neve

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Sozinha na neve.
Sem roupas e sem pele.
Eu estou só.
Totalmente só.
Ando por quilômetros até não aguentar mais, para ver se em ti consigo chegar e me abrigar.
Afinal como iria me abrigar e em ti morar?
Como iria eu, ter um lugar para chamar de lar?
Quero contigo me fundir.
Só você faz minha vida de fato fluir.
Só você faz eu me sentir feliz.
Mas também é você quem faz meu coração partir.
Ainda na neve, eu sangro enquanto ando, enquanto corro, e finalmente te encontro.
Te abracei mas você parecia não ligar pra mim.
Estava focado no seu próprio jardim.
Você não queria morar em mim.
Não queria comigo se fundir.
Queria era de mim desistir.
Até que me dei conta.
Você também estava nu.
Diferente de mim o frio te congelou.
E lhe matou.
Então só a mim restou.
Você se tornara uma estátua sem alma.
Até que eu a acho por aí.
Eu devoro sua alma com todo o meu ser.
Com todo o prazer.
Agora há duas almas em meu corpo.
Precisava te ter.
De um jeito ou de outro.
Eu precisava te ter.
Senti ela querendo sair de meu corpo.
Querendo contigo também ir.
Mas quem disse que eu iria permitir?
Eu nunca mais te deixaria partir.
Vivi assim.
Na neve nua.
Me sustentado do seu corpo.
Foi quando só restou seu coração.
Sua alma junto a minha se recusou a come-lo.
Mas minha carne precisava comer.
Precisava se favorecer.
Precisava de algo para se erguer.
Larguei seu coração em prantos.
E finalmente deixei você e sua alma partir.

a mente de um poetaOnde histórias criam vida. Descubra agora