XIV

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Saí da biblioteca com um sentimento de melancolia que parecia se arrastar atrás de mim como uma sombra teimosa

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Saí da biblioteca com um sentimento de melancolia que parecia se arrastar atrás de mim como uma sombra teimosa. Tinha acabado de entregar meus papéis de desistência da vaga, uma decisão que me deixava desolada, mas ao mesmo tempo ansiosa, pois o escritório Poiatto Advogados me esperava. O céu cinza e a calçada molhada pela garoa refletiam meu estado interior naquele momento.

Foi então que avistei Selena, parada perto da porta da enfermaria, seu corpo curvado, os olhos perdidos na distância. Sua presença ali era uma nota dissonante no cotidiano, e minha preocupação se acendeu imediatamente. Não a vi na aula de Direito Internacional mais cedo, e a ausência dela, agora, parecia ser um enigma que me inquietava.

Quando me aproximei, o sorriso nervoso de Selena foi como um sinal de alerta.

— O que você está fazendo aqui? Passou mal? — Minha voz estava carregada de uma preocupação que eu não tentava esconder.

Selena respirou fundo, seus olhos piscando com a intensidade de uma tempestade interna.

— Não... foi o Marcos. Ele teve um ataque de pânico.

As palavras dela me atingiram como um choque elétrico. A culpa me envolveu de imediato. Antes da aula, eu havia ignorado a declaração de Marcos. A sensação de negligência me esmagava. Sem hesitar, segui Selena até a porta da enfermaria.

O interior da enfermaria era um refúgio frio e calmo, com paredes de um tom verde suave e um cheiro de desinfetante que parecia anestesiar o ambiente. Marcos estava sentado na cama, segurando um copo de água, os olhos fechados em um esforço para encontrar alguma tranquilidade.

Quando ele me viu, um semblante triste e desolado apareceu em seu rosto. Eu me aproximei, sentindo um peso crescente no peito.

— Você está bem? — perguntei, a voz tremendo um pouco. O contraste entre o ambiente sereno e o turbilhão emocional em que eu estava mergulhada era quase surreal.

Marcos olhou para mim, seus olhos mostrando um misto de alívio e dor.

— Eu estou melhor agora, acho que foi só ansiedade. — Sua voz era suave, mas o desconforto ainda estava evidente.

Eu não conseguia esconder minha culpa.

— Me desculpe, Marcos. Eu... eu nem sei o que dizer.

Ele balançou a cabeça, um gesto que parecia carregar uma tristeza resignada.

— Não foi culpa sua, Betty. Às vezes, a gente tenta ser forte e acaba ignorando o que realmente está sentindo. Eu... eu estava me sentindo sobrecarregado, e então tudo simplesmente desmoronou. — Seus olhos, apesar da fraqueza, carregavam uma sinceridade que me fazia sentir ainda mais culpada.

Sentei-me na cadeira próxima à cama, tentando encontrar as palavras certas.

— Eu entendo... é difícil para todos nós. Às vezes, acho que estamos tão envolvidos em nossos próprios problemas que esquecemos de cuidar dos outros. Não queria que isso acontecesse com você.

Corações EntrelaçadosOnde histórias criam vida. Descubra agora