07| Bons sonhos

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O calor suave banha meu rosto e corpo de forma delicada, carregando a sujeira e viscosidade do meu árduo suor do trabalho que desempenhei na clareira. Meus olhos se mantêm fechados, aproveitando o único momento solitário em que eu possa me manter em transe comigo mesma. As pontas de meus dedos massageia meu couro cabeludo, passeando meus dedos suaves pelo cabelo agora molhado. A aguá tem um eco satisfatório no banheiro delicado que tomo banho, ela e quente e finalmente meus músculos conseguem relaxar, deixando a tensão ralo a baixo.

Minha mente não consegue se manter vazia apesar de estar relaxada, ou pelo menos é o que eu acho. Porém não consigo tirar da mente e de forma escalada todos os acontecimentos do dia de hoje. A forma que Ben grita continua me aterrorizar mesmo que a cabana de descanso seja longe, assim como uma visão de Newt apoiado sobre a pedra consegue um espaço em minha mente.

Há apenas uma memória que ainda me corrói, fazendo minhas entranhas lutarem contra si dentro de mim, quase que forçando um vomito asqueroso. Gally, seu nome me faz ter náuseas e uma irresistível dor de cabeça. Sua voz ainda consegue comer minha orelha de forma irritante, expondo a porra de uma opinião nojenta para caralho, sem pé e nem cabeça. E eu ainda me questiono, o que eu fiz para merecer esse destino?

Se caso todos se virarem contra mim, não terei duvidas do que fazer.

Se é possível, o labirinto terá meu corpo e alma, mas se caso não houver possibilidade, eu não hesitaria em tirar minha vida.

Pode parecer extremo, mas não consigo viver em um local onde eu seja uma barriga e apenas isso, um útero para colocar mais mãos e bocas nesse inferno.

não sirvo para isso.

Abro meus olhos, ambos embaçados pelo tempo que eu os mantivera fechados, agora observando a forma que meu corpo parecia mais limpo, mas não somente isso, mas o sentimento de sujeira escorreu pelo ralo com meu nojo perante me sentir suja. Desligo a água agora me enxugando com uma toalha de pelos que provavelmente viera na caixa, secando-me em um vento agora mais frio de acordo com a mudança de temperatura do ambiente que frequento.

Os olhos de Newt ainda repassam em minha mente como um loop sem fim. Olhos calorosos, recheados de calma e paciência, um brilho que somente observo nos seus olhos. Posso dizer como os olhos de Newt se formam um pequeno risco risonho quando esboça um sorriso grande, bem como me atrevo dizer a forma como seu sorriso se abre em um charme suave.

Não posso mentir, o loiro realmente é bastante bonito.

Mordo minha língua, me questionando sobre esses pensamentos e seus reais motivos de terem tomado tamanha importância em minha mente.

Visto a roupa que apanhei dentro do baú que inclusive Newt me dera, vestindo um short confortável e uma camisa de manga longa para que eu possa dormir.

Sinto minha barriga cheia após jantar com alguns garotos na mesa. Uma pitada de felicidade me deixa animada ao lembrar a forma que lidei bem com os demais garotos que estavam comigo, e como pareciam ter sido amigáveis, me deixando mais calma em relação aos garotos. Newt estava no meio deles, sentado ao meu lado direito me oferecendo um pouco de sua carne, enquanto delicadamente eu o agradeço, recusando seu pedaço. Me lembro de suas piadas idiotas, acompanhadas de diversas outras dos garotos a mesa.

De fato foi divertido, não posso mentir.

Saio do banheiro encolhida, com um vento suave e gélido secando o resto de gotas que a toalha possa não ter alcançado. Caminho pela clareira em silêncio, interessada em meus pensamentos e em analisar o que aconteceu nos meus únicos dias de vida, já que não me lembro dos outros. Meus passos são equilibrados, e meus olhos desta vez não correm pela clareira em alerta, já que mal posso ouvir algo.

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