11| Um doce pelo seus pensamentos

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O ar da noite agora me abraça quente, deixando o clima agradável e desta forma tornando inútil o uso de minha jaqueta. Meus olhos ainda perseguem a noite confusa e cheia de dúvidas, mas no momento a pequena ardência em meu dedo me traz para realidade de forma intuitiva.

Em meu entorno, posso notar o calor dos garotos em fila assim como eu, esperando um prato de comida para jantar. Por mais que era meu dever estar na cozinha, Caçarola, decidiu que poderia trabalhar melhor sozinho no turno da noite após meus acontecimentos. Ou seja, claramente é um grande não para a cozinha, e novamente estou sendo jogada como pião de função a função.

Eu sei que preciso encontrar uma função o mais rápido possível, até porque não quero terminar como uma slopper. Posso sentir arrepios só de pensar em colher adubo por aí, ou mexer com roupa suja de homens.

Minha face transforma em uma careta ao pensar nas cuecas sujas e roupas fedorentas.

Preciso urgente encontrar um cargo, mesmo que seja um aleatório antes de planejar ir para os 'corredores'.

Sinto um pequeno cutucão em meu ombro direito, fazendo com que eu me vire para encarar seja quem for que tenha o feito.

— Sua mão, como ela está? —

Minho pergunta e eu sorrio em sua direção, mostrando minha mão com uma pequena risada.

— Talvez seja muito cedo para saber, quem sabe amanhã eu acorde sem dedo? — Meu tom travesso da brincadeira faz o garoto soltar uma risada alta, balançando a cabeça antes de encarar minha levantada.

— Ah claro, muito obrigado pela seu claro conhecimento e simpatia perante esse assunto. — Sua voz é estranha, e eu o encaro confusa com suas escolhas de palavras tão formais.

— Eu não falei que esse livro iria te deixar doente?! — Um dedo é apontado de forma acusadora para o asiático. — Romance de época deixa as pessoas lesadas, papo de alienígena! — Um garoto alto de cabelo raspado resmunga sua ideologia, cruzando seus braços em murmúrios irritadiços.

— Quem disse que eu li esse pedaço de plong!? — O olhar e reação e Minho são sem graça, cruzando seus braços na defensiva.

— E quem já não te viu quase colocando fogo no livro tentando ler? — Com a acusação, eu consigo imaginar que o livro veio em conjunto da caixa mensal, provavelmente embrulhado no meio das coisas.

Não consigo segurar uma risada baixa, observando a forma que os olhos de Minho se arregalam enquanto ele tenta negar o máximo possível da acusação, agora me trazendo um ar mais leve. Apesar de estar observar os dois, mal posso ignorar a cabeleira loira que marcha pesado saindo da enfermaria, olhos perdidos e uma careta irritada. 

Puta merda, realmente Newt não está em um humor bom. 

Mas parece que não é apenas ele, já que Alby caminha forte em direção da fila, sua cabeça baixa, recheada de um pensamento quase que mortal.

Minha sobrancelha se ergue, observando a forma pela qual as duas figuras longas caminham juntos em um passo carregado de tensão e desconforto. Poderia me perguntar o motivo pela qual ambos andam tão mórbidos, portanto, tenho a resposta na ponta da língua.

Ben.

Algo aconteceu, e isso com toda certeza remexeu eles.

Enquanto meu olhar se sustenta sobre os dois, meus olhos acabam se encontrando com o olhar desconfortável de Newt, carregado por um cansaço e algo a mais. E eu me prendo, tentando decifrar seja lá o que esteja acontecendo com ele. O vento uiva, e o tempo parece rir da minha cara, absorvendo um calor incomum do olhar indecifrável do loiro alto. A tensão aumenta, e eu sinto uma grande pressão tentando me forçar a desviar o olhar, mas eu não deixo. Seus lábios estão apertados, e linhas de expressão importunas cobrem sua testa em peso. 

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