Tão Justa

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Escuto Lilith digitar a senha da fechadura da porta, mas meus olhos estão iludidos pela beleza da entrada de sua casa. Apesar da escuridão da noite sem lua ainda é notável a beleza do lugar. O condomínio é fechado o que trás uma segurança a mais para mim. A entrada da casa é composta por uma grama verde que reluz aos olhos, e um pequeno jardim a direita muito bem cuidado por sinal... Escuto os passos de Lilith indicando que a porta foi aberta, caminho logo atrás a seguindo. Assim que meus olhos caem sobre o interior, me questiono se sei aproveitar bem o dinheiro que a fama me ofereceu até aqui. O interior é mais minimalista com cores neutras exceto pelas pinturas dos quadros abstratos. A escada que leva ao segundo andar é composta por vidro. A sala é gigante com uma enorme televisão e uma grande estante de livros, o que certamente ganhou meu coração.

— A geladeira e a dispensa sempre é abastecida nas sexta feira. Se quiser alguma coisa em especifico pede para a Solange. Ela que organiza a administração dos funcionários na casa. — a advogada explica colocando sua bolça sobre a mesa de estar. — Se você notar um homem de terno rondando a casa, não entre em desespero é o Rodrigo ele é o meu segurança pessoal. Às vezes eu o dispenso, mas nem sempre dá para fazer.

Aceno com a cabeça ainda incrédula com tanto luxo e proteção. O que Lilith esconde?

— É muita proteção... — comento ainda me sentindo longe.

— O termo advogada do Diabo não é só um apelido.

Meus olhos caem sobre ela. Engulo em seco, entendo que seu serviço traz certos perigos. Não sei se estou tão segura assim.

Ela começa a subir as escadas então eu a sigo. O segundo andar é composto por quatro quartos e dois banheiros no corredor. Lilith para de frente a última porta, mas antes de virar a maçaneta ela diz:

— Pode ficar com esse. — Ela aponta para a porta da frente.

Aceno e entro no quarto indicado à mim. O quarto é grande, posso notar a presença de mais um banheiro aqui dentro. De frente para cama há um grande guarda-roupa. Coloco a mala sobre a cama e vou direto para o banho. Ainda consigo sentir o cheiro do sangue fresco em minha pele.

O cheiro da água quente toma o banheiro. Tiro minha roupa evitando me olhar no enorme espelho a minha frente, mas é em vão meus olhos caem sobre a minha pele suja de sangue seco. Meus olhos fitam meu reflexo profundamente como se fosse me puxar para dentro. O vidro logo se embaça deixando meu reflexo tampado, então volto para a realidade e entro debaixo da água... minha pele responde ao toque quente do liquido. Fito a água vermelha escorrer até o ralo do banheiro. O cheiro da morte se esvaindo entre o sabão de coco. Eu deveria ter remorso? Deveria me arrepender? Acima de tudo ele era um homem, filho de alguém... Todo mundo é filho de alguém. Esse sentimento em meu peito... justiça... É errado? Se aquela caneta não tivesse lá... se me faltasse coragem... se eu congelasse no momento em que ele arrancou a toalha de meu corpo... Se! Se tudo isso tivesse acontecido ele estaria respirando e eu... eu não estaria aqui me sentindo tão justa. Ele mereceu e pensar assim me faz pensar se eu deveria questionar meu caráter. Deveria?

Desligo o chuveiro quando noto as pontos de meus dedos se enrugar. Me enrolo na toalha e caminho até a beira da cama. Observo as roupas mal colocadas na mala, e noto que fiz essa mala sem ver o que estava colocando dentro. Visto uma roupa intima e uma camisola de cetim. A única roupa de dormi que trouxe.

Jogo a mala no chão e me deito sobre a cama. Me enrolo nos lençóis finos e então deixo o cansaço tomar meu corpo.

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