Distância

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Carol acordou um pouco perdida. Abriu os olhos lentamente e murmurou um palavrão ao perceber que não estava em sua casa. Seus olhos estavam pesados de tanto chorar e ela ainda tinha a visão um pouco turva enquanto observava a decoração minimalista do que havia sido seu quarto nos tempos de solteira. Se sentou na cama e aos poucos foi se recordando de tudo o que havia acontecido na noite anterior, sentindo uma dor imensa invadir seu peito. Como gostaria que tudo aquilo não passasse de um pesadelo.

Quando finalmente chegara à casa dos pais na madrugada anterior, eles já estavam dormindo. Usou sua chave reserva, se serviu de um copo de whisky e foi direto para o quarto, onde colocou para fora todo o seu pesar e sofrimento em forma de lágrimas. Era estranhamente reconfortante poder chorar sozinha, sem ninguém para perguntar como ela se sentia ou dizer para que não ficasse daquele jeito. Tudo o que ela pensava durante seu sofrimento noturno era que queria o divórcio, queria Natália de volta naquele mesmo minuto! Mas então se lembrava de tudo o que seu "casamento" envolvia e percebia que naquele caso, querer infelizmente não era o mesmo que poder. Teve uma enorme vontade de ligar para Natália e pedir que ela reconsiderasse, mas não seria justo com ela. Por mais doloroso que pudesse ser, Carol entendia o lado da morena e não queria causar mais sofrimento do que já havia causado. No fundo, ela sempre soube que os termos daquela relação não seriam suficientes para Natália (eles nem mesmo eram suficientes para ela!). O que tentou, de forma inconsciente, foi adiar o inevitável. Por fim, ela mal se lembrava do momento em que finalmente caiu no sono, mas pela luz ofuscante que entrava pelas janelas, já era tarde. Batidas suaves na porta a tiraram de seu devaneio.

"Entre..." – Ela murmurou, observando a porta se abrir lentamente, revelando uma Ester preocupada.

"Filha..." – A mulher de cabelos loiros se aproximou de Carol, se sentando na cama. – "O que houve? Eu e seu pai nos levantamos agora e vimos sua bolsa no sofá." – Olhou ao redor e viu a mala de Carol próxima a sua escrivaninha. – "O que aconteceu? Você está com uma cara péssima..." – Ela apoiou a mão sobre a perna de Carolina, que estava sob o edredom.

Carol respirou fundo, tentando engolir o choro. A voz suave e reconfortante de sua mãe sempre parecia a levar as lágrimas.

"A Natália..." – Ela começou em uma voz baixa. – "...terminou comigo ontem." – Disse, sentindo as lágrimas tomarem seu rosto.

Ester meneou a cabeça em negativa.

"Carol..." – Começou a falar, afagando sua perna. – "...nós já conversamos sobre isso, não concordo com o que você e Ulisses estão fazendo com a vida de vocês. Ninguém pode viver assim." – Concluiu em uma voz branda.

Ester suspirou.

"Eu pensei nisso durante toda a noite, mas é complicado..." – Levou as mãos ao rosto, afastando as lágrimas. – "Você sabe como o papai é, e os pais do Ulisses..." – Ela balançou a cabeça. – "...eles conseguem ser ainda piores!" – Disse em um soluço. – "Eu não aguento mais isso, sabe? Eu finalmente encontrei alguém que me ame, e eu a amo tanto... você não faz ideia!" – Seu olhar encontrou o da mãe e mirar aqueles olhos compreensivos a deixou ainda mais emotiva. – "Não ser capaz de viver esse amor me faz sentir tão... morta por dentro!"

Ester sorriu, se aproximando um pouco mais e secando suas lágrimas.

"E quem disse que você não pode viver esse amor, Carol?"

Carol revirou os olhos.

"Isso é bem óbvio, mãe... Por favor." – Disse, aborrecida. – "Além de tudo, tem a editora... com certeza a tirariam de nós." – Concluiu, pensando que ela já estava pouco se importando com aquela empresa, ainda que amasse o que fazia. Seu maior empecilho no momento era saber que não se tratava só dela, mas também de Ulisses, que ficaria louco com a remota possibilidade de perder o patrimônio.

Blackout | NarolOnde histórias criam vida. Descubra agora