TW: Violência Doméstica, menções à assassinato
Duas horas haviam se passado desde que o barulho de vidro sendo quebrado pela casa diminuiu, mas Mark não conseguia dormir. Ele finalmente achou seguro se levantar e respirou fundo antes de se sentar na cama. Suas costas reclamaram, ainda que ele tivesse tomado cuidado ao se mexer.
Mark já estava decidido, aquela era a última vez em que estaria naquela casa.
Andando o mais silenciosamente que pôde, abriu a porta do quarto e andou com cuidado entre os pedaços de garrafa no chão. O banheiro estava aberto, então era um risco de barulho a menos.
Resolveu não acender a luz. Ele abriu a torneira apenas o suficiente para lavar o rosto. Apenas para limpar as lágrimas, pois sabia que não estaria machucado naquele local. Seu pai jamais machucaria o tesouro que era seu rosto um dia antes dele ser entregue ao Alfa que ofertou o maior dote.
Puta hipocrisia.
Não adiantava mudar o nome para tentar enganar a lei. Todos sabiam que ele estava sendo vendido e sua família não daria a mínima para as condições em que viveria após o casamento.
O Alfa a quem foi prometido já tinha casado com uma mulher Ômega que faleceu “misteriosamente”, e agora com os fundos do trabalho dela ele havia pagado por Mark.
Mark sabia qual seria seu destino caso aquele casamento se concretizasse. Os rumores sobre a violência que a mulher sofria e seu pedido de socorro no supermercado onde trabalhava rodavam toda a cidade mesmo depois de um ano da sua morte. Ele não queria viver aquela vida.
Por vários anos ele estudou ciências, matemática, música, e trabalho do lar. Sempre contavam ao Mark como aqueles estudos seriam valiosos para ele no futuro, que junto à sua aparência ideal, com certeza ele encontraria um Alfa rico e gentil e ajudaria tanto no seu próprio futuro quanto o da sua família. Ele viveria um conto de fadas.
Só que conto de fadas não existiam. Nenhum dos adjetivos que ele sonhava que um parceiro deveria ter estavam presentes em nenhum dos pretendentes a quem era apresentado. E quando ele reclamou sobre isso, começou o inferno.
Aparentemente nada do que ele havia estudado, nenhum procedimento de beleza que seus pais tinham parcelado, eram o suficiente para que alguém com dinheiro e uma boa índole oferecesse um valor que sua família achasse justo referente aos anos de investimento.
Seu pai o culpava o tempo todo. Dizia que ele não tinha se esforçado o suficiente, que estava comendo demais, ou que seu comportamento junto aos Alfas era inadequado. Ele sabia que era mentira.
A primeira bofetada veio quando ele resolveu falar que tudo o que estava ouvindo dentro da sua própria casa era errado e o machucava. Mark sabia que seus esforços valiam a pena e que se comportava bem. Ele sabia a hora de falar, ele sabia como falar, sabia o que fazer e como agradar seus pretendentes.
Mas aparentemente, defender-se também era errado. Desde então, qualquer olhar errado era um motivo para que ele fosse agredido. E numa manhã ele foi acordado ouvindo que estava noivo de alguém que batia na ex esposa e poderia até mesmo ter assassinado ela.
A família ousou apresentá-lo ao Alfa com uma mancha de soco na bochecha. Mark ainda tentou cobrir com maquiagem, mas ainda assim seu “pretendente” percebeu. E a única coisa que o homem fez foi reclamar que não deveriam estragar seu rosto.
Mark apertou as bordas da pia do banheiro com a lembrança. Ele não iria casar r com aquele homem nojento e não ficaria ali sofrendo mais com seus pais.
Fechou a torneira e voltou para o quarto, pegando a mochila que estava escondida embaixo da cama e mais uma vez olhou suas roupas e o pouco dinheiro que conseguiu pegar do seu pai sem que ele notasse. Não se orgulhava dessa parte, mas até então nunca tinham permitido que ele tivesse um trabalho ou um centavo próprio, e sem dinheiro ele não chegaria longe. Suas costas ainda doíam, então ele colocou a mochila na frente de seu corpo e a abraçou. O que ele tinha para o resto da sua vida daquele momento em diante estava dentro dela.
Ele podia sentir o medo e a incerteza correndo em suas veias, mas sabia que o pior era ficar e ter a certeza de que sofreria nas mãos de um homem violento. Andando devagar, ele atravessou a casa. Por um descuido, ele conseguiu sentir um pedaço de vidro entrar na sola de seu pé e mordeu seus lábios para não fazer barulho.
Sentindo a dor piorar cada vez que pisava no chão, pegou os tênis que ficavam na porta de sua casa mas não calçou, querendo sair o mais rápido possível.
Ele saiu andando sem olhar pra trás. Estava sentindo o seu coração bater mais rápido no peito e as lágrimas ardendo em seus olhos novamente. Seu único plano era chegar na rodovia mais próxima e, com sorte, conseguir uma carona para a cidade mais longe possível.
Era perigoso, mas apenas a possibilidade de escapar do tormento em que vivia lhe dava um pouco de esperança. Mark sequer tinha um destino específico em mente, mas pensava que em algum lugar deste mundo iria encontrar pelo menos um lugar onde pertencesse.
"aura" estreia em 12 de Junho.
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aura ✧ GOT7 Fanfiction
Fiksi PenggemarMark luta internamente para acreditar que a sua vida e a de seu melhor amigo podem mudar da noite para o dia. Após anos vivendo à margem da sociedade, de repente ele se vê com BamBam, a pessoa que rapidamente se tornou prioridade em sua vida, no mei...