Sombras do Passado

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Após horas de tensão sufocante, Sam e Ethan finalmente conseguiram reforçar a porta principal da delegacia. O som estridente de madeiras sendo pregadas e móveis sendo arrastados ecoou por todo o local, mas agora, o silêncio era quase ensurdecedor. Lá fora, os gemidos dos zumbis haviam diminuído, como se a ausência de movimento os tivesse deixado inquietos, mas inertes. Ainda assim, ninguém ousava relaxar.

O silêncio mútuo vagava pelo local como sombra. Nem mesmo os mortos perturbaram durante o resto da noite. Tudo ali era desconhecido, o prédio era enorme, mas nenhum de nós teve a oportunidade de vasculhar. Confiavamos que o local onde transitavamos era seguro, sala principal, cozinha e banheiro, apenas!

Dean permanecia ao meu lado, imóvel. Seus olhos, avermelhados pelo cansaço e desespero, estavam fixos em mim. As mãos cobertas de sangue tremiam levemente enquanto ele pressionava os curativos improvisados em meu abdômen. A respiração dele era irregular, como se cada segundo sem resposta fosse uma batalha para não sucumbir ao medo.

– Dean... – a voz grave de Ethan ecoou baixinho, carregada de expectativa. Ele estava de pé, um pouco afastado, observando o amigo com preocupação. Mas Dean não reagiu, nem sequer desviou o olhar. Seu foco era absoluto: eu, deitada sobre aquela mesa improvisada, pálida, imóvel, presa em um sono profundo que mais parecia uma prisão!

– Agora... esperamos! – murmurou Dean, quase inaudível, enquanto uma sombra de preocupação tomava conta de seu rosto. Ele não tirava os olhos de mim, como se pudesse me trazer de volta apenas com a força de sua determinação.

Dean atravessou o corredor da delegacia em passos pesados, o peso da culpa cravado em seu peito. As paredes manchadas e a luz tremulante do teto pareciam zombar de sua incapacidade. Cada passo parecia ecoar em sua mente, uma batida surda que não conseguia calar o turbilhão de pensamentos. A minha imagem, frágil e à beira da morte, era como uma lâmina girando dentro de si. Era algo que ele lembrava da medicina, e que ele odiava!

Ele empurrou a porta do banheiro com força, e o ranger da dobradiça soou como um grito em meio ao silêncio. A luz fluorescente piscava acima de sua cabeça, projetando sombras irregulares nas paredes manchadas. O cheiro de ferrugem e água estagnada invadiu suas narinas, mas ele não se importou. Seus olhos estavam fixos no espelho à sua frente, um reflexo distorcido que parecia rir de sua impotência.

A imagem no espelho o encarava com desdém. Um rosto exausto, olhos fundos, mãos manchadas de sangue seco. Ele respirou fundo, mas o nó em sua garganta apenas apertava. Então, sem aviso, seu punho disparou contra o vidro, estilhaçando o espelho em dezenas de fragmentos que caíram como chuva.

– Droga! – gritou, a voz ecoando nas paredes.

Ele apoiou as mãos na pia, ignorando o sangue que escorria de seus dedos. A dor física era uma sombra em comparação ao que sentia por dentro. Ele era um médico, alguém que deveria salvar vidas, mas não conseguira proteger todos. Eu estava à beira da morte, e ele sabia que nada do que fizesse garantiria minha recuperação. Dependia apenas de mim!

A água fria da torneira começou a diluir o sangue que escorria pela mão, formando redemoinhos rosados no ralo. Ele fechou os olhos, tentando se recompor, mas a culpa o consumia como ácido.

– Você precisa ser forte! – murmurou para si mesmo, com a voz trêmula.

Dean envolveu a mão ferida em um pedaço de pano que encontrou por ali, improvisando um curativo rápido, pois ele não tinha tempo para se lamentar.

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