capítulo 18

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— POV: Cristal

Acordo com a notícia de que ganhamos dos Ballas e acabei de passar por uma cirugia. Gostaria de me concentrar apenas nesse primeiro acontecimento, mas é impossível ignorar que estou deitada em uma maca e cheia de faixas. Apesar disso, esse não é o pensamento que está ocupando a minha cabeça no momento.

Renata foi a primeira pessoa que eu vi quando abri os olhos. Ela quase me abraçou mas, antes que fizesse a merda, percebeu que iria me machucar. De qualquer forma, o alívio e a felicidade estavam estampados no seu rosto.

Desde o momento em que Renata parou de me responder até eu perder a minha consciência, eu não parei de pensar nela. Nós estávamos brigadas e, subitamente, eu poderia ter perdido ela. É como dizem, só percebemos essas coisas nos piores momentos. Eu fiz merda e preciso concertar isso.

     Ela segura a minha mão enquanto me conta o que aconteceu. Nenhuma de nós duas é uma pessoa que gosta tanto de contato físico, muito menos eu, mas o toque de Renata é bem reconfortante nesse momento. Escuto ela falar sobre como conseguimos derrubar todos os Ballas sem que muitas das nossas fossem muito afetadas, sobre como Nalla saiu da cirurgia pouco depois de mim e também está estável... fico orgulhosa das minhas meninas por terem conseguido, ainda mais sem mim e a Renata para orienta-las. Acho que essa guerra acabou - antes tarde do que nunca -, o que significa que eu finalmente posso resolver as minhas próprias questões.

- Eu fiquei muito preocupada com você, sabe? — Eu falo, chamando a atenção de Renata.

- Quando eu tava com a Nalla? — Renata pergunta e eu concordo - Acho que quando eu falei com a Selena você já tava... caída.

- É, provavelmente — Eu faço uma pausa, me preparando psicologicamente para a possível conversa que vamos ter agora — Eu nunca me perdoaria se algo acontecesse com você, Renata. Ainda mais se a gente tivesse brigado por besteira horas antes.

- Eu pensei a mesma coisa sobre você na hora da cirurgia. A gente precisa resolver isso, Cri. Não dá pra ficar brigando por ciúmes ou seja lá o que seja toda hora. Não é bom pra facção e muito menos pra gente.

     Não vou admitir o ciúme - que nem é tão grande assim -, mas preciso concordar com a Renata. Essas brigas estão afetando nossa dinâmica como 01 e 02, como amigas, como... algo a mais... como tudo.

- Eu sei. É por isso que a gente devia conversar — Eu falo e olho ao redor — Aqui não é o melhor lugar mas, enfim. Eu quero resolver isso logo e a gente tá sozinha nesse quarto.

     Renata apenas concorda e cruza os braços, esperando que eu continue meu raciocínio.

- Não é a primeira vez que eu falo isso e certamente não vai ser a última, mas é algo que eu preciso falar: Eu tenho medo, Renata. Eu tenho medo de perder o que eu construi em todos esses anos, e eu não tô falando só das Hells Angels. To falando da gente, Hell e Angel. Você sabe que eu tenho meio que um trauma com essa questão de ter algo com alguém de dentro e tudo, mas eu não quero deixar que isso afete a minha vida, pelo menos não mais do que já afetou.

- Eu também tenho medo, Cristal. Muito mesmo. Essa facção é a coisa mais importante da minha vida, e isso inclui você, a gente. Eu não quero perder isso mas... quem disse que a gente iria perder? — Renata fala, sentando no canto da maca.

- Sempre existe uma possibilidade, mas acho que desde Maldivas, talvez até antes, eu tenho pensado em como seria se eu descartasse essa possibilidade. Se eu parasse de pensar nas coisas ruins que poderiam acontecer e, em vez disso, tentasse viver o momento e... deixar rolar.

- Deixar rolar?

- É, deixar que isso aqui que a gente tem aconteça naturalmente. Sem ligar para as consequências que isso poderia ter, entende? É claro que a gente tem que ter maturidade e responsabilidade para não deixar que isso afete a nossa vida profissional, mas por que a gente não pode simplesmente... ser? — Eu falo, esperando que faça sentindo.

     Eu odeio falar sobre os meus sentimentos. Eu nunca faço isso, nem mesmo com a Renata, mas é preciso reconhecer que as vezes é necessário. Se eu e Renata continuarmos nessa situação, eu vou acabar perdendo ela de qualquer forma.

- Eu prefiro correr esse risco e tentar algo do que te perder sem nenhum motivo — Eu acrescento.

- Eu também, Cri. Eu não sei quando esses sentimentos começaram mas... existe algo. Algo que eu quero explorar, se você estiver disposta — Renata fala.

- Eu quero, Renata. Eu quero muito.

     Renata sorri com isso. Sinto ela apertar a minha mão e eu aperto de volta, sentindo o nervosismo se esvaindo aos poucos.

- O que isso significa pra gente então? — Renata pergunta.

- A gente não precisa ficar com essa besteira de rótulos e tal, você não acha? Como eu disse, a gente pode só viver isso e ver no que dá — Eu respondo e ela concorda com a cabeça.

- É, acho que isso pode dar certo.

- Acho que pode sim.

     Ficamos alguns segundos só sorrindo uma para a outra até que alguém bate na porta. Aviso que a pessoa pode entrar e vejo o rosto de Selena surgir por uma fresta.

- Tô interrompendo? — Selena pergunta, observando a cena com curiosidade.

- Pode entrar, Selena — Eu falo enquanto Renata segura o riso.

     Selena entra e fecha a porta, sentando em uma poltrona próxima de Renata.

- Vocês se resolveram ou não? — Selena pergunta. Sempre bem discreta.

- Nos resolvemos, Se — Renata responde, sorrindo para mim em seguida.

- Isso quer dizer que eu sou herdeira da Cristal agora?

- Selena! — Renata a repreende e eu tento não rir.

- Não força, Selena. A gente só... vai vendo — Eu falo.

- Mas vocês são o que? — Selena pergunta.

- Vai vendo — Renata responde — Mas... e você e a Cecília? O que tá rolando?

     Selena fica toda errada, desmentindo tudo que a Renata fala e explicando que foi uma ficada de festa e que elas são boas amigas. Eu acredito que tenha algo a mais rolando, mas não acho que Selena vá admitir. Bem, quem sou eu para julgar?

- Eu não dou a mínima contanto que vocês não façam merda. Lembra que ela é uma recruta, Selena — Eu falo.

- Não dá a mínima? Que tipo de "mãedrasta" você é? — Selena fala com um tom ofendido.

     Eu e Renata rimos e, em certo ponto, Selena começa a rir também. Dói um pouco quando eu rio, provavelmente por conta dos pontos que levei, mas consigo aguentar. Não quero estragar o momento.

     Eu e Renata somos algo. Não que nós não fossemos antes, mas finalmente conversamos sobre. Agora, não existe mais regra para nos impedir. Ainda existem medos, mas nós somos adultas e podemos lidar com isso. Juntas.

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OBSERVAÇÕES:

     Renata e Cristal conversando sobre sentimentos? Isso é um sonho?

minha preferida - crisnataOnde histórias criam vida. Descubra agora