XIII

50 6 60
                                    

Enquanto caminhava pelos corredores da Universidade, o peso da atenção alheia se fazia sentir com a intensidade de um holofote que se posiciona na mais frágil das sombras

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Enquanto caminhava pelos corredores da Universidade, o peso da atenção alheia se fazia sentir com a intensidade de um holofote que se posiciona na mais frágil das sombras. Os olhares, ora curiosos, ora condenatórios, eram quase físicos, como uma nuvem invisível que me envolvia. Cada passo que dava em direção à aula de Direito Internacional Público parecia ecoar mais alto do que o normal, fazendo com que cada murmúrio e suspiro nos bastidores me parecessem ensurdecedores.

As palavras, sussurradas em tons baixos, eram indistintas, mas o nome de Apollo e o meu saltavam como faíscas numa conversa inflamada. O dia de ontem havia se transformado em combustível para a fogueira de fofocas que agora consumia cada corredor da universidade. E eu, involuntária protagonista dessa peça, me vi na desconfortável posição de ser o foco da curiosidade de todos.

Foi então que avistei Selena vindo em minha direção, o rosto marcado pelo desconforto de uma gripe. Seu nariz avermelhado parecia uma bandeira de aviso, e os olhos, injetados e brilhantes, refletiam uma mistura de ansiedade e determinação. Ela se aproximou de forma apressada, o som de seus passos abafado. Quando abriu a boca para falar, sua voz soava rouca e arrastada, como se cada palavra fosse um esforço doloroso.

— Betty, o que aconteceu no White Dog? — ela perguntou, com a voz mal conseguindo escapar de sua garganta congestionada. Sua pergunta, carregada de uma preocupação quase palpável, fez com que os olhares curiosos ao redor se voltassem ainda mais para nós.

Eu a puxei para um canto mais discreto do corredor, um espaço de passagem entre duas portas de sala de aula, onde o murmúrio das conversas era abafado e a privacidade era, ainda que temporária, um alívio. Meu coração batia de forma irregular, em parte pela ansiedade e em parte pela vergonha que me consumia. A sensação de estar no centro das atenções era quase insuportável.

— O que estão falando? — perguntei, minha voz saindo em um sussurro tenso.

Selena, agora visivelmente irritada e com a expressão transformada em uma máscara de curiosidade e desconfiança, olhou ao redor antes de responder, seus olhos ainda piscando com a febre.

— Estão dizendo que Apollo Poiatto deu uma surra em um cara por sua causa. — Sua voz, embora abafada, era cortante o suficiente para revelar a magnitude do rumor que circulava. — E que depois, vocês foram sozinhos para os dormitórios.

Foi quando ouvi um comentário particularmente cortante que a vergonha tomou conta de mim. Duas meninas passavam por um dos corredores laterais, suas vozes carregadas de um tom de escândalo que parecia reverberar diretamente no meu núcleo.

— O que ele viu nela? Betânia e Apollo? Isso é inacreditável! — A primeira menina exclamou, a incredulidade tingindo cada palavra.

— Ouvi falar que eles transaram no dormitório dela. — A outra respondeu, com uma ênfase que deixava claro o quanto o rumor a fascinava. — Quem poderia imaginar? Ela parecia tão certinha.

Corações EntrelaçadosOnde histórias criam vida. Descubra agora