𝐓𝐖𝐄𝐋𝐕𝐄

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Esse capítulo faz parte da nova versão do livro!!

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Las Vegas – Estados Unidos

2019

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Acordei com batidas suaves na porta do meu quarto. Pisco sonolenta, esfregando os olhos, enquanto crio coragem para me levantar ou não. Viro o meu corpo para o lado, encontrando Leonora, que dormia profundamente, alheia ao som de segundos atrás.

Por um momento paro e penso se estou alucinando. Ultimamente minha mente não estava das mais saudáveis.

Procurei pelo despertador, e quando o encontrei em cima da minha escrivaninha, notei que ainda estava de madrugada, muito cedo para falar a verdade. Quem em sã consciência viria perturbar a essa hora?

Aperto minhas pálpebras por um segundo, antes de abri-las novamente. Passo o meu olhar pelo quarto, que estava um breu completo, contendo uma única luz que adentrava o ambiente, a mesma era a da lua, que invadia por uma fresta pequena da cortina. Mesmo assim, ela ainda não era o suficiente para iluminar nem 10% do lugar.

A temperatura não estava tão agradável. Estava frio, os ventos gelados eram de doer os ossos e ressecar a pele. Me amaldiçoei deste o momento em que cheguei, já que não havia trazido tantas peças roupas para esse tipo de temperatura.

Mais três batidas exatas me tiram dos meus pensamentos, fazendo toda minha atenção ir para a porta.

— Já vai. — balbucio, baixo suficiente para não acordar Nora.

Ela parecia estar num sono tão profundo e gostoso.

Desço da cama, calçando as minhas pantufas da Hello Kitty, antes de ir até a porta. Faço força sobre a maçaneta e fico confusa quando ela não cede. Não me lembro de ter trancado a porta.

Repito o mesmo processo, com um pouco mais de força e nada. A porta não abre.

— Quem está aí? — pergunto, encostando o meu ouvido na madeira. — Sinto muito, mas... Hã... A porta está trancada e eu não sei onde a chave pode estar. — comuniquei.

Claro, eu estava preocupada, pois querendo ou não, eu e minha mãe ficaríamos presas aqui até o amanhecer.

O silêncio prevalecia do outro lado da superfície. Seja lá quem estivesse do lado de fora, nem respirava direito, já que nem o ar dela eu escutava.

Sabe aquele pressentimento de que tem algo errado? Eu o sentia agora, aflorado e gritante.

— Quem está aí? — voltei a perguntar. — Nikolai é você!? — franzi as sobrancelhas, forçando mais ainda a maçaneta.

Agora eu estava decidida a abrir essa porta.

Meu celular apitou e me virei para ter noção da sua localização. Achá-lo agora seria uma boa. Para minha surpresa, ele não estava onde deveria estar.

Lembro-me perfeitamente de tê-lo deixado em cima da cômoda, que ficava de frente para a cama, todavia o aparelho não estava mais lá. Eu nem sequer tinha conhecimento de onde foi parar.

— Nikolai! Isso não tem graça!

Eu queria gritar com o garoto, mas também não queria acordar a minha mãe.

Meu celular apitou de novo, deixando eu em alerta.

Afastei-me da porta e fui à procura do eletrônico. Meus passos soando suaves contra o carpete, enquanto eu procurava debaixo da cama, dentro da cômoda, até mesmo na sacada e nada, era como se ele nunca tivesse estado dentro do quarto.

Será que eu realmente estava enlouquecendo?

Passei as mãos pelo meu rosto, subindo e agarrando os fios dos meus cabelos. Meus dedos firmes contra o meu couro cabeludo.

Sentei na beirada da cama, esperando. Caso ele apitasse novamente, eu seguiria o som.

Os minutos passam se arrastando, minha mão coçava, minha pele formigava e minha respiração saía entrecortada. Minha mente aos poucos deixava de saber o que era real ou não. Seja lá qual fosse a intenção de Nikolai, ele estava conseguindo mexer com a minha sanidade. Minha testa suava, não um suor normal, eu suava frio, batendo freneticamente a sola da pantufa contra o carpete.

Até que por fim ele apitou.

Uma.

Duas.

Três vezes.

Levantei devagar e caminhei em passos hesitantes até a porta. Pressionando o meu ouvido contra a madeira, percebi... Meu celular estava do lado de fora.

