A proposta

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Pontualmente as nove da manhã, Fernanda Campelo adentrava os prédios da editora vestida em um terninho caro, no alto de seus saltos, os longos cabelos ondulados jogados "casualmente" sobre o ombro direito. Entrou no elevador a passos decididos e pressionou o botão que levava a cobertura com um sorrisinho nos lábios. Deu uma conferida no espelho, enquanto sentia a leve sensação de deslocamento andar acima. Ela estava ótima e aquilo era sem dúvida primordial. Pelo pouco que percebera na última vez em que esteve naquele prédio, o "lance" entre Carolina Soffredini e a designer havia acabado e ela não estava disposta a perder tempo. Pensava em como finalmente abordaria Carol quando as portas se abriram, dando acesso ao hall de entrada. Andou elegantemente até o balcão da recepcionista.

"Bom dia, Tamires." – Disse em um sorriso ensaiado. – "Tenho uma reunião as nove com a Sra. Soffredini."

"Bom dia Srta. Campelo." – Tamires lhe dirigiu um sorriso simpático e teclou algo em seu computador. – "A reunião será na sala um, com o Sr. Marcondes Soffredini. Já está a sua espera."

Fernanda murchou, ainda que não tenha deixado transparecer em sua expressão. Por que diabos Carol não estava ali? Todo o tempo que passara se arrumando, de repente escorrendo pelo ralo. Percebeu que Tamires esperava alguma reação de sua parte e sorriu sem graça.

"Tudo bem..." – Passou as mãos nervosamente pela lapela de seu blazer. – "...diga que estou a caminho."

Tamires assentiu, um enorme sorriso no rosto. De repente, Fernanda sentiu raiva da mulher que nada tinha a ver com a situação. Por que ela tinha que sorrir tanto?

Empurrou a porta da sala de reuniões e lá estava o velho Marcondes Soffredini. Um senhor simpático, apesar de não estar em sua lista de pessoas favoritas da vida.

"Srta. Campelo!" – Ele a saudou, levantando-se para cumprimentá-la com um aperto de mãos. – "Sente-se, por favor." – Olhou desajeitadamente para a pilha de papéis sobre a longa mesa, em seguida, mexeu no Ipad como se a qualquer momento ele fosse criar pernas e sair andando. – "Vejo que temos alguns assuntos a tratar." – Disse, sentando-se na extremidade da mesa.

Fernanda assentiu e se sentou, agora suas mãos suavam. Onde estava Carol Soffredini?

"Na verdade, são alguns poucos contratos." – Ela respondeu em um sorriso torto e prosseguiu com a reunião, que ocorreu bem, a não ser pela cara de poucos amigos da mulher, que não passou despercebida a Marcondes Soffredini.

"Algum problema, Srta. Campelo?" – Ele perguntou, reunindo suas coisas.

Ela remexeu nervosamente na manga do blazer. Ao mesmo tempo em que queria perguntar, não sabia a impressão que passaria ao homem.

"Nenhum..." – Disse, da forma mais casual que conseguiu, passando a mão pelos cabelos. – "Está tudo bem com a Carol? Ela é quem costuma me receber." – Não se conteve.

Uma carranca tomou o rosto de Marcondes e ela se assustou. Por um momento, pensou que o homem a mandaria se foder e sair dali imediatamente, mas então ele apenas respirou fundo e falou em uma voz que mesclava raiva e decepção:

"Ana Carolina Soffredini não trabalha mais nesta empresa."

Fernanda sentiu seu estômago revirar e ficou tão pálida que precisou se sentar novamente.

"Srta. Campelo?" – Marcondes se aproximou, observando com horror a cor da mulher sumir. – "Srta. Campelo? A senhora está bem?"

Fernanda fez que sim, fazendo um sinal para que ele ficasse onde estava.

"Me sinto bem, foi só..." – Ela levou a testa. – "...só um mal-estar, cheguei atrasada para a reunião e ainda não tomei café."

"Sendo assim, me acompanhe até a cafeteria." – Ele disse, a ajudando com suas coisas. – "Preciso mesmo me colocar a par dos trâmites entre esta editora e sua fábrica."

Blackout | NarolOnde histórias criam vida. Descubra agora