Anjo de Vidro

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É oficial, o Cheshvan começou.
Não sei bem se é suposto eu sentir me diferente. A única coisa que sinto é vómitos. Estou enjoada, talvez por estar muito nervosa. Afinal como é que distingo os que me podem possuir e os que não podem? Nem dá hipótese de fugir, quando for a ver estou a assaltar um banco ou a fumar marijuana só porque um anjo caído pode fazê lo.
Mais uma semana passou com o Nathan a ignorar me. Voltei a vê lo da sala de Pintura. Continuava a trabalhar no mesmo desenho.
Eu e o Matt andamos. A Cara ficou toda entusiasmada.
-A sério? Oh meu Deus estou tão feliz por ti Angie!
Encheu me de beijos e abraços e riu se como se não houvesse amanhã.
-Calma!
-Eu estou calma! E muito feliz!
O meu telemóvel tocou interrompendo o abraço dela.
-Se for o Matt, põe em voz alta! - ela não pediu isto, ela ordenou.
Olhei para o ecrã. É mesmo o Matt.
Atendi e coloquei em voz alta.
-Tô?
-Olá Angie!
-Oi Matt!
-Eu estava a pensar...a...a minha mãe queria saber se queres vir jantar cá a casa amanhã. Vens?
-Sim, claro! Quem vai lá estar?
-A minha mãe, o meu padrasto e o Jason.
-Jason?
-Sim. Ele é o meu melhor amigo, vive comigo desde que perdeu os pais. É praticamente meu irmão.
-Ah ok. Então até amanhã!
-Adoro te...
-Também te adoro Matt. Beijo!
Desliguei e a Cara rebentou de alegria rindo, gritando e rebolando pela minha cama.
-Estás bem? O que é que andaste a fumar? Estás toda passada hoje.
-Não estás a perceber! Ele convidou te para jantares com a família dele. Vocês são praticamente casados!
Esta rapariga é uma exagerada.
Rimos as duas.

A minha mãe ficou muito entusiasmada também e por muito estranho que pareça o meu pai gostou da ideia.
São 19h06 e o jantar é às 20h00.
Estou nervosa. E se os pais dele não gostarem de mim? Que roupa é a mais apropriada? Estou a enlouquecer.
Optei por vestir um vestido preto, curto, com mangas pelo cotovelo de renda e as costas também eram de renda. Calcei uns sapatos de salto alto pretos. O meu vestido tem bolsos e guardei lá o telemóvel e as chaves. Penteei o cabelo deixando o solto e defini um pouco mais os meus caracois ruivos imperfeitos.
Um pouco de lápis preto nos olhos e um pouquinho de gloss de framboesa. Estou pronta.
Despeço me dos meus pais e saio.
Matt enviou me a morada para o telemóvel mas foi um pouco difícil de encontrar a casa.
Avisto o portão preto de que ele falou. A casa é enorme. Até acho que "enorme" é uma palavra muito pequena para descrever o tamanho da casa.
Toco à campainha e o portão abre se e já consigo ver Matt perto duma fonte no centro do jardim da frente. Estaciono ao pé dessa fonte e saio do carro.
Os olhos de Matt fixaram se nos meus e eu sorri. Deu me a mão e fomos para dentro.
-Estás linda! Estás sempre!
-Obrigada.
A mãe dele recebeu me com um sorriso. Uma mulher linda de cabelos louros, compridos e encaracolados e olhos azuis. Vestia um vestido azul escuro, o que realçava ainda mais os seus olhos, com saia rodada e uns saltos castanhos.
-Olá, minha querida! Muito prazer, sou a Eva Adams.- abraçou me.
-Sou a Angelina. Muito prazer.
-Que nome tão lindo para uma menina tão linda!
Sorri.
Um rapaz desceu as escadas. Alto, musculado, olhos negros e cabelo escuro. Sorriu.
-Sou o Jason. - estendeu a mão.
-Angelina.
-Angel...
Não gostei do sorriso manhoso que fez ao dizer o meu nome.
Matt andou até à sala de jantar e eu segui o. O pai dele levantou se e veio ter comigo. Matt é a cara chapada do pai mas este é mais sério. Ao contrário da sensação de ser bem vinda que senti com a Sra. Adams, o pai do Matt parece querer que eu me vá embora.
Mantenho o sorriso e de mão dada com o Matt.
-Boa noite, pai! É a minha namorada, Angelina.
-Boa noite, Angelina. Sou o Ryan Adams.
Apertei a mão que ele me estendia e Matt levou me para o quarto.
-O teu pai não gostou muito de mim.
-É impossível não gostar. - disse abraçando me por trás enquanto eu olhava para as fotografias nas prateleiras. Deu me um pequeno beijo no pescoço.
Reparei que nas fotos na praia o Jason nunca tirava a camisola, mesmo dentro de água. Estranho.
Matt foi até à cozinha falar com a mãe e fiquei sozinha no quarto.
-Quem diria que o mariquinhas do Matt iria arranjar uma namorada tão boa!
Olhei para a porta e estava lá Jason com o seu sorriso de quem está aprontando qualquer coisa.
Ignorei o mas ele entrou e fechou a porta atrás de si.
Aproximou se e olhou para o meu pulso.
-O que é isso?
-Queimadura. - espero que a minha voz não denuncie a minha mentira.
Sorriu de novo e puxou me para si pela cintura.
Tentei afastá lo mas...havia qualquer coisa que me atraía até ele...sinto me fraca...não quero lutar...
Aproximou os lábios dos meus e eu queria que continuasse... O que é que se passa comigo? Ele fez me alguma coisa! É claro que não quero que continue!
Empurrei o interrompendo o hipnotismo que pairou no ar durante uns segundos. Matt entrou e arqueou uma sobrancelha.
-Está tudo bem?
-Sim. - respondeu Jason rapidamente. Sorriu uma última vez e saiu.
-Angie?
-Está tudo bem Matt.
Não parecia muito convencido mas largou o assunto.
-A minha mãe avisou que é para irmos.
Abraçou me, beijou me e fomos para baixo.
Sentei me ao lado de Matt e em frente a Jason que continuava a sorrir daquela maneira que me faz desconfiar dele. A Sra. e o Sr. Adams sentaram se cada um numa ponta da mesa.
No início estava tudo muito silencioso mas depois a mãe de Matt começou a falar amigavelmente comigo.
A seguir o pai dele começou com as perguntas e foi aí que o inferno começou.