Agachei, inclinando-me contra o chão e olhei por debaixo da fresta, notando o pequeno aparelho no chão, com a tela ligada e vibrando, mostrando que alguém estava me ligando.

Ao longe vi um par de pés, cobertos com uma botina grossa, na cor preta. A pessoa caminhou devagar, sem pressa alguma, até parar em frente a minha porta.

Ali ela se manteve durante vários minutos.

Prendi a respiração, com os olhos ainda arregalados. Meus pelos enriqueceram, meu corpo aos poucos entrando em estado de alerta. Nervosa, apreensiva e com… medo.

Então, a pessoa se agachou, tomando o meu celular em mãos. O mesmo robusto e com veias saltadas, demonstrava que era um homem. Ele encerra a ligação, antes de voltar a ficar ereto.

Sua sombra era medonha, me dava calafrios. Por dentro eu estava apreensiva, meu coração parecia que iria sair pela boca.
Quem era ele? Nikolai não tinha um porte físico desse.

De uma coisa eu tinha certeza: Não era ele.

Aos poucos, com hesitação até mesmo de respirar, sai de perto da porta, arrastando o meu corpo pelo carpete e só parando ao sentir minhas costas se chocarem contra algo.

— Assustada boneca…?

Dei um sobressalto, girando a cabeça de supetão. Inferno!

Obriguei o meu corpo se mexer, ter algum tipo de reação, pois eu sentia que se pensasse demais, eu travaria e não teria uma mínima reação.

Arrastei-me para longe do homem, chocando as minhas costas contra a parede. Agarrei no primeiro móvel que vi, levantando com a ajuda dele.

Encaro fixamente a pessoa à minha frente. Minha garganta estava seca, minha pele com certeza estava pálida, e nunca foi tão difícil respirar. Não como agora.

— Quem… — puxei o ar, travando. — Quem é você…?

— Quem sou eu? — sua voz saiu rouca e indiferente.

Ele era sombrio, tudo nele era obscuro. Sua aura era sufocante e densa, eu me sentia tão pequena e impotente nesse momento. Minha cabeça estava a mil, girando e me deixando mais desesperada ainda.

Numa situação como essa eu deveria manter a calma e raciocinar, mas caralho, o quarto parecia pequeno e tudo agia de forma desconexa.

Eu não conseguia ver a face do sujeito, já que ele usava uma espécie de máscara, igual a que Nikolai usou naquele dia na floresta.

— Madyson. — sussurrou o meu nome. — Madyson… Madyson… Madyson. — riu, sombrio e sem ânimo. — Por que ele é tão obcecado em você? — indagou, sua cabeça inclinando sutilmente para o lado.

Ele?

— Ele quem? — soprei assustada e trêmula.

O homem tão assustadoramente mais alto que eu, deu um passo para frente, depois outro e depois outro, até parar na minha frente, seu rosto praticamente colado com meu.

Meu corpo não se mexia.

Minha respiração não saía.

Minhas mãos tremiam.

Eu tremia por completo.

— Você parece uma ratinha assustada… — zombou, seus dedos afastando uma mecha do meu cabelo, colocando-a atrás da minha orelha. — Exatamente como ele disse.

— Ele quem!? — desejei gritar e eu estava cogitando essa ideia.

Ele riu, uma risada diabólica e debochada, irritando-me.

Meu medo e minha raiva andavam lado a lado agora, e eu não sabia se me encolhia como a porra de uma criança assustada ou se partia pra cima dele .

— Madyson, está tudo bem aí? — uma pessoa questionou através da porta e pela voz deduzi ser Celine, mãe de Nikolai.

— Diga que está tudo bem. — ordenou o homem.

— Eu vou gritar… — avisei.

— Diga. Que. Está. Tudo. Bem. — mandou novamente.

Quando pensei em retrucar novamente, ele lentamente enfiou a mão dentro do bolso de sua jaqueta de couro, tirando de lá um canivete. A lâmina tão limpa que refletia a luz do luar.

— Vamos… Seja uma boa menina. — pediu com uma gentileza assustadora, erguendo o objeto em frente ao meu rosto.

Não pensei duas vezes.

Ele não era confiável e eu não queria colocar a minha vida em jogo.

