Psycothic | Newt

12| Acabado

Os olhos castanhos refletem o luar em um brilho único, carregado com uma centelha de esperança em meio de um mar profundo de arrependimentos. Um fio loiro cai sobre sua face, piscando em uma coloração dourada pela iluminação. E é possível notar em nosso entorno o silêncio, o qual carrega um fardo frio para minha pele exposta.

As horas se passam excruciantes de lentas, e o refeitório se torna cada vez mais vazio e solitário, deixando com que as únicas presenças quentes fosse a minha e de Newt.

Newt parecia nervoso quando o silêncio surge após comermos, sabendo que assim teria que contar o que estava acontecendo. O vento uiva baixo enquanto minha perna balança entusiasmada abaixo da mesa de madeira.

O silêncio come o escuro da noite, engolindo minha ansiedade com um sorriso maldoso.

Enquanto isso, eu continuo a observar a face silenciosa de Newt que encara a mesa parecendo pensar por onde começar, mas ao invés disso, sou surpreendida com um olhar travesso, e um diálogo esquivo.

- O que foi? - Ele pergunta, olhando nos meus olhos enquanto se vira em minha direção. - Parece que está tentando ler meus pensamentos. - Fala brincando, e eu dou de ombros.

-Bem, estou apenas vendo como você está, além de esperar. - Comento olhando agora para sua mão que batuca a mesa de forma ansiosa.

- E como eu estou? -

Meu olhar se vira novamente para o loiro, encarando a forma que seus olhos brilham, dessa forma parecendo que nunca teve um dia ruim. Mas por outro lado, sua olheira forte embaixo de seus olhos denuncia uma noite mal dormida, assim como linhas tensas e um cabelo transtornado.

- Acabado, bem acabado. - Sou sincera, abrindo um sorriso maldoso em meu rosto, o vendo aceitar com uma feição clara de compreensão e aceitação. Seus olhos queimam aos meus, enquanto sua respiração é longa antes do silêncio se estabelecer novamente em nossa presença.

- Sim, estou acabado, você está certa. - Fala abaixando sua face, com um sorriso brincalhão brotando em seu rosto delicado.

Não sei o motivo ou o que aconteceu com o loiro, e muito menos se ele se sente confortável de conversar algo tão frágil e vulnerável quanto isso. Mas por algum motivo, tenho uma sensação calorosa que o conheço a séculos. Como se o rosto dele não fosse novo, ou uma novidade assustadora.

Noto a forma pela qual seus olhos se vidram em minha face, analisando algo que não consigo compreender. Bem como noto e como seus olhos param lentos sobre meus lábios e sobem para encarar os meus olhos. Sua respiração é quase rápida, e sua boca vermelha se entreabre em um palavrear preso em sua garganta.

A tensão se estabelece no ar, e meu coração tropeça cada vez que seus olhos escuros caem sobre meus lábios.

- O que foi...? - Não posso resistir, e minha pergunta sai baixa, quase um sussurro apagado pela confusão e coração acelerado. Sua proximidade é clara, e isso faz com que meu corpo se esquente em resposta. Sinto a antecipação e uma sensação nervosa criar em meu estômago e peito, notando como nossos rostos estavam próximos.

Por um momento, eu vejo o vislumbre de sua língua lamber seus lábios, ansiosos para algo que está longe da minha compreensão.

Mas é mentira.

Eu sei muito bem o que está acontecendo.

Apenas...

- Estou vendo como você está, só isso... - Ele se afasta, cruzando de forma defensiva seus braços sobre seu peitoral, agora tossindo enquanto desvia seu olhar do meu. Seu corpo que antes de inclinava sobre a mesa agora está longe, severamente longe do meu, agora com um olhar longe.