XI

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10 anos atrás

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10 anos atrás...

A chuva caía incessante, desenhando pequenas correntes nas janelas do ônibus que se espremia pelos bairros adormecidos. Betânia, uma menina de cabelos ondulados e olhos curiosos, estava ao lado de sua mãe. A mulher era alta e magra com olhos que irradiavam uma doçura indescritível, carregava uma caixa térmica que continha os salgados que havia preparado com tanto carinho para vender no terminal de ônibus. O cansaço estampado em seu rosto mostrava que o dia havia sido longo, mas o calor maternal ainda permanecia em cada gesto.

Betânia estava aninhada em seu assento, observando o mundo lá fora através das gotas de chuva que escorriam pelas janelas. O ônibus fazia seu percurso final, os poucos passageiros estavam quase adormecidos ou imersos em seus próprios pensamentos. Foi então que algo no canto do ônibus chamou a atenção de Betânia. Um jovem garoto, que parecia estar à beira da exaustão, lia atentamente um livro cujas letras brilhavam em contraste com as páginas amareladas. O título, "A Paz Perpétua", era estranho e encantador ao mesmo tempo, prometendo um mundo de mistérios e promessas.

A curiosidade da menina, sempre aguçada, a fez encarar o livro com mais intensidade. O garoto, notando o olhar interessado dela, levantou os olhos e sorriu, um sorriso cansado, mas genuíno. Betânia, com a inocência que só as crianças possuem, sentiu um impulso irresistível e, com a coragem que só um coração pequeno pode ter, perguntou:

— O que é isso? — sua voz era suave, cheia de uma curiosidade sincera.

A mãe de Betânia, observando a conversa, ofereceu um sorriso cansado e pediu desculpas pela intromissão:

— Desculpe, minha filha é muito curiosa.

O garoto balançou a cabeça com um gesto amigável, como se compreendesse perfeitamente o entusiasmo infantil. Ele se inclinou na direção de Betânia e, com um tom que misturava paciência e doçura, começou a explicar:

— Esse livro é de um filósofo chamado Immanuel Kant. Ele fala sobre como podemos criar um mundo onde as guerras acabem e as pessoas vivam em paz. É um pouco complicado, mas basicamente ele acredita que se todos nós fizermos a nossa parte para ser justos e honestos, um dia poderemos viver em paz para sempre.

Betânia olhou para o garoto com os olhos arregalados, absorvendo cada palavra como se fossem pequenas pérolas de sabedoria. Seu desejo de entender mais crescia, e com um brilho nos olhos, ela disse:

— Eu adoraria ler isso.

O garoto sorriu, sua expressão um misto de surpresa e orgulho.

— Você sabe ler? — ele perguntou.

A mãe de Betânia, observando com um sorriso terno, respondeu:

— Sim, ela aprendeu a ler com quatro anos. Ela está com dez anos agora.

Corações EntrelaçadosOnde histórias criam vida. Descubra agora