Sombras

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"Estranha, onde esteve durante todo o fim de semana?" – Uma Helena com os cabelos surpreendentemente arrumados em um coque ralhava em frente a sua mesa. Natália vestia uma de suas calças jeans, uma blusa preta e uma jaqueta de couro por cima. – "Quer dizer, me some o fim de semana inteiro e aparece hoje como se nada tivesse acontecido." – Ela se sentou em uma das cadeiras.

Natália riu, sem deixar de olhar para o monitor.

"Helena, não exagere." – Ela deu de ombros, continuando a desenhar uma de suas capas acumuladas da semana passada. – "Eu só não estava bem."

Helena semicerrou os olhos.

"Ok, vou fingir que engoli essa, Cardoso." – Ela deu um meio sorriso. – "Com certeza arrumou um rabo de saia."

Natália nada disse, apenas espremeu os lábios em um sorriso. Por mais que quisesse, não poderia nem sonhar em contar nada a Helena. Na verdade, não poderia nem sonhar em contar nada a ninguém. Naquele dia, enquanto se arrumava para o trabalho, percebeu que seus dias na empresa seriam diferentes dali a frente, e ela teria que tomar mais cuidado com os olhares e comentários, principalmente na frente da ruiva.

"Vamos na cafeteria?" – Helena tamborilou os dedos na mesa, impaciente. – "Larga um pouco isso aí."

Natália mirou um ponto em seu monitor, concentrada.

"Só... um minuto Helena." – Ela fez alguns ajustes. – "Pronto." – Desligou o monitor e se levantou. – "Vamos, preciso mesmo de um café forte."

Ao chegarem na cafeteria no prédio, fizeram seus pedidos e se sentaram em sua habitual mesa.

"E a estagiária?" – Natália perguntou, bebericando seu café. – "Voltou?"

Helena meneou a cabeça em negativa.

"Lorena disse que ela pediu demissão." – Ela disse, procurando parecer indiferente. – "Vão contratar outras duas hoje à tarde."

Natália riu.

"Você realmente acabou com a garota." – Ela meneou a cabeça em negativa enquanto Helena revirava os olhos. – "Vê se coloca algum juízo nessa cabeça dessa vez."

Então viu Helena olhar por sobre seu ombro. Um sorrisinho sacana aparecendo em seus lábios.

"Opa..." – Ela disse, brincalhona. – "Seu probleminha chegou, Cardoso."

Natália nem se deu o trabalho de olhar. Sabia muito bem quem era. Sentiu seu estômago revirar, ela não olharia mesmo. Não fazia ideia de como reagiria.

"Será que ela vem aqui na mesa hoje de novo?" – Helena perguntou, um sorriso safado nos lábios. – "Se bem que pela forma como se bicaram na sexta, é bem provável que ela não venha."

"Pois é." - Natália deu de ombros, tentando agir com a maior naturalidade possível e falhando miseravelmente.

"Ela está olhando para cá, Cardoso."

Natália respirou fundo. Deus, estava quase se virando para olhá-la, só havia resistido ao impulso até aquele momento por puro medo do que veria.

"Dá pra parar, Helena?" – Ela disse, indicando a xícara da amiga com a cabeça. – "Termine logo isso, estou cheia de trabalho lá em cima."

Helena riu, se levantando e pegando a xícara.

"Então vamos subir, depois trazemos isso de volta."

"Não." - Natália pensou, percebendo que teria que se levantar.

"Vamos, não tenho todo o tempo do mundo..." – Helena a encarou, pensativa. – "O que você tem hoje, Cardoso?"

Natália suspirou e se levantou, sabia onde Carol estava, a via pela visão periférica. Não resistiu e deu olhada, se deparando com os olhos verdes a encarando. Estava linda, em um terninho preto, os cabelos perfeitamente escovados e a maquiagem como sempre, impecável. Viu a sombra de um sorriso aparecer em seus lábios e não pode evitar espremer os seus próprios em um sorrisinho, a observando corar um pouco.

Blackout | NarolOnde histórias criam vida. Descubra agora