— Está... tudo bem... tia. — falei, tremulando.

— Tudo mesmo, meu amor? — perguntou, mais preocupada do que antes.

— Sim. — afirmei, tentando soar o mais convincente.

— Cadê a sua mãe? — Celine indagou.

Mãe?

Minha mãe!

Já havia me esquecido que ela estava aqui no quarto, com as chances de acordar a qualquer momento.

— Minha mãe vai acordar. — avisei.

— Não, não vai. — deu de ombros. — Sua mamãe tomou umas boas quantidades de calmantes, confie em mim boneca, ela não vai acordar tão cedo. — debochou.

— Madyson. — Celine chamou-me mais uma vez.

— Minha mãe está dormindo, tia. — comuniquei.

— Livre-se dela. — pressionou a ponta do canivete sobre o meio do meu pescoço.

Segurei o ar, meus lábios tremendo, enquanto eu continha o soluço preso em minha garganta. Aos poucos percebi que o medo dominava todo o meu ser, meus olhos ardiam pelas lágrimas que eu recusava permitir que caíssem.

— Tia… — minha voz saiu levemente embargada e isso pareceu irritar o homem à minha frente, já que após isso, ele pressionou com mais força a lâmina contra a minha pele.

Respirei fundo, engolindo seco, tendo consciência que qualquer bola fora, o canivete romperia a porra da minha pele.

— Tia... eu acho que vou voltar a dormir. — avisei, apertando as unhas contra a palma das mãos. — Acho melhor você voltar para o seu quarto...

— Ah… certo... boa noite meu amor. — Celine soou suave, antes de seus passos irem se afastando aos poucos.

Durante todo esse tempo, ele me encarava, sem desviar o olhar por um único segundo.

Parecia que a cada segundo o ambiente ficava mais pequeno e sufocante, o medo era intenso, prendendo-me numa caixa apertada e escura. Eu iria enlouquecer desse jeito.

— Por favor… — solucei.

— Boa garota. — murmurou.

As lágrimas começaram a escorrer pelas minhas bochechas, meus pulsos tremiam e meu corpo estava desesperado por ar puro.

Esse homem era sufocante.

— Nos vemos por aí, Madyson. Considere isso como uma... — estalou a língua. — Pequena visita. Adeus. — despediu-se, indo em direção a porta, abrindo-a e saindo, sem se preocupar se alguém o veria.

Agora ela estava destrancada…

Fechei os meus olhos com força, recusando-me a acreditar que aquilo realmente estava acontecendo. Senti que as minhas pernas estavam cedendo, toda a gravidade do local me puxando incessantemente para o chão, e aos poucos meu corpo deslizou até ele.

Abracei os meus joelhos, tremendo e soluçando, como uma criança sem consolo. Passei a mão entre os meus cabelos, puxando os fios sem receio.

Aperto os olhos, soluçando.

Que porra tava acontecendo?

Fungo, passando as costas da minha outra mão pelo meu olho esquerdo, enxugando as incessantes lágrimas que caíam.

Tremi.

— P-por q-quê…? — engasguei em meio às lágrimas.

Arfando, passei a mão desesperadamente pelo meu peito, sentindo a dor aguda, causada pela falta de oxigênio necessária.

Em posição fetal, me mantive encolhida no chão, em um canto qualquer do quarto.

Eu queria gritar.

Eu queria alguém ali pra me ajudar, mas a fachada do “eu estou sozinha nessa” tomava conta de mim, clareando a minha mente.

Toda essa perseguição, sequestro e ameaças… Alguém acreditaria em mim? Alguém me ajudaria?

Eu nem ao menos sabia quem estava realmente envolvido nessa merda toda.

Apoiando-me no chão, fiz força e com dificuldade levantei aos arrastou, caminhando em passos confusos e difíceis até a sacada do quarto, necessitando de ar puro.

Apoio-me na grade da varanda, apertando os meus dedos em volta do metal. Meu choro não havia diminuído nem um pouco, muito menos o medo e apreensão em mim, os mesmos sentimentos dispararam pelas minhas veias.

Eu estava em estado de alerta… ou só em choque.

...


Senti a luz da manhã batendo no meu rosto, despertando-me do meu sono. Franzi a testa, colocando minha mão sobre a mina face na tentativa falha de me proteger do sol.

