Psycothic | Newt

03| Condições

Minha boca se abre em um perfeito "O" enquanto observo o rosto do garoto obter uma leve coloração rosada. Por um momento sinto como se minha pele estivesse queimando, exatamente como se minhas bochechas estivessem entrando em erupção ao cogitar a possibilidade.

Além do sentimento de timidez, a minha hesitação e desconfiança me trazem uma pulga atrás da orelha, como se sussurrasse que Newt iria me machucar e tudo estava sendo propositalmente planejado. Dessa forma, iria explicar sua boa acolhida e gentileza comigo, para no final de tudo, conseguir confiança o suficiente para me destruir no final. Portanto, uma parte de mim fica aliviada com essa informação, pois se fosse para escolher alguém para dividir um quarto, eu escolheria Newt.

Minha cabeça parece flutuar em diversas opiniões, todas elas possibilidades vivas ou imundas, todas correm em ciclos viciosos. Olho novamente o garoto que parecia me observar preocupado com minha reação, seus olhos de corça mel parecem engolir a reação do meu rosto com medo de uma reação negativa.

Newt ao fim de sua análise, parece notar minha confusão, assim como percebe a hesitação em meu corpo, a qual tenciona pela ideia, pois acaba tossindo rápido a fim de chamar minha atenção novamente antes de coçar sua nuca.

-Não, não, eu irei provisoriamente dormir junto com os meninos em uma rede improvisado, você irá ficar no quarto. - Avisa, agora parecendo mais calmo após fazer a notícia bem mais explicada. -Não queremos te deixar desconfortável, longe disso, queremos que se sinta em casa. - Explica balançando suas mãos longas no ar. -Faremos o possível para te deixar confortável e segura, vamos tomar o máximo de cuidado possível. -

Seu sotaque é forte, mas sua voz é doce, e escapa como um algodão de macia de seus lábios suavemente ressecados. Deixo um sorriso escapar sem dentes, sorrindo para o garoto diante da sua gentileza e preocupação.

Minha mente foca como seria injusto tirá-lo de seu conforto para proporcionar uma sensação falsa de segurança, pois no fundo eu sei, que quem quiser fazer mal a mim, irá fazer. Um quarto sólido e solitário não irá me deixar mais segura, não estarei segura acompanhada e nem mesmo sozinha, não quero essa falsa sensação. Não só como existe este motivo, mas como também existe o meu ego grande que inala a necessidade de viver sozinha, ser o suficiente para mim mesma.

Não quero que ninguém se preocupe comigo, não sou fraca, mas também não sou a pessoa mais forte do mundo, eu sei. Mas essa falsa segurança, a sensação de se demonstrar fraca, com necessidade de proteção, me mata.

-Obrigada Newt, mas eu não posso aceitar, não é justo te tirar do seu quarto. - Eu comento, colocando a minha mão em seu ombro, notando sua camisa branca suja de terra e uma pequena bolsa de couro que o abraça. -Eu não me importo de dormir com os meninos. - Eu minto, recusando sua proposta com delicadeza, mesmo sentindo uma pontada de medo e frustração comendo minha sanidade.

-Por favor, aceite, eu não tenho problemas nenhum de dormir com o resto do grupo, já dormi com eles muitas vezes, não é hoje que irei me incomodar, acredite. - Ele parece sério, seu sotaque é rápido, tentando empurrar para mim novamente o quarto. -Não posso deixar você dormir sozinha com eles, até porque todos decidimos e concordamos em te deixar no meu quarto. - Eu fico em silêncio, ouvindo o que ele tem de dizer.

-Eu realmente não quero aceitar, sério, está tudo bem. - Levanto minha mão em um sinal para que o assunto acabe, mas ele não parece estar satisfeito, pois seus olhos me olham com um sinal claro de chateação. O loiro suspira, me encarando como se eu tivesse acabado de jogar uma rosa dentro de um lixo sujo de uma cidade moribunda. - Não quero atrapalhar o tirar você do seu posto por apenas suposições ou por culpa de outras pessoas. -

- Não diga isso, você não está me atrapalhando e muito menos me expulsando do meu quarto, longe disso. - Ele me repreende, com um olhar claro, mas não deixo ainda de acreditar que estou sendo inconveniente. - Até porque, quem ofereceu o quarto fui eu, ninguém decidiu por mim, apenas analisaram minha sugestão. - Confessa dando de ombros, abaixando sua cabeça, evitando meus olhos fortes, e agora eu o encaro com uma surpresa eminente.