Segunda-feira: Quatro dias antes do Blackout.
As oito da manhã seu despertador tocou, fazendo-a murmurar um palavrão. Natália tinha dormido muito mal naquela noite. Apesar de ter prometido a si mesma que não iria mais beber aos domingos, Helena a havia convencido do contrário, como sempre acontecia. Se sentou na cama sentindo seu cérebro "balançar" em sua cabeça. Se moveu mais devagar, levantou a cabeça lentamente e suspirou. Não tinha jeito, tinha que trabalhar. Se ergueu da cama e se arrastou a passos lentos até a cozinha de sua casa, abrindo sua gaveta de remédios. Pegou um analgésico e o engoliu com um copo de água. Ainda tinha o gosto do álcool na boca. Tomou uma ducha fria, vestiu uma calça jeans e uma camiseta preta, prendendo os longos cabelos castanhos em um rabo de cavalo alto. Café, era disso que precisava, mas já passava de oito e quarenta e ela não gostava de se atrasar. Tinha que estar no trabalho as nove, e era lá que supriria sua necessidade de cafeína.
Chegou na editora com cara de poucos amigos. Cumprimentou o porteiro educadamente e entrou no elevador, pressionando o botão do décimo andar. Helena já estaria em sua sala, com certeza. A ruiva nunca se atrasava e já passada das nove.
"Vou te matar." – Ela se apoiou no batente da porta, rindo enquanto observava Helena sentada em sua mesa. O escritório estava tão bagunçado que poderia facilmente ter passado um tornado ali, girando folhas de papel A4 pelos ares e os cabelos de Helena junto. – "Por que eu sempre caio na sua conversa?"
"Conta outra, Cardoso." - Ela riu, digitando em seu computador em uma velocidade que sugeria que a carga de trabalho já era muito grande. - "Você curtiu, não tenho culpa se não sabe beber e está de ressaca hoje. Pegou o número daquela ruiva?"
Natália meneou a cabeça em negativa.
"Não." - Ela deu um meio sorriso. - "Ficamos ontem e acabou, sabe que não quero relacionamentos agora."
"Você tem que superar esse lance da Sylvia, Cardoso!" - Helena ralhou. - "Já fazem quase dois anos!"
Natália suspirou. Sylvia era sua ex-mulher e a primeira namorada que Natália teve, quando finalmente se assumiu lésbica. Era completamente apaixonada por ela e tinha aquela doce ilusão de que o amor duraria para sempre, por isso se casou com a mesma e tinha uma vida feliz ao seu lado. Até que a encontrou na cama com um de seus melhores "amigos". Desde então, preferia não se aventurar em relacionamentos. Vinha vivendo uma vida solitária, porém bem agitada.
"Já superei, Helena!" - Ela ajeitou a postura. - "Eu só não estou a fim de me prender a ninguém. Não é porque você está namorando que sou obrigada a namorar também."
Helena riu, levando as mãos ao ar em um gesto de rendição.
"Tudo bem, eu desisto! Pode morrer solteira em sua mansão gótica, senhorita."
"Idiota..." - Natália riu. - "Vamos a cafeteria? Preciso de um café forte."
"Por que não pede a uma de suas estagiárias?" - Helena disse, com um sorrisinho safado no rosto. - "Tenho certeza de que elas ficariam honradas em te servir e aquela ruivinha é uma graça."
Natália revirou os olhos.
"Não pego estagiárias Helena, não sou você." - Ela riu. - "Aliás, o Sr. Ulisses já sabe que você está namorando essa garota?"
Helena meneou a cabeça em negativa, rindo.
"Não."
Natália semicerrou os olhos.
"Uma mulher com mais de trinta anos na cara pegando universitárias... Olha Helena, você já foi melhor."
"O que eu posso fazer se o destino quis assim?" - Ela disse, se levantando de sua cadeira e indo em direção a amiga.
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Blackout | Narol
FanfictionNatália Cardoso é uma designer e ilustradora de sucesso e trabalha em uma das maiores editoras do país. Tudo vai bem em seu trabalho até que uma certa mulher, que é ninguém menos que a esposa de seu chefe, passa a se insinuar para ela fazendo propos...