nunca pensei que terminaria em um encontro contigo. - Riu cruzando os braços deixando o resto da maçã encima da mesa - Seu nome estava como Audrey Robinson, não como Audrey Young.

- Se arrepende?

- Do que? De ter te escolhido? Nunca. Você é uma das melhores profissionais com quem já trabalhei. - Negou com a cabeça enquanto sorria - Além de fazer com que as enfermeiras trabalhem mais rápido consegue cativar completamente a todos os pacientes, não só com sua beleza mas com o sorriso mais amoroso que já vi.

- Obrigada. - Disse sorrindo sem mostrar os dentes fazendo-o espelhar sua ação - Eu gosto de trabalhar com o senhor, só não gosto quando rouba meus atendimentos.

- Prometo que não farei mais isso. - Levantou as mãos como se estivesse rendido e gargalhou enquanto os abaixava - Acho que começamos com o pé esquerdo, por favor vamos recomeçar.

- Claro. - Estendeu a mão para cumprimentá-lo enquanto estampava um sorriso simpático no rosto - Muito prazer, eu sou Audrey.

- Muito prazer Audrey, eu sou Nathan. - Cumprimentou-a - Mas todos me chamam de Nate.

- Muito prazer, Nate.

Quando suas mãos se tocaram sentiram uma faísca entre elas, mas não sentiam vontade alguma de se soltarem. Então ficaram ali, de mãos dadas, olhando um para o outro de uma forma não tão desconfortável.

Foram interrompidos pelo barulho do bipe que apitava, Audrey olhou e assentiu com a cabeça dando o sinal de que era o dela.

- Caso leve, mais uma criança engolindo coisas que não devem ser engolidas. - Riu levantando-se - Vejo você depois? Nathan.

- Não acredito que vai me chamar assim. - Fechou os olhos enquanto ria com um pouco de vergonha do próprio nome.

- Eu cresci com duas irmãs, é claro que eu vou te chamar de Nathan. - Colocou as mãos na cintura depois de colocar o estetoscópio novamente em volta do pescoço.

- Tudo bem Audrey. - Disse abrindo os olhos - Te vejo depois, me chame pelo bipe.

Vendo-a se afastar, tirou de seu bolso o livro que estava lendo. Era o livro que havia pego emprestado sem pedir. Estava entendendo o porque ela disse que era uma leitura interessante, estava completamente viciado em cada capítulo que lia e prometeu a si mesmo que devolveria assim que terminasse.

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