Por Hades
Em uma certa tarde, notei que Perséfone estava alegre e agitada, seu rosto iluminado como uma estrela da manhã. Eu estava em meu escritório escrevendo algumas cartas quando ela entrou enérgica. Trazia nas mãos um ramo manjericão.
- Meu marido - chamou - está ocupado?
- Estou finalizando uma carta, porque?
-Creio que hoje dará certo! Estou fértil! - anunciou - Quando terminar vá para o nosso quarto sim? - eu concordei
- E para que o ramo?
-Irá nos ajudar - respondeu simplesmente e saiu
-Terminei apressadamente e fui ao seu encontro, notei que o ramo de manjericão estava pendurado na coluna de nossa cama. Perséfone se encontrava despretensiosamente sob os lençóis, vestia sua camisola translúcida que muito me agradava. Tranquei a porta atrás de mim e me atirei sobre ela
- Só vou deixá-lo sair quando colocar um filho em mim - ela riu
- Prometo cumprir com meu dever - sussurrei em seu ouvido enquanto levantava sua saia
Minha esposa manteve o ramo em nossa cama durante toda a semana, e me procurou muitas vezes pedindo que a amasse. Sua ansiedade era notável, e eu apenas cumpria meu papel. Eu torci para que desse certo dessa vez, não por que ansiava ser pai. Viveria bem sem filhos. Mas para fazê-la feliz. Sei que não é o certo, já que nunca compartilhei com ela o meu sofrer, mas me tornar pai era algo que muito me assustava. Cronos havia causado feridas profundas em minha alma, não existe pior ato do que devorar os seus filhos e os condenar à escuridão. Portanto eu não tive pai que me ensinasse a ser pai, assim como Perséfone aprendeu com sua mãe.
Os dias se passaram e nossa agonia aumentava, a expectativa de que a ausência de seu ciclo revelasse se teria funcionado, nos torturava. Dia após dia aguardando a confirmação, até que Perséfone acordou em uma manhã enferma, enjoada e fraca.
- Chame Hekate! - arfou - ela saberá me ajudar
Corri até a porta e ordenei para um servo buscá-la. Poucos minutos depois ela chegou trazendo diversas ervas para curar a enfermidade de minha esposa. Hekate sentou-se ao seu lado, estava em sua versão madura, com as mãos no ar sobre Perséfone fez uma varredura em seu corpo. Parou as mãos sob ventre e encostou.
- Já sei do que se trata
- Diga! - exigi
- Está grávida! - e a abraçou - meus parabéns minha amiga, seu desejo realizou-se!
- Oh eu não acredito! - Perséfone levou as mãos ao ventre - estou tão feliz!
- Vou deixá-los as sós agora - Hekate levantou-se - retorno logo com um chá para ajudá-la
Me sentei ao seu lado e ela puxou minha mão para que colocasse em seu ventre. Acariciei sua barriga sentindo um misto de emoções, a abracei e a beijei sem conseguir dizer uma palavra. Mas precisava demonstrar que estava ali com ela.
- Hades, eu o amo muito - ela segurou meu rosto em suas mãos - obrigada
- Não me agradeça, eu quem deveria fazê-lo - a abracei mais forte - estarei ao seu lado
Não demorou muito para que Hekate retornasse com xícara fumegante e entregasse a Perséfone.
Conforme as semanas corriam a gestação se tornava mais evidente. Não estava sendo um período fácil para minha esposa, sua gravidez estava a enfraquecendo mais do que o esperado. Os enjôos e tonturas se tornaram rotineiros. Eu insistia para que ela repousasse mais, porém teimosa, dificilmente me ouvia. Ela estava tão contente que dizia não se importar com os pormenores da gestação.
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Perséfone - da luz à escuridão
Romansa"Meus olhos demoraram para acostumar com a falta de luz, mas quando finalmente pude enxergar cada brilho singelo e frio daquelas pedras, eu me transformei. Antes de você eu estava condenada a ser esquecida como uma ninfa das flores, mas você notou o...