Certo ou Errado?

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Observo Quezia rir para a tela do celular. Hoje seria a noite do filme já que passei o dia inteiro sozinha no tedio, mas olhar para Quezia está mais interessante. Ela digita e para, e nas pausa entre essas duas ações fica sorrindo como se estivesse chapada. Estamos a mais de meia hora sentada no sofá. Eu deveria estar rodando o catalogo da Netflix à procura de um filme ou serie que possa me distrair por mais alguns dias trancada, mas os sorrisos de Quezia tá mais atrativo no momento. Com que ela tanto conversa? E quem está por trás da risada? Não me lembro dela falar algo sobre alguém nos últimos dias, mas se bem que desde ontem não tá dando para me revelar nada...

— Um milhão! — grito na sala.

Ela se assusta dando um pulo do sofá. Por pouco seu celular não é arremessado para longe. Ela me olha incrédula, olha para tv tentando relacionar meu grito com alguma coisa. E então pergunta nervosa:

— Que?!

— Pago um milhão para saber quem está do outro lado da tela desse celular aí. — digo e volto a roda o catalogo na tv.

— Idiota! — Ela resmunga, voltando a atenção para a tela do celular. A princípio acho que ela vai me ignorar, mas logo completa... — Aderir essa nova tecnologia...

— Tinder?! — questiono incrédula. Quezia nunca foi dessas. Nunca!

— Não! Encontro às cegas. — ela fala como se não fosse pior do que um aplicativo de namoro.

— Espera! Deixa eu ver se eu entendi. Você tá conversando com um cara, que a princípio você não sabe como ele é, mas está completamente apaixonada?

— Eu não estou apaixonada!

— Claro que não. Sou eu que estou rindo para o celular.

Ela revira os olhos. Pela sua reação está começando a perder a paciência comigo, o que eu acho injusto já que ela vive me irritando.

— Pelo menos ele não é minha advogada.

Dessa vez sou eu que reviro os olhos. Me levanto do sofá desistindo de assistir qualquer coisa.

— Quando você for embora fecha a porta. Eu vou tomar um longo banho. — digo caminhando para meu quarto.

— Tá bom. Eu também já vou. Tenho um encontro. — ela menciona toda melancólica.

Espero que não seja uma farsa de homem. Porque conhecendo minha amiga ela com certeza já está muito encantada para não sofrer.

Entro no quarto escutando a porta da saída sendo trancada. Olho o celular sobre a cama e me lembro que não peguei nele o dia inteiro. Na verdade meio que estou evitando qualquer contato direto com a internet. Percebo que tem algumas mensagens de Lilith. Em uma delas ela diz ter novidades sobre um suspeito que está espalhando os arquivos pela internet, e que mais tarde passaria aqui em casa. A outra mensagem é um arquivo sobre o caso em aberto. Abro, mas as palavras difíceis e a formalidade me faz desistir de tentar entender, quando ela passar aqui pergunto pessoalmente. Jogo o celular na cama e vou direto para o banheiro.

Ligo o chuveiro na água quente, deixando a fumaça subir e exalar pelo banheiro, como uma sauna. Retiro as pesas de roupa uma por uma fitando o reflexo de meu corpo no espelho. Percebo que perdi alguns quilos, certamente porque não ando me alimentando bem nos últimos dias... Entro de baixo da água deixando o liquido quente bater contra minha cabeça e escorrer por meu corpo. Uma das melhores terapia é um banho longo e quente. Me ensaboo e enxaguo tirando o suor e o cansaço de minha pele. Enquanto enxaguo o cabelo, um barulho de algo caindo no chão ganha minha atenção, levo a mão no chuveiro para desligar, mas me lembro que pode ser Quezia, então continuo meu banho... O barulho da água é forte, mas uma música vindo do lado de fora toma o banheiro mesmo assim. Desligo o chuveiro e me enrolo na toalha, deixando o cabelo molhada sem secar. A música que toca não me é estranha, mas também não sei dizer qual é. Uma música antiga... Quezia não gosta desse estilo de música! Levo a mão até o balcão do banheiro caçando alguma coisa ponte aguda, mas tudo que acho é uma tesoura de cortar cabelo, a pego. Me arrependo drasticamente de ter deixado o celular sobre a cama.

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