XXI

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Timeskip 5 anos

Perséfone 

- Melinoe! Solte seu irmão - gritei de cima do meu trono enquanto ela atazanava Zagreu

Melinoe era uma criança muito levada, e se aproveitava do fato de possuir asas para pentelhar os outros, principalmente Zagreu que ainda era pequeno e apenas chorava e esperneava em protesto. 

- Escute sua mãe - Hades a repreendeu e ela obedeceu depois de dar um último puxão no chifre de Zagreu

- Foi ele quem começou papai! - ela se defendeu com sua voz infantil e aguda

- Essa menina é impossível, vou perguntar a Nix como ela fazia para cuidar de seus filhos alados 

- Porque não vai brincar com as fúrias minha pequena e deixe seu irmão em paz? - Hades pediu a ela e imediatamente ela assentiu saiu voando pelo salão 

- Você tem muita parcimônia com ela, por isso se comporta assim - alertei Hades 

- É normal ter essas briguinhas entre irmãos 

Hades adorava Melinoe, era sua menininha, e sempre que aprontava ele a defendia. Na minha opinião isso apenas a encorajava. Ela por sua vez amava o pai, e desde que começou a desenvolver seus próprios gostos escolhia ficar aqui no submundo ao invés de subir comigo. Melinoe também gostava de aprontar pelo tártaro, e dizia que iria ajudar as fúrias a darem castigos quando crescesse. Por mais que a repreendesse por estas atitudes, eu não tinha alternativa, essa era a natureza dela e também de seu lar.

Já Zagreu era um menino doce e apaixonante,  muito apegado a mim. Sua aparência era de uma versão pequena de Hades, porém tinha olhos iguais aos meus. Seu problema era o ciúmes que tinha do pai, fazia birra quando Hades me beijava e me abraçava. Costumava dizer que eu era só a sua mamãe. Esse apego dificultou muito quando decidimos que ele deveria começar a dormir no próprio quarto. Principalmente porque no mundo superior, Zagreu sempre subia comigo, então eu continuava deixando ele dormir em minha cama. Ele logo atribuiu a Hades a culpa de ter que dormir sozinho. 

Hades ficava chateado com a indiferença de Zagreu. E eu dizia para meu marido que era apenas uma fase, coisa de criança e logo passaria. Diferente da irmã, Zagreu amava o mundo superior, amava correr pelos bosques e amava quando eu o cobria de flores. Para idade já o achava um menino valente e brincava que tinha uma espada e um escudo para lutar contra os mais terríveis monstros. 

Em um desses dias pacatos, em que eu e Hades assistiamos as crianças brincarem no salão, sentados em nosso trono, recebemos uma visita. O último herói entrou no submundo. Seu nome era Hércules, seus feitos eram tão notáveis que suas histórias corriam até pelas paredes do submundo. Quando adentrou o salão foi impossível não reconhecê-lo, pois trajava orgulhoso a pele do selvagem leão que matara. 

O meio-humano era tão alto e forte que parecia uma versão mais jovem do próprio Zeus. Sua pele e cabelos eram dourados, mas seu olhar atento escondia uma tristeza profunda. Eu assisti ao julgamento da alma de sua ex -mulher, a qual ele matou em um acesso de loucura, proporcionado por Hera. Agora para se redimir ele cumpria esses trabalhos ingratos e impossíveis para um ser humano. Eu não poderia dizer que não me compadecia de sua dor. 

- Hades, meu senhor - o homem se curvou - Perséfone minha senhora

- O que faz aqui mortal? - Hades o questionou 

- Perdão por entrar em seu reino antes que a hora chegasse, meu senhor. Eu venho de longe para cumprir as tarefas que o rei de Micenas me ordena

- E qual seria a sua atribuição?

Perséfone - da luz à escuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora