XIII

28 2 0
                                    

Meus dias no submundo chegaram ao fim, eu já havia preparado minhas bagagens, e logo partiria. Naquela noite Hades e eu mal dormimos, conversamos por horas, como se tentássemos evitar perder aqueles momentos finais um com o outro. Me vesti e coloquei o broche que ganhei de Hades em meu peito. A carruagem foi preparada e um cortejo foi realizado em minha despedida. Me trouxeram presentes e honrarias para o mundo superior.

Cerberus latia e brincava com aquele agito provavelmente sem entender o motivo da aglomeração.

- Ele irá sentir sua falta - Hades mencionou

- Espero que ele se lembre de mim quando voltar - o acariciei me despedindo

Subimos na carruagem e Hades nos conduziu, saímos dos portões e atravessamos os corredores por um bom tempo até chegar próximo a entrada de uma gruta.

- Chegamos - ele disse com a voz sufocada

- Hades, meu amor - o abracei forte e a voz falhou ao sair da garganta - sentirei sua falta

- Eu também minha amada, pensarei em você todos os dias. Eu juro.

- Eu o amo - e o beijei não lábios selando a despedida

- Também a amo - o tom de sua voz era melancólico

Um último abraço e desci da carruagem, sai em direção a entrada da gruta. Notei que havia neve e a grama estava seca do lado de fora. A natureza estava adormecida. Quando coloquei meu pé para fora, a cor verde e fresca da terra retornou comigo. Meus poderes realmente haviam crescido. Eu estava literalmente trazendo a primavera.

Em poucos minutos avistei minha mãe e ela correu em minha direção. Nosso abraço foi forte e apertado. Era tão reconfortante sentir o cheiro dela novamente, era como se eu voltasse a minha infância. Meus cabelos e olhos escurecidos desde que comi a romã voltaram às cores originais, eu era Koré novamente.

- Oh minha filha - ela fungou - estou tão feliz

- Eu também estou mamãe, senti tanto sua falta

- Pelo visto você amadureceu - ela olhou a terra verde embaixo dos meus pés - está muito poderosa

- Creio que sim, e parece que temos muito trabalho a fazer!

- Sim! - ela enxugou as lágrimas nos olhos - não vamos mais perder tempo - afirmou com empolgação

Me concentrei conforme caminhamos, fazendo as árvores adormecidas voltarem a ter folhas e flores, brotando novamente todos os arbustos que secaram, devolvendo a cor para esse mundo. Os pássaros voltaram a cantar à nossa volta.

Vê como o mundo todo chora em sua ausência? Você não deve voltar para lá, fique aqui com sua mãe

Oh mamãe, está cedo para já me dizer estas coisas não? Sabe que temos um trato

Ela resmungou mas estava feliz com meu retorno então não ficou emburrada por muito tempo. Os meus primeiros dias na superfície foram principalmente de trabalho duro, mas consegui matar a saudade das ninfas que eram minhas amigas e aproveitar as noites próximas da lareira com minha mãe. Bebíamos vinho e jogávamos conversa fora. Uma dessas noites ela me questionou.

- Minha filha, me responda - perguntou - você o ama de verdade ou foi vítima das circunstâncias?

- Eu o amo mamãe, realmente, meu coração também se aperta de saudades por deixá-lo

- Entendo - ele deu mais um gole de seu vinho - fico feliz que pelo menos não foi forçada a ficar com ele, ele não a forçou não é?

- Não mamãe - afirmei constrangida - eu também o quis, e ele só encostou em mim depois que casamos

Perséfone - da luz à escuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora