Brincar de casinha

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"Carol..." – Natália disse em uma voz rouca, assim que seus lábios se separaram, fitando os olhos verdes que a olhavam com uma mistura de excitação e medo. – "Por que está dizendo isso?" – Ela perguntou, bem próxima aos seus lábios, o coração batia forte com aquela súplica repentina, as mãos firmes na cintura delicada.

"Eu..." – Ela começou.

"Natália!" – Um Ulisses animado irrompeu pelo hall de entrada, fazendo a morena tirar as mãos de sua cintura em um gesto automático. – "Você não vai acreditar, venha aqui já!" – Pela animação de Ulisses, devia ser algo relacionado a editora, Natália pensou. Tomou o rosto de Carolina entre as mãos e a beijou suavemente.

"Eu já volto." – Sussurrou em seus lábios e foi em direção a voz de Ulisses.

Carol foi em direção ao bar, onde Carlinhos se servia de Whisky e direcionou um copo para que ele a servisse. Se sentou no sofá e ficou ali, pensativa, enquanto ouvia ao longe a voz de Ulisses contando algo a Natália. Não estava entendendo o que estava sentindo por aquela mulher. Sabia que estava apaixonada, soube isso desde o primeiro momento em que seus lábios se encontraram, mas o medo que ela sentia em somente pensar que ela poderia desistir de estar ao seu lado, era um sentimento totalmente novo. Ouvir a menção a sua ex-mulher, que havia mexido tanto com ela a ponto de tê-la considerado "a mulher de sua vida", a enchera de uma angústia tão grande que a fez perder os sentidos. "Não me deixa." Como pôde ter deixado as palavras escaparem assim, sem filtro? Quem estava se tornando? Respirou fundo e se obrigou a relaxar um pouco mais quando a morena se aproximou com um sorriso no rosto, se sentando ao seu lado.

"Ulisses está animado!" – Natália disse, parecendo tão animada quanto ele. – "Parece que teremos alguns autores renomados entrando na editora."

"Me deixe adivinhar..." – Carol colocou uma mão o queixo de forma teatral. - "Quem vai fazer as capas?" – Ela perguntou, já sabendo a resposta.

"Eu mesma." – Ela piscou, se sentando em um dos cantos do sofá e a puxando para entre suas pernas, sentindo uma sensação gostosa quando a Carol apoiou a cabeça em seu peito.

"Você arrasa..." – Carolina disse, acariciando a mão que agora envolvia sua cintura. – "Aonde eles foram?" – Perguntou, estranhando o silêncio. Com Ulisses e Carlinhos a casa nunca ficava calma daquela forma.

"Acho que para a casa de Carlinhos." – Natália respondeu, a beijando no rosto.

"Hum..." – Ela ficou ali, sentindo o corpo quente envolver o seu enquanto refletia. Estar daquela forma com Natália era tão natural que por vezes ela tinha a sensação que sempre estiveram juntas. Esse pensamento fez com que a conversa que ouvira na escada voltasse a sua mente. – "Como foi ontem no bar?" – Perguntou.

"Foi divertido..." – Natália beijou seu pescoço, a fazendo estremecer um pouquinho. – "Mas eu queria que você estivesse lá." – Disse, acariciando de levinho sua barriga sobre o vestido.

"Eu também queria estar lá..." – Ela disse baixinho, deitando a cabeça em seu ombro. E como queria estar, pensou. Não gostava nada de saber que a morena esteve no mesmo ambiente da tal ex-mulher sem ela.

Natália sentiu os pelinhos de sua nuca eriçarem ao sentir a respiração suave em seu pescoço, lenta, mas pesada. Desde que chegara, ela vinha percebendo que Carol não estava agindo de forma natural, ainda que tentasse. Parecia longe, perdida em pensamentos e aquilo a estava preocupando.

"Carol..." – Ela perguntou, acariciando seus cabelos. – "Me diz, porque está assim?"

Natália a sentiu respirar fundo, enlaçando seu corpo em um abraço apertado. Sentiu um súbito medo do que viria a seguir, mas se obrigou a esperar sem nada dizer. Carol, por outro lado, estava com medo de tocar no assunto, mas ali, aconchegada a seu corpo, se sentiu segura para se expressar.

Blackout | NarolOnde histórias criam vida. Descubra agora