Linha na Agulha

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— Repassa a sua versão mais uma vez. — o policial a minha frente pede pela terceira vez.

— De novo?! — Começo a perder a paciência. — Já disse! Muita gente entra e sai desse apartamento, eu tenho assessores, amigos e empregados. Não tem como eu saber quem roubou a merda desse livro! Ele não ficava escondido, ficava na cômoda ao lado da minha cama. O exemplar é um caderno de anotações. Tivemos uma reunião de serviço as sete aqui. Eu sai ás dez e cinquenta e cinco para jantar. Quer que eu repita?!

O homem de meia idade cabelos grisalhas e barba mal feita me olha dos pés à cabeça. Seu olhar é de julgamento e posso afirmar que pela raiva no olhar ele está considerando me prender.

— Não. — ele responde fechando o caderno de anotação em sua mão.

— Nenhum sinal de roubo, senhor. — o policial mais novo fala entrando na sala. Ele estava em meu quarto pegando informações para investigação.

Olho para ele irônica, afinal eu falei para ele que não havia sinal de roubo, mas ele insistiu em entrar em meu quarto. O policial de meia idade, volta seus olhos para mim e diz:

— Vou abrir a investigação.

— Qualquer novidade entre em contato comigo. — Emma pede entregando o cartão ao homem à minha frente.

Ele pega o cartão e caminha até a porta, mas antes de se retirar ele para, olhando para mim ele comenta segurando um sorriso entre a boca:

— É um belo livro!

Eu poderia voar nele. Faze-lo engolir sua própria lingue. Pega esse rosto nojento e enfiar dentro de uma vaso sanitária de um local público!!

— Espere até ler a página 168. — é tudo que digo, contendo a raiva em um sorriso semicerrado.

O homem então se retira junto com seu parceiro. Assim que a porta se fecha um travesseiro voa em meu rosto, olho em direção a Emma que acabou de remessar ele, novamente irritada!

— Que? — Me faço de desentendida. — Eu sou gay agora né, melhor do que puta não acha? — questiono em forma de reprovação, mesmo segura com minha bissexualidade.

Denver parece percebe o amargo em minha voz, porque abaixa a cabeça sem jeito.

Eu nunca fiz nada errado. Sempre andei na linha. Escrevi livros com lindas histórias. E frequentemente ajudava as pessoas. E agora eu sou uma puta! É tão fácil mudar o caráter de alguém nesses tempos de hoje. A ruiva a minha frente parece perceber agora, que desde que entrou nesse apartamento hoje, não para de me atacar e julgar, por algo que nem é minha culpa!

— Vamos ao seu quarto, Karina. — ela pede.

Olho para Robson acenando com a cabeça para que ele possa ir embora. Quezia também já estava de partida então sai pegando suas coisas. Me abraça e diz que vai avisar quando chegar em casa. Robson sai junto com ela. Me deixando a sós com Emma.

— Pode falar! — digo sem me levantar do sofá. Com a ausência de todos, a sala se tornou um ambiente para conversar em particular.

A mulher ruiva a minha frente, com cabelos bagunçados devido ao dia longo de trabalho duro me olha com pena... depois de um longo suspiro ela se senta ao meu lado e começa a falar:

— Desculpe a grosseria. Eu fiquei tão chocada com as notícias que acabei esquecendo que você é a vítima da história. É a sua vida intima na internet. É a sua carreira, Karina. Desculpa por hoje.

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