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Nascida e criada numa pequena comunidade no interior árido de Goiás, minha jornada começou entre sebos empoeirados e escassos de livros

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Nascida e criada numa pequena comunidade no interior árido de Goiás, minha jornada começou entre sebos empoeirados e escassos de livros. Mas onde outros viam limitações, eu via oportunidades.

Desde que um governo liberal radical se instalara no poder, privatizando universidades públicas e tornando o ensino superior um privilégio inacessível, meu desejo insaciável por conhecimento se intensificou.

Betânia Borges.

Meu nome resplandeceu há um ano na lista dos aprovados para uma cobiçada bolsa de estudos na universidade mais elitista do país. Ali, no epicentro do poder e da opulência, compartilhei salas de aula com os mais influentes do Brasil: filhos de ministros, celebridades, líderes de Estado e herdeiros de impérios globais.

Brasília, envolta em sua riqueza e tradição, eclipsava completamente a dura realidade das comunidades rurais que eu deixara para trás.

Chamada de "a capital erudita", a cidade agora era meu lar. Enquanto meus pais lutavam para me sustentar longe de casa, eu enfrentava um ambiente onde cada conquista acadêmica era uma batalha pessoal, uma vitória contra as probabilidades e os privilégios alheios.

Minha presença nas salas de aula de Direito não era apenas uma busca por conhecimento, mas uma afirmação de resistência. Em cada debate sobre justiça, política e os rumos do país, eu via mais do que teorias jurídicas: via o reflexo de um passado de luta e de um futuro que eu moldaria com minhas próprias mãos.

Aqui, no coração pulsante do poder, eu não era apenas uma estudante, mas uma guerreira em busca de um diploma, justiça e igualdade num cenário onde os desfavorecidos eram relegados às margens da sociedade.

Caminhava pelos corredores lúgubres do Núcleo de Direito Internacional da UNIBRA, meus braços carregados com livros de filosofia e um punhado de exercícios sobre Política Internacional que havia meticulosamente resolvido durante as férias

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Caminhava pelos corredores lúgubres do Núcleo de Direito Internacional da UNIBRA, meus braços carregados com livros de filosofia e um punhado de exercícios sobre Política Internacional que havia meticulosamente resolvido durante as férias. Olheiras profundas marcavam meus olhos castanhos cansados, os cabelos escuros desgrenhados em um emaranhado que revelava noites sem sono e um foco obstinado.

Ao empurrar a pesada porta de madeira da sala de aula, o rangido ecoou pelo silêncio, atraindo olhares para minha figura. Meus trajes sociais estavam amassados, um reflexo claro das longas horas dedicadas ao estudo solitário. Ajeitei nervosamente minha saia plissada e tomei meu lugar na primeira fileira, onde sempre preferia sentar para absorver cada detalhe das aulas.

Corações EntrelaçadosOnde histórias criam vida. Descubra agora