Capítulo quatro

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Na madrugada daquela noite, Ash me mandou um SMS pedindo para que eu passasse no campus dele no final de seu período. Confesso que temi o que ele poderia fazer.

Mas nada que eu pudesse pensar poderia ser pior do que o que realmente aconteceu.

As aulas do dia haviam sido canceladas por algum motivo que eu não ligo. Portanto, o dia era livre. Eu me vesti um pouco melhor que normalmente – como Ashton pedira. Coloquei um top com uma blusinha por cima, uma calça jeans normal e um tênis com desenhos, além do colar que meu pai havia me dado no meu último aniversário em que estava vivo. Meu cabelo estava um pouco armado, então o prendi em um rabo de cavalo. Tentei dar um jeito na franja com o secador da minha mãe, mas não resolveu muito.

Saí de casa pouco tempo antes do período de Ford terminar. Avisei minha mãe, que estava na cozinha, e pedi seu carro emprestado. Eu tinha carteira de motorista e sabia dirigir. Só me faltava um carro. Minha mãe e George não queriam comprar um pra mim, diziam que eu teria que comprar um com meu próprio dinheiro. Claro que não foi o que falaram a Abby quando lhe deram seu New Beetle.

Enfim.

Fui dirigindo cuidadosamente até o campus de Ashton. Não demorei nem quinze minutos; assim que cheguei lá, o período terminou. Os portões se encheram de jovens e até algumas pessoas mais velhas, mas eu não via Ash em lugar nenhum. Fiquei uns cinco minutos esperando o garoto – que não chegou. Resolvi mandar um SMS, que ele respondeu segundos depois.

"Cadê você? E o que você está aprontando, Ford?"

"nossa, vc é certinha até no sms. to no cimento, vem p cá. não to aprontando nd não... hehe ;)"

Revirei os olhos com a mensagem dele, mas não pude conter um sorriso. Ashton era tão idiota...

O 'Cimento' era o nome de um pátio que tinha perto da faculdade. Assim, na frente da universidade tem uma igreja, a St. Peters. E, na frente da igreja, existe um pátio. Muitos alunos ficam ali, porque não atrapalha em absolutamente nada da igreja, então era permitido ficar lá. Era um ponto de encontro tão popular que até recebeu um nome. Cimento.

Fui andando calmamente e me esqueci que não tinha perguntando em que parte do Cimento Ash estava. Algumas pessoas me olhavam com curiosidade, pois sabiam que eu não fazia faculdade naquele horário. Cheguei a ver uns conhecidos – um ou outro até acenou pra mim –, mas fingi que não vi.

Eu olhava para todos os cantos, tentando achar meu melhor amigo/namorado falso. Mas Ashton não estava em lugar nenhum! Até que ouvi sua voz.

— Emy! — Ele gritou. Pela voz, eu soube que ele estava atrás de mim. Me virei naquela direção, vendo ele correr até mim enquanto acenava freneticamente.

— Oi, Ash. — Eu disse quando ele chegou perto. Àquela hora, várias pessoas prestavam atenção em nós. Eu odiava gente me olhando, e Ash sabia disso.Como eu queria matá-lo naquele momento!

— Senti sua falta, docinho.

Docinho? What the fuck?

Eu provavelmente estava com uma careta de confusão horrorosa. Mas Ash não ligou pra isso. Aliás, o que ele fez a seguir deixou bem claro que ele estava pouco se fodendo para aquela situação toda – incluindo minha careta, as pessoas olhando e, principalmente, seus amigos e ex-namorada populares querendo me matar só com olhares.

Ashton Ford simplesmente agarrou minha cintura e me beijou.

No meio daquela gente escrota, meu melhor amigo resolveu colocar nosso plano em prática.

E me beijou.

Não sei se vocês lembram do que eu disse, mas Ash me fez aceitar que nenhum beijo nosso seria técnico. Então eu me assustei quando ele me puxou pela cintura e me beijou, porque eu não tive nem tempo de piscar e ele já estava querendo enfiar a língua na minha garganta. Eu provavelmente estava com os olhos arregalados, além do fato de eu estar em total paralisia, sem reação nenhuma.

Você pode imaginar o quanto nosso primeiro beijo foi romântico.

💍

A paisagem lá fora corria em uma velocidade enorme. O vento no meu rosto balançava meus cabelos e eu apreciava aquela sensação de olhos fechados. O barulho do motor do carro não ofuscava o canto dos pássaros, que eu sabia que voavam livremente pelos céus, migrando para encontrar um novo lar. Ao abrir os olhos, pude ver as pequenas casas passando rapidamente pela janela. Todo aquele conjunto me deixava extasiada e...

— Vai ficar calada pra sempre? — Ash interrompeu meu discurso mental.

— Não tenho esse direito? — Perguntei, virando meu rosto para encará-lo, vidrado na estrada à frente.

— Na verdade, não. Você ficou petrificada no campo! — Ele apertou o volante com um pouco mais de força.

— Claro, você me beijou do nada! Qual esperou que fosse minha reação?

— Sei lá, que agisse como uma namorada normal.

— Ashton, eu fiquei em choque, tá bom? Você pode respeitar o meu momento? – Ele soltou uma risada cínica e eu revirei os olhos, voltando a encarar a janela, já com a imagem real, feia e tediosa de Wolverhampton. O motivo de Abby ter saído da nossa cidade era óbvio.

Aquele lugar era um porre.

Ford me deixou em casa e eu saí do carro praticamente sem me despedir. Entrei em casa morrendo por um banho quente e relaxante, mas é claro que as forças superiores não deixariam isso acontecer.

— Ei, Emily. — Ouvi a irritante voz de Abigail vinda da cozinha. Ela saía do cômodo e vinha em minha direção.

— Que, Gail? — Perguntei, fechando os olhos e massageando as têmporas.

— Você bem que poderia ter me contado sobre estar namorando o cara que eu sempre gostei. — Ela acusou. Estava vermelha de raiva.

— Estávamos mantendo em segredo, eu contei pra minha mãe e pro seu pai só dois dias atrás, eles também não sabiam. Olha, você pode me deixar em paz? Eu tive um dia extremamente estressante e tudo que eu mais quero é um banho, minha cama e dormir.

Ela não respondeu. Ficou com a mesma cara de quem comeu e não gostou. Eu subi para o meu quarto, já pensando na deliciosa sensação de me deitar com um pijama de flanela e dormir; sonhar com o mais bonito e sincero nada; acordar disposta a enfrentar essa situação ridícula que eu mesma havia criado.

Só eu consigo me foder tanto.

Namorado "Inventado" [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora