Psycothic | Newt

08| Rato

O roedor de pequeno porte caminha interessado pela pequena gaiola que se ostenta sobre uma mesa branca e longa, explorando com seu pequeno foucinho as grades gélidas que o prende do lado de dentro. Seu pelo carrega uma cor saliente, brilhante na cor branca, o que da um aspecto macio ao observar o pelo comprido do animalzinho, enquanto seu longo rabo me traz uma maior curiosidade, vidrada pela textura e grossura do membro do rato. Seus olhos vermelhos são tão pequenos quanto.

Pequeninos olhinhos vermelhos brilham pela luz sistematicamente fraca do que se aparenta ser um laboratório. Mal posso enxergar o meu entorno, mas observo a forma como estou sentada em um pequeno banco que sobre ele, há uma longa mesa recheada de papeis que mal posso enxergar pela luz quase que fraca. Tento entender o meu entorno, mas pouca luz parece ser ajustada de forma proposital, pois enxergo uma pequena alavanca que define a luz em diferentes tipos de intensidade, as quais são 10, 50 e 100. De acordo com essas definições, a alavanca se prende ao 50, o que me deixa confusa, mas consegue colocar uma agulha em minha orelha, como se isso fosse quase que familiar.

Meus dedos se apertam entorno de um lápis de escrever, repousando no papel branco que demonstrava uma planilha consideravelmente grande impressa nela. Meus olhos se esforçam para ler o papel, e finalmente noto a forma pela qual tudo parecia distante, como se o sonho estivesse perturbado, como se eu assistisse uma fita velha. Mas eu não desisto, e me esforço mais, assim observando varias definições de ações em que o rato poderia executar, como andar, se limpar, ficar parado, erguer-se, cheirar e uma denominação pela qual não compreendo, RPB.

— Querida, não se esqueça da topografia. — Assim que forço o lápis contra o papel, marcando o erguer-se, ela chama minha atenção, me fazendo encarar uma mulher com um rosto distorcido, como se eu não pudesse me lembrar, parecendo um espírito ao meu redor. Sua face por mais que eu me esforce, não muda, continua uma confusão irreconhecível, mas por algum motivo, eu não sinto medo, ou o teor da adrenalina. — Nunca se esqueça que a topografia tem de ser igual para todos os analisadores, ou seja, o que foi que decidimos sobre a ação 'erguer-se? —  Ela questiona elegante, pegando uma borracha ao meu lado direito e apagando minha marcação no papel. Agora percebo como minha mão é jovem e pequena, quantos anos eu parecia ter?

— Assim que o ratinho ficasse de pé com as duas patinhas é para marcar o erguer. — Minha voz é fina, e mais que infantil, me causando um choque e instabilidade perante essa informação nova que recuperei do sonho. Eu me sinto satisfeita com algo que enxergo na face da mulher que parecia me ensinar, talvez um sorriso.

— Perfeito, minha doce garota, muito bom que se lembre disso. Então isso significa que o que marcou está errado, não é? Quantas patas o rato levantou? —

— Uma... —

— Exatamente, agora não esqueça de desmarcar o temporizador, pois ele continua a correr. — Meus pequenos dedos agarram uma pequena alavanca em uma máquina pela qual não consegui compreender, mas eu puxo uma delas, assim parecendo reiniciar o tempo. — Ótimo, dessa forma nada escapa, e o teste de veridicidade será sempre muito alto.—

Tudo se transforma em uma escuridão, e eu me sinto ser puxada como uma boneca das mãos de uma criança, pois assim que meus olhos se abrem, eu encaro um teto de madeira escura, com a luz apagada e um ar gélido entrando pela pequena janela do quarto. O cobertor, por mais que me cubra, não consegue inibir vento gelado que corre pelo quarto, me gerando um arrepio frio e um suspiro diante me sentir confusa e desorientada.

Eu me sento na pequena cama improvisada feita sobre o chão, agora esfregando meu punho em meus olhos enquanto me questiono sobre o horário que estava já acordada. Meus olhos ainda se acostumam com meu acorde repentino, e agora eu foco no sonho que estava tendo, confusa sobre o que tudo aquilo poderia representar ou era.