— Madyson, você dormiu aí? — dirigir-me ao autor da voz, encontrando minha mãe olhando para mim.

Pelo pijama ainda em seu corpo e o cabelo desgrenhado, ela também havia acordado a pouco tempo.

Resmunguei esticando o meu corpo, a palavra dormir era algo um pouco fora da realidade, já que mal preguei os olhos durante o resto da noite. O mínimo barulho me deixava assustada.

— Bem... escove os dentes e depois desça, o café está quase pronto. — avisou, sua voz serena.

Apenas assenti, esfregando os olhos.

— Madyson… — chamou e eu abri os olhos, notando que ela já estava perto da porta. — Eu estou aqui, baby, se precisar… É só me chamar. — pontuou docemente.

Senti meu peito afundar, todavia, assenti mais uma vez. Ela sorriu reconfortante e saiu, fechando a porta seguidamente.

— Eu preciso de você, mãe… — exasperei, só agora notando o quanto toda essa situação estava me cansando, lentamente, até me engolir por completo.

Agradeci mentalmente pela cama que tinha aqui na varanda, não era uma de casal, nem uma macia e perfeita, mas foi confortável o suficiente para me deitar ali e reprimir todas as minhas emoções.

Caminhei sem pressa até o banheiro, abri a torneira na intenção de começar os meus cuidados matinais.

“Você parece uma ratinha assustada… Exatamente como ele disse.”

“Por que ele é tão obcecado em você?”

Sai dos meus pensamentos, dando-me conta que estava parada, encarando a corrente de água.

Inclinei o meu corpo, juntando uma quantidade boa de água na concha das minhas mãos e joguei no meu rosto, repetindo o processo. Peguei uma escova de dente, dentro de uma das gavetas, abri o pacote e despejei um pouco de pasta.

Encaro a minha aparência deplorável no espelho, enquanto escovo os meus dentes. Minhas olheiras estavam profundas, deixando claro minha noite mal dormida, minha pele estava pálida, acho que desde ontem, meus cabelos desgrenhados e armados.

Bem no centro da minha garganta, havia um corte superficial, em volta a região estava avermelhada.

Na hora, eu nem senti.

Minha mãe dizia que é bom você deixar os sentimentos se alinharem, sem que você pule ou interfira nesse processo. Por exemplo, se você estiver de luto, respeite esse momento e passe por ele... Mas ela esqueceu de falar o quão difícil era isso na prática. Não gosto de “respeitar” essa fase, porque algumas delas são tão intensas que os resultados explodem para fora, interferindo para a sua aparência. As pessoas perguntam, as pessoas tentam ajudar, mas eu não quero ajuda ou perguntas, eu quero lidar com os meus problemas no silêncio e sem que ninguém saiba.

Sorria em público, se cure em silêncio, certo?

Eu aguentaria tudo sozinha, eu tinha que aguentar.

Após terminar tudo o que tinha que fazer no banheiro, apaguei a luz e fui para o closet. Procurei por algo básico de frio. Optei por uma calça de moletom vermelha e uma blusa de frio, branca e de gola alta.

Calcei minhas pantufas e saí do quarto.

Enquanto desci as escadas, só passava na minha cabeça: Onde diabos estava o meu celular?

Depois de ontem, acredito que ele esteja estraçalhado e enterrado.

Tá, talvez não seja pra tanto, mas eu não tenho culpa se meu cérebro sempre pensa o pior.

— Bom dia. — murmurei, sentando ao lado de Celine na mesa do café.

— Bom dia. — alguns responderam em uníssonos. Nikolai e Christian não estavam nesse meio.

Mal educados.

Nikolai me devia pelo menos um pedido de desculpas. Esse fetiche de me perseguir e me traumatizar já estava indo longe demais.

Eu tiraria essa história a limpo ainda hoje.




Um susto básico pode?

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Um susto básico pode?

Não vou mentir, me coloquei no lugar da nossa Madyson e fiquei com dó dela... Mas não me arrependo de nada :)

COMENTEM E VOTEM BASTANTE PARA ME MOTIVAR, GOSTOSAS!!

Um beijo da Malu 🤍

𝐒𝐋𝐎𝐖 𝐃𝐎𝐖𝐍Onde histórias criam vida. Descubra agora