Interrogatório

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— Onde você estava as 23h? — O policial questiona.

— No restaurante Good Taste. — respondo sem hesitar.

Estamos nessa sala a mais de uma hora. As perguntas são as mesma. Acho que ele espera que eu mude a resposta ou me enrolo na hora de falar. Os olhos do homem de meia idade me fita. Olhos azuis como o mar e sombrios como um demônio.

— Sempre frequenta esse local?

— Sim.

— Certo. Então recapitulando... Você teve uma reunião aquele dia. Todos entraram no apartamento. Ás dez e cinquenta e cinco você saiu para jantar. Ás onze Yan entrou em seu apartamento. Ás onze e quinze ele saiu. Yan alega ter ido lá buscar uma chave para Emma, que esqueceu em seu quarto devido a uma discussão. Por que vocês discutiram aquela noite?

Lilith se ajeita na cadeira ao meu lado, parece um tanto incomodada com a pergunta ou com a resposta que eu posso dar.

— O motivo foi o marido dela. — respondo vagamente.

— Explique.

— Emma queria uma noite de nostalgia, mas eu neguei alegando que ela era casada. Então discutimos ao tocar em feridas do passado. — Tento ser breve nas respostas para não incomodar Lilith, mas o policial não parece se importar com isso.

— Me explique a história que você tem com Emma.

Suspiro fundo ao notar que não tem como eu fugir desse interrogatório.

— Emma e eu nos conhecemos assim que fechei contrato com a editora em que ela trabalha. Eu e ela começamos um relacionamento alguns anos depois. O relacionamento durou cerca de dois anos e meio, era tudo escondido. Ela tinha medo de que isso atrapalhasse em nossas carreiras profissionais. Então Emma conheceu o atual marido dela em uma dessas festas de premiação, não me lembro o nome. Foi então que ela decidiu que ele poderia alavancar sua carreira, mais do que eu poderia.

— Então... ela te traiu? — ele questiona anotando as minhas respostas em um bloco de notas.

— Sim.

— E mesmo assim ela continua trabalhando para você?

— É complicado.

— Explique.

Sinto a inquietude tomar meu corpo. Eu realmente não quero falar sobre isso...

— Quando eu a conheci ela era... relaxada. Não tinha muita ganancia na vida. Muito menos desejos. Trabalhando comigo eu apresentei para ela o poder que uma carreira tem. Mostrei o valor de ter um nome. E ela gostou... Gostou tanto que quando percebeu que não poderia chegar no topo ao meu lado, ela pulou fora do barco. Ela alega que me ama, mesmo depois de tudo. Ou pelo menos acha que me ama.

— Emma Denver sabia da existência do livro?

— Não. Ninguém sabia. Era um diário particular.

— Ela se diz grata por você, mas te trai na primeira oportunidade. Você acha que Emma Denver possa ter vazado o livro?

— Não! — digo. Emma pode ser muita coisa uma filha da puta, mas não acho que ela tenha vazado o livro.

— Você mesmo disse que são intimas, ela pode ter visto uma oportunidade de acabar com sua carreira. Inveja talvez?

Mantenho o silêncio. Emma não teria Inveja de mim a esse ponto, teria?

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