XVI

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~ 6 anos depois ~


Por Hades

Perséfone havia retornado de mais um período no mundo superior há poucos dias. Mas desta vez eu senti algo diferente em minha esposa. Ela estava silenciosa, não me contou muitas coisas desde que chegou, na realidade carregava uma expressão mais triste em seu rosto que não era costumeira, mesmo nos momentos que afirmava estar apenas com saudades de sua mãe.

Ela estava sentada em seu trono com o rosto apoiado em seu punho. Assistindo ao julgamento de uma mulher jovem, que infelizmente havia falecido gestante durante uma terrível guerra que assombrava o mundo humano. Nesses casos eu gostava de ouvir a opinião dela, sempre acreditei que a semelhança contribua para uma boa sentença, como mulher e filha, ela entenderia muito melhor as situações enfrentadas por aquela alma.

- Perséfone, qual sua opinião?

- Campos Elíseos - afirmou firme

- Mesmo? - ela assentiu e eu gesticulei que prosseguissem

A mulher chorou e agradeceu a bondade de Perséfone enquanto Caronte a conduzia pelo rio até seu destino.

- Curioso, você não costuma sentenciar alguém sem grandes feitos para lá

- No fim da vida ela lutou para se salvar, considero um ato heróico, pois seu desejo era salvar seu filho

- Faz sentido - concordei notando que a expressão dela era ainda mais desgostosa - minha querida, tem algo a incomodando?

Ela abaixou a cabeça tristemente e colocou a mão sobre o ventre

- Tenho me perguntado porque ainda não fomos abençoados com um filho, eu realmente acreditei que seria dessa vez - sua voz estava pesada - mas meu ciclo veio novamente

- Minha rainha, tenha calma, irá acontecer. Não estamos correndo contra o tempo, temos uma eternidade pela frente

- Eu sei mas, quando nos casamos todos me diziam que eu era uma deusa da fertilidade, que teria muitos filhos - ela fez uma pausa - estou começando a duvidar disso, será que sou fértil apenas para criar plantas?

Coloquei minha mão sobre a dela para tranquilizá-la

- Creio que vamos sim conseguir ter filhos - afirmei - mas se quiser posso recorrer às moiras para nos confirmar

- Não, oh não, acho terrível incomodar seres primordiais com nossas questões de casamento

- Então o que posso fazer para deixá-la feliz novamente? - acariciei seus longos cabelos - se desejar podemos ir para o quarto tentar um pouco mais

- Pare! - ela riu - estão nos olhando, agora não vai ajudar, devemos esperar que eu esteja fértil novamente

Alguns dias passaram e Perséfone não se alegrou muitas vezes. Ela permanecia reflexiva e introspectiva. Faria qualquer coisa para animá-la, porém minhas tentativas já estavam se tornando pouco eficientes. Era esperado que um rei tivesse muitos filhos, mas eu não me importava muito com tais expectativas. No fundo do meu coração eu tinha medo, de que a culpa da demora para que ela engravidasse fosse minha. Ela era uma deusa da fertilidade, se não gera filhos é óbvio que o problema é a semente do companheiro. Me aterrorizava decepcioná-la.

Voltei a mencionar que poderíamos questionar as moiras e dessa vez ela aceitou a ideia. Eu mesmo precisava sanar logo aquela dúvida ou não teria paz. Saímos pela manhã em minha carruagem, as moiras habitavam os confins do tártaro, era muito mais abaixo na terra que o céu estava acima.

Perséfone - da luz à escuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora