A biblioteca estava envolta em um silêncio quase palpável, quebrado apenas pelo som esporádico de páginas sendo viradas e pelo leve zumbido das luzes fluorescentes. A seção de literatura nacional, com suas estantes altas e bem organizadas, exalava um aroma familiar de papel envelhecido e madeira polida. Eu estava cercada por pilhas de livros, que pareciam multiplicar-se diante de meus olhos. A tarefa era interminável, um verdadeiro teste de paciência e perseverança.
Não muito longe de mim, Apollo estava sentado em uma poltrona de couro desgastada pelo tempo, exibindo sua usual pose de superioridade. Ele segurava um exemplar de "Tratado da Natureza Humana" de David Hume. Seus olhos azuis, atentos ao texto, brilhavam sob a luz suave da biblioteca, e seus cabelos, jogados para trás de maneira despreocupada, lhe conferiam uma aparência quase angelical. No entanto, eu sabia que sua personalidade estava longe de ser angelical.
A irritação borbulhava dentro de mim enquanto eu observava sua postura relaxada. Ele não estava me ajudando, embora soubesse que a tarefa era para ser feita em conjunto. Decidi confrontá-lo, pegando um livro aleatório da prateleira e caminhando firmemente em sua direção. O piso de madeira rangia suavemente sob meus passos, ecoando na vasta sala.
— Apollo — comecei, com a voz carregada de frustração. — Por que você não está ajudando? Não estamos aqui para trabalharmos juntos?
Ele ergueu os olhos do livro lentamente, como se minha interrupção fosse um incômodo insignificante. Um sorriso sarcástico se formou em seus lábios perfeitamente esculpidos.
— Você é nova aqui — disse ele com desdém, sua voz baixa e melódica reverberando entre as estantes. — Precisa aprender a fazer as coisas sozinha.
Engoli em seco, tentando controlar minha raiva que crescia a cada segundo.
— Então é isso? Você só vai ficar sentado enquanto eu faço todo o trabalho?
Ele deu de ombros, voltando sua atenção para o livro. A indiferença em seus olhos era evidente.
— Exatamente.
Bufei e voltei para a minha fileira de livros, organizando as prateleiras enquanto o observava de canto de olho. Cada movimento seu era meticulosamente calculado, ele nunca desviava do texto, e isso me irritava profundamente. Como alguém tão bonito podia ser tão insuportável?
Depois de alguns minutos, minha curiosidade e frustração venceram. O ambiente parecia sufocante, as estantes altas e a iluminação fraca contribuíam para a sensação de confinamento.
— Por que você está trabalhando aqui na biblioteca, então? Se não vai ajudar, qual é o ponto?
Ele ergueu o olhar novamente, seu sorriso se alargando, revelando covinhas nas bochechas.
— Não há pobres como você o suficiente para preencher todas as vagas — ele respondeu com indiferença, sua voz pingando sarcasmo —, então acabei ficando com essa. — Senti meu rosto esquentar de raiva, mas antes que eu pudesse responder, ele continuou: — Além disso, eu gosto da biblioteca. Costumava ser um local silencioso até meia hora atrás.
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Corações Entrelaçados
Roman d'amour🔞Betânia, uma garota sonhadora e ávida leitora de filosofia moderna, vê sua vida mudar ao conquistar uma bolsa de estudos na mais prestigiada universidade da América Latina, um reduto da elite brasileira. Tudo parecia perfeito até que ela cruza o c...